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domingo, 7 de junho de 2015

Quando a intolerância religiosa mata dolosamente

Quando a intolerância religiosa mata dolosamente

Aos 90 anos de idade, morreu Mãe Dede de Iansã, do Terreiro de Oyá.
Mas Mãe Dede não faleceu de morte natural. Foi assassinada, de forma premeditada e cruel.
A ialorixá mais idosa de Camaçari, foi mais uma vítima da crescente intolerância religiosa que contamina o país.
Tudo começou há cerca de um ano, quando a bendita "Casa da Oração" resolveu instalar-se nas proximidades do terreiro de candomblé.
Imediatamente após a inauguração, estimulados por pastor Lucas, fiéis da seita evangélica iniciaram rituais de hostilização à casa religiosa e também à mãe Dede.
Comandados pelo fanatismo religioso, desordem pública, ofensas e perseguição a devotos da religião de matriz africana, passaram a ser uma constante na Rua da Mangueira na localidade de Areias.
A violência gratuita e incessante fez com que o caso fosse parar na polícia. Com o registro de ocorrência na 26ª Delegacia de Vila de Abrantes, no último dia 15 de maio, foi determinada audiência para apurar a denúncia de ameaça, injúria e intolerância religiosa.


No entanto, infelizmente, Mãe Dede não conseguiu acompanhar a condenação dos culpados.
Durante a noite do último sábado, 30, e a madrugada de domingo, 31, fanáticos da seita, em transe coletiva, promoveram uma vigília de "Libertação" com o intuito de reforçar as injúrias à sacerdotisa.

Horas a fio, aos berros de "queima essa satanás, liberta senhor, destrói a feitiçaria" integrantes da seita - alucinados - rogaram pragas, ameaças e maldições para a dirigente do centro religioso de cultura africana.
Como resultado, com muito medo e nervosa devido à gravidade dos impropérios - após noite sem dormir - a nonagenária sacerdotisa sofreu infarto do miocárdio e faleceu durante as agressões psicológicas.
Agora cabe a polícia e à justiça buscarem apuração e condenação deste crime dolosamente premeditado de intolerância e injúria religiosa.
- See more at: http://revistalivre.com.br/colaboradores/marcelo-ferrao/item/1021-quando-a-intolerancia-religiosa-mata-dolosamente.html#sthash.FwaM8OJ0.dpuf

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

SECRETÁRIO DE SEGURANÇA DO RIO DIZ À UMBANDISTAS QUE MANDARÁ INVESTIGAR OS CASOS DE INTOLERÂNCIA RELIGIOSA.


Em longa reunião no último dia 12 de setembro, na Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro com o secretário Mariano Beltrame, o deputado Átila Nunes e seu filho, o coordenador do Movimento da Juventude Umbandista, Átila Alexandre Nunes, pediram providencias para que sejam retirados do ar os sites que estimulam o ódio religioso. Pediram ainda à Beltrame que os delegados e demais policiais lotados nas delegacias de todas as cidades fluminenses, recebam orientação específica para identificarem crimes de intolerância religiosa, que hoje são registrados apenas como "briga de vizinhos".
Átila Alexandre Nunes pediu ao secretário a intervenção da Delegacia de Repressão Contra Crimes de Propriedade Imaterial, que investiga crimes perpetrados através da internet.
"É impressionante a quantidade de sites e blogs que estimulam o ódio religioso contra os umbandistas e candomblecistas, mostrando cenas deturpadas, declarações discriminatórias, preconceituosas, que levam fieis fanáticos a agredirem nossos irmãos de fé, apedrejarem os centros e destruírem seus altares"- destacou indignado o coordenador do Movimento da Juventude Umbandista.
Já o deputado Átila Nunes, manifestou sua preocupação com os registros efetuados nas delegacias policiais. "Quase todos os registros são feitos como brigas entre vizinhos, quando na verdade, é mais do que isso: trata-se de inequívoco crime de vilipêndio religioso" - disse.
O parlamentar acha que a saída é preparar os policiais das delegacias onde incidem com frequência os crimes de agressões religiosas, a exemplo do que foi feito com os crimes de homofobia que antes, eram registrados apenas como desentendimento comum.
O secretário Beltrame disse que pedirá à Chefe da Policia Civil, delegada Martha Rocha para tratar do assunto, já que policiais precisam ser orientados a identificar os crimes de intolerância religiosa e não interpretá-los como simples conflitos de vizinhos.
Quanto aos crimes através da internet, usada por fanáticos de seitas eletrônicas para estimular ações violentas contra membros de outras religiões, Beltrame imediatamente agendou uma reunião do coordenador do Movimento da Juventude Umbandista com o delegado titular da Delegacia de Repressão Contra Crimes de Propriedade Imaterial, órgão responsável pela identificação dos responsáveis por esses sites e blogs.
Ele garantiu ao coordenador Átila Alexandre Nunes, que a equipe da Polícia Civil que atua nessa área é muito competente e chegará facilmente aos autores dos atos de vilipendio religioso.
O secretário Mariano Beltrame, que se notabilizou nacionalmente por diminuir o índice de criminalidade no Rio, desmantelando organizações criminosas e implantando as Unidades Pacificadoras nas favelas e comunidades, disse que "o mais importante é manter a paz entre os praticantes de todas as religiões professadas no Rio de Janeiro".

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Igreja evangélica demoniza Cosme e Damião, mas vai distribuir guloseimas .


Um grupo de evangélicos está tirando doce de criança com uma mão para dar com a outra. A troca acontece em pleno Dia de São Cosme e São Damião, comemorado em 27 de setembro na cultura popular. E dentro da igreja Projeto Vida Nova, na Vila da Penha, onde os pastores “convidam” mil meninas e meninos a entregar-lhes os saquinhos que conseguiram na rua para receber outros, “abençoados por Deus”.
- É apenas um convite. Só entrega os doces quem quer. Geralmente, os saquinhos são queimados, representando fim de todo o mal que, por ventura, foi direcionado às crianças - avisa o pastor Isael Teixeira.
O pastor Isael Teixeira diz que sua igreja pede para trocar o doce abençoado pelo amaldiçoado
O pastor Isael Teixeira diz que sua igreja pede para trocar o doce abençoado pelo amaldiçoado Foto: Fernanda Dias / Extra
Ele conta que geleia, pipoca doce, bananada e pirulito chegam às mãos de oito a dez mil crianças, nos 70 templos da unidade, ao lado de uma surpresa: a Bíblia. É para comer “orando”.
- A gente pede para trocar o doce abençoado (da igreja) pelo amaldiçoado. Nosso projeto é um meio de trazer as crianças (que não são evangélicas) para o bem, livrando-as do mal. Se a criança come doce (de rua), pode plantar uma semente dentro dela. Eles (outros religiosos) invocam os espíritos para que entrem nos doces - diz.
Além dos doces, a igreja Projeto Vida Nova oferece uma Bíblia
Além dos doces, a igreja Projeto Vida Nova oferece uma Bíblia Foto: Fernanda Dias / Extra
A entrega dos sacos gospel é promovida na igreja há mais de 20 anos. Três deles com a presença da cabeleireira Raquel Cristo, de 36 anos, uma fiel convertida.
- Se alguém dá doce para meu filho na rua, eu até pego para não fazer desfeita. Mas depois jogo fora. Minha mãe foi espírita e nós vivíamos doentes. Ela fazia mesa de doces de Cosme e Damião e chamava sete crianças para comê-los. Hoje, acredito que a função disso era transferir a nossa doença para elas.
Para o presidente da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), babalaô Ivanir dos Santos, a ação evangélica “dá sentido a uma mentira”.
- Estão fazendo troca simbólica com as crianças porque, no fim das contas, também dão doces. Demonizar a fé de outra religião e ter um mesmo sentido, que é o doce, é um ato de intolerância. E isso, sim, é pecado.
O padre José Roberto Devellard critica a medida da igreja evangélica
O padre José Roberto Devellard critica a medida da igreja evangélica Foto: Fernanda Dias / Extra
A vice-presidente do Movimento Umbanda do Amanhã (Muda), Marilena Mattos, concorda.
- Isso é um fiel retrato da intolerância religiosa. Eles estão mostrando que não aceitam a Umbanda como religião, pois estão denominando nossos rituais como sendo do mal - defende.
Outra casa de Deus onde também há entrega de doces é a católica Paróquia da Ressureição, no Arpoador. Mas algumas crianças atendidas lá ouviram que os saquinhos seriam do diabo.
- Algumas disseram que a professora falou isso. Esse fanatismo de alguns evangélicos pode nos levar a um extremismo. Incutem o medo nas crianças ao dizer que o doce é do diabo. E isso não é de Deus - diz o padre José Roberto Devellard.
Psicóloga especializada em crianças, Katia Campbell diz que as polêmicas religiosas não conseguem competir com o verdadeiro interesse dos pequenos.
- As crianças não entendem isso. Elas só querem o doce.
Intolerância assusta
SurpresaO padre José Roberto Devellard, da Paróquia da Ressurreição, no Arpoador, conta que ficou impressionado quando uma menina, sem saber quem ele é, lhe disse que os saquinhos de doce não são de Deus.
Um novo cicloO pastor Isael Teixeira diz que a partir de amanhã pode ser aberto um ciclo de trabalhos em cima de crianças e jovens, já que São Cosme e São Damião são festejados pela igreja católica no dia 26; na Umbanda e no Candomblé, no dia 27, e na igreja ortodoxa em 1º de novembro.
RecadoNo lugar da foto dos santos gêmeos, o saco de doces do Projeto Vida Nova, na Vila da Penha, estampa a frase: “Jesus, o único protetor das crianças”.
LiberdadeA troca de sacos de doce na igreja evangélica não é um ato de intolerância religiosa, afirma o pastor Isael Teixeira. “Temos a liberdade”, alerta.
Igualdade“Nossos doces são tão iguais ao dos pastores. Vamos à loja, compramos, enchemos os saquinhos e distribuímos às crianças. Não há nada que faça mal a elas. Respeitamos a distribuição de doces deles, mas repudiamos a troca dos saquinhos”, diz pai Renato de Obaluaê, presidente da Irmandade Religiosa de Cultura Afro-Brasileira.
Divergência“O problema não é dar doce, mas trocar os sacos”, opina o babalaô Ivanir dos Santos.



sábado, 14 de julho de 2012

NOTA DE REPÚDIO AO PRECONCEITO E INTOLERÂNCIA RELIGIOSA


O Instituto Cultural Aruanda (ICA), em nome de seu presidente Rodrigo Queiroz, de seus membros, alunos,parceiros e de toda comunidade umbandista, vem por meio desta nota manifestar repúdio ao posicionamento tomado pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) no programa Exército Universal, exibido pela Rede Record e pela IURD TV,e divulgado na internet em 07/06/2012, no qual um vídeo de palestra ministrada por Rodrigo Queiroz sacerdote de Umbanda na cidade de Bauru (SP) gravado no ICA – Templo em 05/02/2010 (integrante da série Gira Aberta, produzida pela TV Umbanda Sagrada)foi utilizado sem prévia autorização,para agredir, ofender e desmoralizar a Umbanda,bem como outras religiões de matriz africana, seus seguidores, suas entidades sagradas e seus sacerdotes, além do próprio presidente do ICA.
Uma vez que não só a utilização deste material sem autorização, mas sobretudo o preconceito, perseguição e intolerância religiosa são crimes previstos em lei, o ICA informa que está tomando todas as providências judiciais cabíveis frente a este infeliz incidente, divulgado ao vivo em rede nacional, a fim de conquistar o direito de resposta do instituto. “Lutamos para engrandecer a bandeira da Umbanda há oito anos. O ICA vem desenvolvendo um trabalho sólido, contínuo e crescente em vários campos da religião e da sociedade, e não é de hoje que estamos estafados da truculência, dos crimes e da incitação ao ódio preconizados pela IURD. Sabemos que fomos apenas um rápido alvo em meio a tantas ações depreciativas, mas nem por isso ficaremos em silêncio”, declarou Rodrigo Queiroz.
Para que mais este crime contra a comunidade umbandista não fique oculto, pedimos o apoio da mídia, parceiros, irmãos de fé e de toda a sociedade na divulgação deste ocorrido. O trecho do programa exibido pela IURD TV pode ser acessado em http://www.youtube.com/watch?v=lnPlkZFM9Q4&feature=player_embedded;
já o vídeo original na íntegra da palestra ministrada por Rodrigo Queiroz está disponível emhttp://www.youtube.com/watch?v=xwkLjSjhutY&list=UUWS3zYgt5HsuUuV0fZ1fPMg&index=1&feature=plcp.

Atenciosamente,

Rodrigo Queiroz
Presidente do ICA.



Visite RBU - Rede Brasileira de Umbanda em: http://www.rbu.com.br/?xg_source=msg_mes_network

quinta-feira, 14 de junho de 2012

O (falso) pai de santo, a mídia e o CONAR

Pai Bruno foi preso por policiais do Leblon

Por: Rosiane Rodrigues - 13/6/2012
A prisão de Edmar Santos de Araújo – o pai Bruno – por extorsão e formação de quadrilha deveria servir para que os sacerdotes de matrizes africanas tomassem uma postura junto aos muitos classificados de jornais que publicam anúncios cada vez mais surpreendentes sobre os ‘trabalhos espirituais’ que fazem e desfazem qualquer coisa.
Edmar (ou pai Bruno de Pombagira) foi preso ao extorquir uma cliente. Ele prometia trazer o amor perdido de volta, em – Pasmem! - cinco horas. E cobrava caro! O fato, veiculado por quase todos os veículos de comunicação do Rio de Janeiro, nesta quarta-feira (13/06), propõe que a mídia e os religiosos repensem sobre as ignorâncias e desconhecimentos que grassam sobre as muitas práticas religiosas de origem africana que permeiam o imaginário da população. Para muitos é apenas menos um marmoteiro em ação.

Para quem não sabe o que significa marmoteiro, eu explico: na linguagem dos adeptos e iniciados dos cultos dos orixás, voduns e inkices (e também dos umbandistas) é aquele que se diz sacerdote, se faz passar por sacerdote, mas não é nem nunca foi um sacerdote.

É um espertalhão, que se aproveita da ignorância da grande maioria das pessoas sobre os princípios que regem a vida dos religiosos de matrizes afro. O objetivo? Cobrar por coisas que nem Deus se prontificaria a fazer. Em resumo, é um estelionatário das práticas ancestrais dos espíritos africanos.

Há muito que os religiosos tradicionais da Umbanda e do Candomblé denunciam esses falsos sacerdotes. Nada incomoda mais uma iyalorisá, um ogan, uma ekedji – ou aqueles que conhecem um pouco mais de perto os ritos e práticas de matrizes africanas – que esses marginais do astral.

E não adianta dizer que estou exagerando: Marginais, sim! Uma corja que não apenas lesa os mais desavisados (em busca da resolução de seus problemas), mas que humilha os afro-religiosos com anúncios ridículos que prometem até teletransportar os amores perdidos. Pensa bem, gente!

Ninguém com o trânsito caótico do Rio de Janeiro ou São Paulo chega a lugar nenhum em cinco horas. Só de helicóptero ou teletransporte (que ainda precisa ser inventado!). Acreditar que uma coisa dessas é possível nem a falta de conhecimento básico sobre os princípios da Física ou do trânsito, explica.

Mas, por que as pessoas acreditam nisso? Será que os sacerdotes da Umbanda e do Candomblé são tão poderosos e macabros que seriam capazes de realizações dessa natureza? Ou seriam eles (os sacerdotes) pessoas dotadas de um conhecimento transcendental tão absurdo que beiraria o cômico? Religião e/ou prática religiosa tem que servir para alguma coisa? Tem que dar resultado? Tem que resolver o problema de uma pessoa que foi desprezada por um amor perdido? Tá certo que o sofrimento deixa muita gente com miopia ou falta de discernimento. E que as práticas rituais das religiões de matrizes africanas são envoltas de 'mistérios' e 'segredos'.

Mas, tem alguma coisa por detrás disso que precisamos refletir.

Não é apenas o desconhecimento da população sobre os princípios religiosos de umbandistas e candomblecistas que faz com que estelionatários abusem de religiões já tão historicamente vilipendiadas. Os veículos de comunicação precisam decidir se propaganda religiosa é igual a publicidade religiosa e/ou venda de serviços.

Propaganda – como o próprio termo explicita – é propagandear ideias ou conceitos sobre determinado assunto ou produto. Ela pode ser feita para construir opiniões sobre partidos políticos, religiões, times de futebol... Publicidade é a venda de uma mercadoria ou serviço. E toda publicidade é passível de regulamentação.

O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR) existe para fiscalizar se um anúncio é idôneo ou não. Se não for, tanto a empresa que anunciou quanto o veículo que publicou são passíveis de pesadas multas. Ora, se um anunciante contrata um espaço de publicidade para vender um serviço religioso ele não está fazendo propaganda (construindo ideias). Ele está anunciando o seu produto para venda. E isso deveria fazer diferença.

Outra coisa que devemos pensar é sobre como controlar esse tipo de anúncio. Se os veículos de comunicação não têm como saber quem é ou não um sacerdote afro-religioso, eles deveriam perguntar a quem de fato deve ter este tipo de conhecimento.

Se não existe uma instituição que represente todos os religiosos de matrizes africanas – como a diocese católica, por exemplo – que os veículos, então, elejam um sacerdote reconhecido pela sociedade para que ele possa atestar que o possível anunciante dos classificados não é apenas mais um estelionatário. Mudança de atitude? Sim. Mas só porque a mídia – e as nossas relações com o que é divulgado nos veículos de comunicação, em tempos globalizantes – mudou.

O que é informado - nos jornais, rádios, TVs e revistas - é entendido como verdade pelos leitores/ouvintes/espectadores. Mesmo que a informação esteja no caderno de classificados. Isso porque quem não é jornalista ou publicitário não tem a obrigação de saber o que é assunto noticioso ou o que é anúncio. Os Informes Publicitários são caríssimos porque fazem publicidade com ares de notícia... Este é um dos nós contemporâneos que os veículos de comunicação respeitáveis deveriam tentar desatar.

Se por um lado, a Umbanda e o Candomblé são expressões religiosas legítimas e autênticas dos brasileiros, por outro, a grande maioria da população desconhece o que efetivamente esses religiosos fazem.

O problema é que desconstruir o senso comum – do estereótipo, do folclore, da discriminação – que rondam essas religiões deveria ser também assunto dos veículos de comunicação que efetivamente se comprometem com a liberdade de expressão - que não é sinônimo de irresponsabilidade com os leitores, suas fontes e anunciantes.

TV GLOBO CORRIGE NOTÍCIA SOBRE FALSO PAI DE SANTO


A TV Globo em seus noticiários de hoje, 14 de junho, reconheceu seu erro na divulgação de uma noticia em que um falso pai de santo foi preso em Nilópolis (RJ) por extorquir " clientes" afirmando trazer a " pessoa amada" em 3 horas.
O Movimento da Juventude Umbandista, coordenado por Átila Alexandre Nunes, enviou ontem àquela emissora de TV, a nota abaixo:
Senhor Editor-Chefe de Jornalismo da Rede Globo de Televisão,
O noticiário de hoje aponta Edmar Santos de Araújo, o Pai Bruno da Pombagira, preso em Nilópolis (RJ) por extorsão, como " pai de santo". Ele não é e nunca foi diretor de culto umbandista. Não tem um centro com médiuns, nada. Trata-se apenas de um oportunista que se fazia passar por dirigente de centro.
Por isso, encarecemos, em nome do Movimento da Juventude Umbandista, que seja corrigida a divulgação, nominando o criminoso como falso pai de santo.
É assim que ocorre com os falsos médicos, pastores e padres, que se valem da ingenuidade e boa fé das pessoas.
Por último, lembro que não existe dentro do culto umbandista qualquer prática de trazer a "pessoa amada". Este não é o objetivo da nossa religião.
ÁTILA ALEXANDRE NUNES
Movimento da Juventude Umbandista
Hoje, no seu primeiro noticiário, o " Bom Dia Rio" , faz a correção. Assista:

Preso pai de santo que prometia trazer o amor em três horas.

Delegada Flavia Monteiro e Edmar Santos de Araújo, o Pai Bruno de Pombagira

Policiais civis da 14ª DP (Leblon) comemoraram o dia dos namorados colocando atrás das grades uma quadrilha de estelionatários que aplicava golpes em pessoas emocionalmente abaladas. Com a alcunha de Pai Bruno de Pombagira, Edmar Santos de Araújo, de 23 anos, prometia “trazer a pessoa amada em três horas”. Ele e um comparsa foram presos na noite desta terça-feira e na madrugada de quarta, aplicando um golpe em um morador do Arpoador. A quadrilha, que ainda contava com o apoio de duas secretárias, extorquiu quase R$ 2 mil da vítima, através de três pagamentos, sempre com a desculpa de que o Diabo e demônios queriam mais dinheiro para que o trabalho fosse realizado.

De acordo com a delegada adjunta da 14ª DP, Flávia Monteiro, a vítima procurou a delegacia na tarde desta terça-feira para registrar a ocorrência. Segundo o depoimento, no domingo, a vítima entrou em contato com Pai Bruno para que ele o ajudasse a reatar um antigo relacionamento. Para que o serviço fosse feito, o religioso cobrou R$ 350.

Para que o pagamento fosse realizado, o motoboy Alex Alberto de Souza, de 26 anos, se encontrou com a vítima no arpoador e pegou o dinheiro. Três horas depois, quando terminou o prazo para que o namoro da vítima fosse reatado, Pai Bruno ligou para a vítima e alegou que, à pedido dos demônios, o serviço só seria terminado se houvesse o pagamento de mais R$ 500. O que foi feito. Alex voltou ao bairro da Zona Sul e buscou o segundo pagamento.
A vítima só se deu conta que estava caindo em um golpe quando Pai Bruno voltou a ligar pedindo mais dinheiro. Nas ligações, o estelionatário alegava que se o pagamento não foi feito o Diabo iria matá-lo e que ele pessoalmente se encontraria com a vítima e varia coisas muito ruins. Dessa vez ele queria R$ 950.

Na delegacia, a delegada Flávia Monteiro pediu que a vítima entrasse em contato com Pai Bruno para que o pagamento fosse realizado. Porém, dessa vez, o golpista solicitou que o pagamento fosse feito através de depósito bancário em uma conta poupança no nome do motoboy. Com certa insistência, o líder da quadrilha aceitou que Alex fosse até o Arpoador buscar o novo pagamento.

Ao chegar no local combinado, às 19h de terça-feira, Alex foi preso em flagrante. Em depoimento, ele contou que não sabia o que Pai Bruno fazia, e que apenas buscava os pagamentos. Ele ainda informou o endereço da casa de Pai Bruno.

Os policiais foram até Nilópolis, na Baixada Fluminense e prenderam Pai Bruno, na madrugada desta quarta-feira. Ele não quis prestar depoimento e só falará em juízo. Ele apenas confirmou que se conseguia trazer o amor em três horas.

Contra ele já havia outros dois registros pelo mesmo crime. Um na delegacia de Niterói e outro na de Comendador Soares. Para atrair clientes, o pai de santo fazia anúncios em jornais. Pai Bruno irá responder por formação de quadrilha e estelionato, e pode pegar até 10 anos de cadeia.

sábado, 29 de outubro de 2011

O triste episódio com Thalma de Freitas

Até quando iremos tolerar a desconfiança contra cidadãos negros ou mestiços por parte de uma visão elitista e conservadora, provinda dos longínquos tempos da escravatura, ao compactuarmos com uma conduta execrável e abjeta, que interpreta pela cor da pele o tratamento a ser direcionado pelo algoz ao réu?
Ao assistir, estupefato, ao episódio vivenciado pela cantora do conjunto Orquestra Imperial, Thalma de Freitas, no noticiário televisivo, lembrei-me de que, habitualmente, parte da população brasileira se refere aos policiais militares como capitães do mato, por estes se dedicarem à captura de marginais homiziados em quilombos/favelas.Em alusão aos negros e mestiços que serviam aos senhores de engenho, em busca de consideração e recompensas pecuniárias, os caçadores de escravos aprisionavam os negros fujões e os arrastavam até a senzala, a fim de que se preservasse a ordem e a propriedade.
Ao descer as ladeiras do Morro do Vidigal, a talentosa artista negra fora abordada por sujeitos fardados possivelmente em sua maioria pertencentes aos mesmos traços e padrões étnicos, que desconfiaram não só de sua procedência; mas, sobretudo, de sua origem racial porque, de acordo com depoimento da vítima, havia no local uma jovem branca que os homens da lei sequer ousaram suspeitar ou pôr em revista.
No romance histórico intitulado O sonho do Celta, Mario Vargas Llosa retrata uma identificação nominal destinada aos indígenas peruanos "castelhanizados", responsáveis pela vigília e aplicação dos castigos ou mutilações nos selvagens recrutados em "correrias" – leia-se, caçadas que sequestravam homens, mulheres e crianças –, para labutação nos seringais amazônicos no início do século 20 – racionais. Sim, alcunhavam desta propícia maneira os silvícolas ameríndios evangelizados e, por conseguinte, aptos a colaborar com os métodos de exploração impostos pelos europeus desbravadores da Floresta Amazônica.
Em retorno ao ofício dos capitães do mato ou indígenas racionais, poder-se-ia concluir que os soldados que detiveram a promissora Thelma de Freitas o fizeram por preconceito étnico ou por uma espécie de revanchismo paradoxalmente contra a própria raça negra? Uma vez que disfarçados de uma autoridade onipresente, os policiais militares se sentiriam no pleno dever de descontar as atrocidades e injustiças antepassadas, que povoaram as suas existências abalroadas de recordações de uma pobre infância de subúrbio ou favela?
Ao que parece o ódio da abominação oriunda de um remoto período de humilhação ainda não foi cicatrizado; entretanto, quando se utilizaram da força bélica de um fuzil ou metralhadora para obrigar uma pessoa pública ao constrangimento de acompanhá-los, dentro de uma suposta legalidade, até a delegacia mais próxima para revista feminina, não imaginavam que a coragem desta mulher negra iria impulsioná-la a denunciar, diante das câmeras em rede nacional, a recorrente prática de desrespeito a que estes incautos guardiões da moral e dos bons costumes estão afeitos a impunemente lidar com os habitantes da cidade do Rio de Janeiro.
Quantos de nós já presenciamos, em blitz, as tais abordagens a negros e mulatos, protagonizadas por membros da guarda estadual da mesma origem racial dos suspeitos incriminados por uma desprezível atitude de autoritarismo diante de um suposto delito de nascença – a negritude ou mestiçagem? Quantos cidadãos anônimos sofrem, cotidianamente, em aterrorizante lei do silêncio, com o abuso de autoridade destes impetuosos cães de guarda mal treinados, que se travestem de capitães do mato ou racionais para, sem educação nem princípios, insultarem o direito de cidadania dos milhares de centenas de trabalhadores fluminenses – frutos da tão decantada miscigenação pátria?
A repulsa da esdrúxula situação impele ao atroz descaso com o ser humano por intermédio do assassínio de sua integridade física e moral, mutilada por irresponsáveis ações já corriqueiras de pessoas detentoras de um direito de ir e vir castrado por um ímpeto de aberrante desobediência constitucional. Até quando iremos tolerar a desconfiança contra cidadãos negros ou mestiços por parte de uma visão elitista e conservadora, provinda dos longínquos tempos da escravatura, ao compactuarmos com uma conduta execrável e abjeta, que interpreta pela cor da pele o tratamento a ser direcionado pelo algoz ao réu? Que não cessem os questionamentos de ordem intelectual mediante mordaz hipocrisia, que marginaliza pelo olhar do inquisidor a serviço da opressão, que aprisiona pelo ato de vil julgamento étnico e que condena pela antilei professada pela discriminação racial.
Para ilustrar o entrevero entre a atriz Thalma de Freitas e os policias militares do Vidigal, quiçá em descabido e secular revanchismo, reporto-me ao livro Memórias póstumas de Brás Cubas, publicado em 1881. Em criança, Brás Cubas fazia o escravo Prudêncio de negro de montaria, com arreios e chicote; e, quando o preto reclamava dos maus-tratos impostos, o sinhozinho branco o repelia com um providencial e supremo: “Cala boca, besta!...”. Anos depois, o memorialista deparou-se com uma curiosa cena em que um homem de cor alforriado humilhava em praça pública, com xingamentos e ameaças, um seu negro cativo, indulgente e beberrão. Entrementes, qual não foi a sua surpresa quando reconheceu o seu antigo animal de montaria de outrora na figura daquele que o parafraseava, pois que o velho e bom Prudêncio, ao retorquir as reclamações do pobre diabo que, aos bofetões e impropérios, era castigado, soberbo e majestoso, obtemperava: “Cala boca, besta!...”.
Wander Lourenço de Oliveira, doutor em letras, é professor da Universidade Estácio e autor dos livros ‘Com licença, senhoritas (A prostituição no romance brasileiro do século 19)’ e de ‘O enigma Diadorim’.