sexta-feira, 29 de junho de 2012

HOJE É DIA DE XANGÔ



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Xa
= Senhor, dirigente
Angô= Raio, fogo, alma
Xangô= Senhor do Raio, Senhor das Almas ou Senhor Dirigente das Almas
São Jerônimo – Xângo Agodô = Rei da Cachoeira, Senhor da Justiça, Rei das Pedreiras, dos Raios e Trovões e das Forças da Natureza.
São Pedro – Xângo Agajô = Protetor das Almas que entram no céu.
São João Batista – Xangô Kaô = Protetor dos que sofrem injustiças, Senhor Chefe das Falanges do Oriente. (Ori=Cabeça) Rei da Cachoeira, Senhor da Justiça, Rei das Pedreiras, dos Raios e Trovões e das Forças da Natureza.
Talvez estejamos diante do Orixá mais cultuado e respeitado no Brasil. Isso porque foi ele o primeiro Deus Iorubano, por assim dizer, que pisou em terras brasileiras.
Xangô é um Orixá bastante popular no Brasil e às vezes confundido como um Orixá com especial ascendência sobre os demais, em termos hierárquicos. Essa confusão acontece por dois motivos: em primeiro lugar, Xangô é miticamente um rei, alguém que cuida da administração, do poder e, principalmente, da justiça – representa a autoridade constituída no panteão africano. Ao mesmo tempo, há no norte do Brasil diversos cultos que atendem pelo nome de Xangô. No Nordeste, mais especificamente em Pernambuco e Alagoas, a prática do candomblé recebeu o nome genérico de Xangô, talvez porque naquelas regiões existissem muitos filhos de Xangô entre os negros que vieram trazidos de África. Na mesma linha de uso impróprio, pode-se encontrar a expressão Xangô de Caboclo, que se refere obviamente ao que chamamos de Candomblé de Caboclo.
Xangô é pesado, íntegro, indivisível, irremovível; com tudo isso, é evidente que um certo autoritarismo faça parte da sua figura e das lendas sobre suas determinações e desígnios, coisa que não é questionada pela maior parte de seus filhos, quando inquiridos.
Suas decisões são sempre consideradas sábias, ponderadas, hábeis e corretas. Ele é o Orixá que decide sobre o bem e o mal. Ele é o Orixá do raio e do trovão.
Na África, se uma casa é atingida por um raio, o seu proprietário paga altas multas aos sacerdotes de Xangô, pois se considera que ele incorreu na cólera do Deus. Logo depois os sacerdotes vão revirar os escombros e cavar o solo em busca das pedras-de-raio formadas pelo relâmpago. Pois seu axé está concentrado genericamente nas pedras, mas, principalmente naquelas resultantes da destruição provocada pelos raios, sendo o Meteorito é seu axé máximo.
Xangô tem a fama de agir sempre com neutralidade (a não ser em contendas pessoais suas, presentes nas lendas referentes a seus envolvimentos amorosos e congêneres). Seu raio e eventual castigo são o resultado de um quase processo judicial, onde todos os prós e os contras foram pensados e pesados exaustivamente. Seu Axé, portanto está concentrado nas formações de rochas cristalinas, nos terrenos rochosos à flor da terra, nas pedreiras, nos maciços. Suas pedras são inteiras, duras de se quebrar, fixas e inabaláveis, como o próprio Orixá.
Xangô não contesta o status de Oxalá de patriarca da Umbanda, mas existe algo de comum entre ele e Zeus, o deus principal da rica mitologia grega. O símbolo do Axé de Xangô é uma espécie de machado estilizado com duas lâminas, o Oxé, que indica o poder de Xangô, corta em duas direções opostas. O administrador da justiça nunca poderia olhar apenas para um lado, defender os interesses de um mesmo ponto de vista sempre. Numa disputa, seu poder pode voltar-se contra qualquer um dos contendores, sendo essa a marca de independência e de totalidade de abrangência da justiça por ele aplicada.
Segundo Pierre Verger, esse símbolo se aproxima demais do símbolo de Zeus encontrado em Creta. Assim como Zeus, é uma divindade ligada à força e à justiça, detendo poderes sobre os raios e trovões, demonstrando nas lendas a seu respeito, uma intensa atividade amorosa.
Outra informação de Pierre Verger especifica que esse Oxé parece ser a estilização de um personagem carregando o fogo sobre a cabeça; este fogo é, ao mesmo tempo, o duplo machado, e lembra, de certa forma a cerimônia chamada ajerê, na qual os iniciados de Xangô devem carregar na cabeça uma jarra cheia de furos, dentro da qual queima um fogo vivo, demonstrando através dessa prova, que o transe não é simulado.
Xangô portanto, já é adulto o suficiente para não se empolgar pelas paixões e pelos destemperos, mas vital e capaz o suficiente para não servir apenas como consultor.
Outro dado saliente sobre a figura do senhor da justiça é seu mau relacionamento com a morte. Se Nanã é como Orixá a figura que melhor se entende e predomina sobre os espíritos de seres humanos mortos, Eguns, Xangô é que mais os detesta ou os teme. Há quem diga que, quando a morte se aproxima de um filho de Xangô, o Orixá o abandona, retirando-se de sua cabeça e de sua essência, entregando a cabeça de seus filhos a Obaluaiê e Omulu sete meses antes da morte destes, tal o grau de aversão que tem por doenças e coisas mortas.
Deste tipo de afirmação discordam diversos babalorixás ligados ao seu culto, mas praticamente todos aceitam como preceito que um filho que seja um iniciado com o Orixá na cabeça, não deve entrar em cemitérios nem acompanhar a enterros.
Tudo que se refere a estudos, as demandas judiciais, ao direito, contratos, documentos trancados, pertencem a Xangô.
Xangô teria como seu ponto fraco, a sensualidade devastadora e o prazer, sendo apontado como uma figura vaidosa e de intensa atividade sexual em muitas lendas e cantigas, tendo três esposas: Obá, a mais velha e menos amada; Oxum, que era casada com Oxossi e por quem Xangô se apaixona e faz com que ela abandone Oxossi; e Iansã, que vivia com Ogum e que Xangô raptou.
No aspecto histórico Xangô teria sido o terceiro Aláàfin Oyó, filho de Oranian e Torosi, e teria reinado sobre a cidade de Oyó (Nigéria), posto que conseguiu após destronar o próprio meio-irmão Dada-Ajaká com um golpe militar. Por isso, sempre existe uma aura de seriedade e de autoridade quando alguém se refere a Xangô.
Conta a lenda que ao ser vencido por seus inimigos, refugiou-se na floresta, sempre acompanhado da fiel Iansã, enforcou-se e ela também. Seu corpo desapareceu debaixo da terra num profundo buraco, do qual saiu uma corrente de ferro – a cadeia das gerações humanas. E ele se transformou num Orixá. No seu aspecto divino, é filho de Oxalá, tendo Iemanjá como mãe.
Xangô também gera o poder da política. É monarca por natureza e chamado pelo termo obá, que significa Rei. No dia-a-dia encontramos Xangô nos fóruns, delegacias, ministérios políticos, lideranças sindicais, associações, movimentos políticos, nas campanhas e partidos políticos, enfim, em tudo que gera habilidade no trato das relações humanas ou nos governos, de um modo geral.
Xangô é a ideologia, a decisão, à vontade, a iniciativa. É a rigidez, organização, o trabalho, a discussão pela melhora, o progresso social e cultural, a voz do povo, o levante, à vontade de vencer. Também o sentido de realeza, a atitude imperial, monárquica. É o espírito nobre das pessoas, o chamado “sangue azul”, o poder de liderança. Para Xangô, a justiça está acima de tudo e, sem ela, nenhuma conquista vale a pena; o respeito pelo Rei é mais importante que o medo.
Xangô é um Orixá de fogo, filho de Oxalá com Iemanjá. Diz a lenda que ele foi rei de Oyó. Rei poderoso e orgulhoso e teve que enfrentar rivalidades e até brigar com seus irmãos para manter-se no poder.
A finalidade principal desta linha é fazer caridade, implantando a justiça e os sentimentos que lhe são entregues. Sua essência é ígnea, manifesta-se nas montanhas rochosas, pedreiras e energiza a estabilidade constante vibrando na musculatura e na razão.
É cultuado nas montanhas e pedreiras e aceita como oferenda cerveja preta, vinho branco doce, melão, abacaxi, rabada de boi e é firmado com velas brancas e marrons. Simbolizado pela cor marrom e figurativamente pelo desenho de um machado com dois cortes. Irradia justiça e racionalidade, flui resignação, obediência e submissão e seu oposto é Iansã.
Xangô exerce uma influêcia muito forte em seu filho. Todos os Orixás, evidentemente, são justos e transmitem este sentimento aos seus filhos. Entretanto, em Xangô, a Justiça deixa de ser uma virtude, para passar uma obsessão, o que faz de seu filho um sofredor, principalmente porque o parâmetro da Justiça é o seu julgamento e não o da Justiça Divina, quase sempre diferente do nosso, muito terra. Esta análise é muito importante.
O filho de Xangô apresenta um tipo firme, enérgico, seguro e absolutamente austero. Sua fisionomia, mesmo a jovem, apresenta uma velhice precoce, sem lhe tirar, em absoluto, a beleza ou a alegria. Tem comportamento medido. É incapaz de dar um passo maior que a perna e todas as suas atitudes e resoluções baseiam-se na segurança e chão firme que gosta de pisar. É tímido no contato mas assume facilmente o poder do mando. É eterno conselheiro e não gosta de ser contrariado, podendo facilmente sair da serenidade para a violência, mas tudo medido, calculado e esquematizado. Acalma-se com a mesma facilidade quando sua opinião é aceita. Não guarda rancor. A discrição faz de seus vestuários um modelo tradicional.
Quando o filho de Xangô consegue equilibrar o seu senso de Justiça, transferindo o seu próprio julgamento para o Julgamento Divino, cuja sentença não nos é permitido conhecer, torna-se uma pessoa admirável. O medo de cometer injustiças muitas vezes retarda suas decisões, o que, ao contrário de lhe prejudicar, só lhe traz benefícios. O grande defeito dele é julgar os outros. Se aprender a dominar esta característica, torna-se um legítimo representante do Homem Velho, Senhor da Justiça, Rei da Pedreira. Por falar em pedreira, adora colecionar pedras.
Xangô era filho de Oranian, valoroso guerreiro, cujo corpo era branco à esquerda e preto à direita.
Xangô tinha um oxé – machado de duas lâminas; tinha também um saco de couro, pendurado no seu ombro esquerdo. Nele estavam os elementos do seu axé: aquilo que ele engolia para cuspir fogo e amedrontar seus adversários, e as pedras de raio com as quais ele destruia as casas de seus inimigos.
Assim que ficou adulto, Xangô partiu em busca de aventuras gloriosas. O primeiro lugar que Xangô visitou chamava-se Kossô. Ali chegando, todos de Kossô vieram lhe pedir clemência, gritando: “Kabiyesi Xangô, Kawo Kabiyesi Xangô Obá Kossô!” (vamos todos ver e saudar Xangô, o Rei de Kossô!).
Assim ele pôs-se à obra; realizava trabalhos úteis à comunidade e fazia as coisas com alma e dignidade. Mas esta vida calma não convinha à Xangô. Ele adorava as viagens e as aventuras. Assim, partiu novamente e chegou à cidade de Irê, onde morava Ogum.
Ogum o terrível guerreiro; Ogum o poderoso ferreiro. Ogum estava casado com Iansã, senhora dos ventos e tempestades. Ela ajudava Ogum na forja, carregando suas ferramentas e atiçando o fogo com os sopradores. Xangô gostava de ver Ogum trabalhar; vez por outra, ele olhava para Iansã. Iansã também olhava para Xangô.
Xangô era vaidoso e cuidava muito de sua aparência, a ponto de trançar seus cabelos e furar suas orelhas, onde pendurava grandes argolas de ouro. Usava braceletes e colares de contas vermelhas e brancas.
Muito impressionada pela distinção e pelo brilho de Xangô, Iansã foi-se embora com ele tornando-se sua primeira mulher.
São Jerônimo, sincretizado com Xangô no Brasil, nasceu de uma família abastada, provavelmente no ano 331, na cidade de Stridova, entre a Croácia e a Hungria.
Estudou em Roma, especializando-se na arte da oratória.
Como sua juventude fora dedicada à vida mundana, Jerônimo tardou seu batizado e, em carta ao papa, ele vislumbrou para si um batismo de fogo no qual suas máculas seriam queimadas. Após ter copiado dois livros de Santo Hilário, ele decidiu estudar teologia. Mas sua leitura favorita continuava a ser a literatura dos grandes legisladores e oradores, como Cícero.
Aos 43 anos, ele esteve muito doente e permaneceu muito tempo acamado, durante a Quaresma, jejuou e teve visões, vendo-se diante do trono do Senhor.
Resolve dedicar-se a uma vida monástica, isolando-se no deserto de Marônia, na Síria. Livros, penas e nanquim são seus companheiros.
Para combater a pensamentos impuros, pegava uma pedra e batia em seu peito, punindo-se, logo após voltava a escrever em hebraico, onde se tornou mestre nessa língua.
O sincretismo entre Xangô e São Jerônimo está no temperamento forte, crítico e na medida que ambos são conhecedores de leis e mandamentos. Xangô tem como lugar as pedreiras.
Sua imagem é representada por um ancião sentado sobre as pedras, segurando a tábua dos 10 Mandamentos e com um leão ao lado.
Xangô tem sua falange também, o mais conhecido é Xangô Kaô.
INCORPORAÇÃO
Na incorporação de Xangô podemos ver o médium curvado, como uma pessoa idosa e com os braços cruzados sobre o peito, batendo firmemente, assim como S. Jerônimo fazia com as pedras em seu peito para afastar os males da carne e a tentação do espírito
O GRANDE AMOROSO
Xangô é um deus cotidiano e, portanto, itifálico. De início, vêmo-lo como divindade hermafrodita. Muitas efígies suas na África – imagens de madeira, tendo no alto da cabeça, destacado, o machado bifronte – mostram, também em destaque, os seios volumosos. E mesmo no Brasil, no sincretismo católico, Xangô é às vezes identificado com Santa Bárbara. Aos poucos, porém, ele vai se afirmando em sua orgulhosa virilidade. Altivo e dominador, elegante e cheio de sedução, usa cabelos encaracolados, brincos de argolas metálicas, colares e pulseiras.
Numa lenda contada por João do Rio, andava Xangô pelas aldeias, de tribo em tribo, apoderando-se das mulheres alheias. Encontrando a velha Olobá, Xangõ agarrou-a à força e depois foi com ela viver, numa cama feita de olentes folhas de manjericão. Até que, cansado da velha, Xangô fugiu. Mas Olobá pertencia à família dos orixás, era avó de Oxun. Por isso Xangô teve de enfrentar perigos incontáveis – um inimigo em cada canto, uma guerra em cada tribo, uma serpente em cada moita. Refugiou-se, por fim, no palácio da rainha Oxum, comparedes de cristal líquido e colossais repuxos de cores estranhas. Após inúmeras peripécias, Xangô consegue livrar-se dos seus inimigos e da velha Olobá.
Triunfalmente, ele se atira nos braços da rainha. “Uma nuvem gigantesca encheu os céus, as árvores partiram-se e, ao clangor dos trovões, toda a terra se embebeu sequiosa no temporal”. Do enlace de Xangô e Oxum nasce a chuva benfazeja.
HETEROMORFIA E SINCRETISMO
Xangô é identificado com São Jerônimo, o erudito doutor da Igreja latina e, excepcionalmente, com Santa Bárbara.
No cancomblé, usa saiote e calça, coroa de cobre, metal precioso em Iorubá, braceletes e colares de cauris ou búzios.
Xangô-Airá, velho e alquebrado, veste-se de branco com barras vermelhas. Não come aceite, pois tem pacto com Oxalá. Identificado com SãoPedro. Forma cada vez mais rara nos candomblés.
Xangô de Ouro, um adolescente vestido de cores variadas, é São João Menino. Não “desce” mais, porque deixaram de ser encontradas as ervas necessárias, nos ritos de iniciação, para a “entrada na cabeça” desse orixá. Um Xangô banido pela destruição ecológica.
Xangô Ogodô dança com um ochê em cada mão e o próprio nome é referência ao machado duplo, pois ogodô significa “que corta dos dois lados”.
Em Recife cultuam dois Xangôs principais: Xangô-Velho, identificado com São Jerônimo, cuja festa é a 30 de setembro, e Xangô-Moço (Ani-Xangô), sincretizado com Saõ João e celebrado a 24 de junho. Dos seus símbolos e insígnias, o machado duplo ou “muleta” e o pilão são conservados no peji, de onde podem sair em determinados rituais. Jamais é retirado, no entanto, o”corisco” ou itá ou otá (pedra-do-raio), que permanece guardado num alguidar (oberá). Xangô é tão popular em Pernambuco, que o nome passou a designar terreiros e, ainda mais extensamente, todas as seitas afro-brasileiras.
Entre as várias formas de Xangô citam Xangô Dadá, em Porto Alegre identificado com São João Batista e que no seu dia, 24 de junho, não “baixa” porque, com a queima de fogos que o festejam, ele iria incendiar o mundo.
Na realidade, Dadá é o irmão mais velho de Xangô, que abdicou em seu favor, quando de Oyá. Dadá dança coroado com o adé-de-banhami ou corão de Dadá, um capacete vermelho, todo ornamentado de cauris e de cujas bordas pendem fios também cobertos de búzios. Quando Dadá se manifesta num candomblé, logo baixo um Xangô, que tira o adé-de-banhami e coloca na própria cabeça. Após dançar algum tempo com essa coroa de Dadá, Xangô acaba por devolvê-la, num símbolo da restituição, após sete anos, do reino de Oyó, que estava em poder de Xangô.
Xangô o Zeus iorubano é conhecido também (dependendo da nação) como : Xangô (nagôs), Sobô, Sogbo (jejes), Badé, Quevioçô (fanti-ashanti), Conucon (tapa), Abaçucá (agrôno), Zaze, Cambãranguange ou Kubuco (bantos). Ele foi marido de três iyabás que foram rios africanos: Oiá (Niger), Oxun e Obá. (segundo Pierre Fatumbi Verger) – no livro Orixás.
Sua saudação – Kaô kabiecí! – significa “Venham ver o Rei!”
Xangô dança brandindo seu machado duplo e, quando o ritmo se acelera, faz o gesto de atirar pedras-do-raio imaginárias, tiradas do labá, uma bolsa decorada que ele leva a tiracolo.
Numa festa de Xangô, por vezes, os que estão possuídos pelo Orixá ingerem pedaços de algodão embebidos em azeite-de-dendê, que se incendeia, proeza que presenciamos algumas vezes no terreiro do pai-de-santo Júlio Estaves, em Olinda,RJ (Conta Pierre Verger, no livro citado). Esse algodão incandescente – o acará – serve para provar que o Orixá está presente e, portanto, não há simulação.
XANGÔ RECONDUZ OXALUFÃ AO REINO DE OXAGUIÃ
Mito famoso é aquele em que Oxalufã (Oxalufã, é o Oxalá velho) vai ao reino de Oyó, em visita a Xangô. Confundido com um ladrão pelos súditos do rei, Oxalá velho tem as pernas e os braços quebrados, permanecendo sete anos na prisão. Sobrevêm por isso várias desgraças, que levam Xangô a descobrir a causa e reparar a injustiça cometida. Xangô carrega Oxalufã até o seu reino de Infá, de onde partira sete anos atrás.
Esse mito etiológico explica a origem do odô e o porquê das duas cores de Xangô: além do vermelho, como senhor do fogo, recebeu também o branco, como recompensa por haver carregado Oxalufã, o Oxalá velho, orixá da alvura e da pureza.
O OBÔ – milho branco cozido, sem sal, a que algumas tribos africanas juntam limo-da-costa (ouri) – o Obô foi o prato de sustentação no banquete de Oxaguiã, festejando o regresso do seu velho pai, Oxaguiã. E é no pilão de Xangô (odô) que é triturado esse milho ritual, na cerimônia das águas de Oxalá.
EDUN ARÁ, A PEDRA-DO-RAIO
As pedras-do-raio – edun ará dos iorubanos – são fetiches de Xangô, imantados com a força da divindade.
Acredita-se que essa pedra-do-raio, também chamada pedra-de-santa-bárbara, cai do céu durante as tempestades, conduzida pelas faíscas elétricas, penetrando no chão a uma profundidade de sete braças e só subindo à superfície após sete anos.
Quem consegue encontrar uma dessas pedras terá em mãos talismã dos mais valiosos, que proporciona todas as venturas.
As pedras-do-raio são, na realidade, achados arquológicos da era neolítica – machados, martelos e fragmentos de artefatos de pedra polida, aos quais se atribuía uma origem meteorológica.
Divindade dos meteoritos, na litolatria de Xangô, observou Nina Rodrigues, “se confendem os casos de adoração dos penhacos e grandes pedras dos campos e estradas”.
XANGÔ, O ZEUS YORUBANO(Nota: Série de Palestras feitas pela Astróloga Maria Luiza Andrade)
XANGÔ é o senhor da justiça e lançador de raios e meteoritos, tal como ZEUS ou JÚPITER.
O símbolo a ele associado é o de dois martelos (os juizes na sociedade ocidental, também usam o martelo nas suas decisões, no tribunal), que mostram seu poder de determinar o que é certo e o que é errado e sua disposição inabalavelmente imparcial, visando, acima de tudo, a verdade. É uma figura sólida, tanto por esse papel como pelo elemento que a ele é associado: a pedra. Também a ele pertencem os raios, que, segundo as lendas, só atingem os que forem considerados por Xangô. Esta é a imagem a ele associada, onde se destacam também certa vaidade e elegância e uma grande consciência de si próprio. Seus filhos possuem a força magnética dos que sentem que têm poder sobre os outros – e geralmente alcançam o que querem.
Suas cores, no candomblé são o vermelho e o branco e seu dia a quarta-feira. O Xangô umbandista tem suas cores no marrom e amarelo-ouro, bebe cerveja preta e tem sua morada e o seu altar na rocha, de preferência onde haja também uma cachoeira.
Na astrologia, Xangô tem relação com o elemento FOGO ou com planetas e Casas desse elemento – Marte e Júpiter e o Sol e Casas I (Marte/Áries), Casa V (Sol-Leão) e Casa IX (Júpiter-Sagitário).
XANGÔ é autoritário, o dono da última palavra (como são os jupiterianos, em geral), capaz de dar socos na mesa para dramatizar sua expressão e exibir força física e arrogância. É sensual, majestoso, sólido, líder, difícil de ser derrubado. Seu ponto fraco é o coração, o que nos levaria a relacioná-lo a JUPITER e SAGITÁRIO.
Os filhos de XANGÔ são pessoas totalmente voltadas para a sexualidade e o egocentrismo. A parte negativa está na crueldade, injustiça, alienação, violência e orgulho desmedido, além da ambição cega.
Assim como Zeus no Olimpo, o elemento de XANGÔ são as pedras, os raios; é o Senhor da Força e da Justiça. Por ser a força, XANGÔ é considerado dentro do OBÁ como rei
XANGÔ rege, portanto, os signos de LEÃO e SAGITÁRIO. Autoritário, dominador, é um líder nato, um guerreiro difícil de ser derrotado, características dos nativos de Leão. Simboliza ainda a lei e a justiça, atributos de Júpiter. É sociável e aproveita o melhor da vida, o que o associa ao signo de Sagitário. Corresponde a Júpiter.
Os dias do ano em que é festejado: 25 de janeiro (Dia de São Paulo Apóstolo), 29 de junho (Badé)=Dia de São Pedro);dia 19 de março (Alafin=Dia de São José);dia 24 de junho (Afonjá= São João) e é claro, o dia 30 de setembro(Agodô=São Jerônimo). São-lhe sacrificados: carneiro, galo, cágado (ajapá). Sua comida é um caruru especial (amalá).
Atributos de Xangô: o machado duplo(oxê)e a pedra-do-raio (edun ará).
De acordo com a nação, Xangô recebe os seguintes nomes: Xangô(nagôs), Sobô, sogbo (jejes), Badé, Quevioçô (fanti-ashanti), Vonucon (tapa), Abaçucá (agrôno), Zaze, Cambãranguange ou Kibuco (bantos).
XANGÔ é associado ao deus grego ZEUS ou JÚPITER que, segundo dizem os poetas, é o pai dos deuses e dos homens, reinando no Olimpo, e com um movimento de sua cabeça, agitava o Universo.
Após uma batalha para destronar seu pai, e auxiliado por seu irmão NETUNO e PLUTÃO, JÚPITER recebeu dos Ciclopes (Titãs encarcerados no Tártaro, por ordem de seu pai Saturno) o trovão, o relâmpago e o raio; um capacete foi dado a Plutão e a Netuno um tridente. Com essas armas, os três irmãos venceram Saturno, expulsaram-no do trono e da sociedade dos deuses.
Depois do destronamento de Saturno, JÚPITER e seus irmãos repartiram os domínios daquele. A Júpiter coube a parte dos céus; a Netuno, o Oceano e a Plutão, os reinos da morte. A Terra e o Olimpo eram propriedades comum – Júpiter era o rei dos deuses e dos homens. O raio era sua arma e carregava um escudo chamado égide, feito para ele por Vulcano. A águia era sua ave favorita. Juno (Hera) foi sua esposa e era a rainha dos deuses. Íris, a deusa do arco-íris, era sua donzela e mensageira. O pavão real era seu pássaro favorito.
Na astronomia, assim como vemos no estudo do Orixá XANGÔ, e no deus Zeus, Júpiter é o maior planeta, capaz até de projetar sombra na Terra.
Segundo o mito, Júpiter é o pai Abraão, Brahma, Jeovah. O Sol é o poder espiritual e Júpiter é o pode temporal. Para os egípcios, era AMON, deus de Tebas, no Alto Egito.
O deus invisível que animava todas as coisas e acompanhava as guerra imperiais; o intrépido e insensato, mas o corajoso.
Os nomes Abraão e Brahma derivam do sânscrito e significam: luz.
Na Índia era também Vishnu, o preservador. Para os gregos era ZEUS, o grande deus que reinava no Olimpo, a montanha sagrada. Carregava um raio em sua mão e era o Todo-Poderoso, o onipotente. Mas um deus acessível, com defeitos humanos como a luxuria, e o furor. Teve vários amores e filhos. Seus atributos também eram a chuva, as nuvens, os raios e os trovões. Presidia toda a família divina.
SAGITÁRIO, signo regido pelo planeta Júpiter, mostra características de seus filhos, tão semelhantes as dos filhos de Xangô, com um temperamento ativo, expansivo e egocêntrico, são pessoas desprendidas, generosas, enérgicas e combativas; possuem um temperamento impulsivo, ambicionam posição e poder, além de serem caridosos com os infelizes e oprimidos.
Quem tem a proteção de Xangô sabe: não há nada nem ninguém que destrua um filho
desse orixá. Podem até conseguir levá-lo ao fundo do abismo, mas depois de algum
tempo ele renasce com mais vigor e volta a enfrentar o mundo de peito aberto. Sem
medo. Essa é uma característica herdada do pai, Xangô, entidade mais forte do
Candomblé brasileiro. São dele a força, o poder e a capacidade de fazer e desfazer
todas as coisas. Mas ele não age sem uma boa razão: Xangô tem um senso de justiça
muito acentuado. Exige exclusividade, mas nunca consegue resistir a uma
aventurazinha. Segue os passos do pai, marido de muitas esposas, das quais as
prediletas são a dengosa Oxum e a guerreira Iansã – esta, a parceira ideal, pois o
acompanha a todas as frentes de batalha, luta sempre ao seu lado, ajudando-o a
derrotar os inimigos.
São essas as características que os filhos de Xangô exigem dos parceiros.
Ousados e cheios de iniciativa, quando se apaixonam, fazem o impossível para conquistar o ser amado. São diretos, sem rodeios, vão logo ao que interessa.
Atrevidísssimos, não descansam enquanto não conseguem o que querem. E adoram variar
as relações amorosas.
Xangô é o próprio Fogo, energia inesgotável, devastadora. Ninguém fica imune ou indiferente à sua passagem. Não há como ignorar a pompa e a altivez desse integrante
da alta aristocracia africana que um dia, encurralado pelas lutas em torno do poder,
acabou se suicidando em plena selva. Preferiu a morte a perder a dignidade. Além disso, Xangô nunca suportou disputas pelo poder.
Tem consciência de que só ele possui as qualidades necessárias para exercê-lo com
vigor e justiça. Porque não conhece o significado das palavras obediência, submissão
e medo.
Valente e protetor, ele foi rei de Oió, e fundou uma dinastia de heróis lutadores.
Orixá da Justiça e do Fogo, Xangô é o quarto Alafin de Oió, e viveu em 1450 A.C.,
destacando-se pela sua valentia e liderança. Foi marido de Oxum, Obá e Oiá (Iansã).
Ele é filho de Oranyian, e tem Yamasse como sua mãe. Castiga mentirosos, infratores e ladrões. Por isso a morte pelo raio é considerada infamante, assim como uma casa atingida por uma descarga elétrica é tida como marcada pela ira de Xangô.
O xeré é um chocalho feito de cabaça alongada, que quando agitado lembra o barulho da chuva. Ele é um dos símbolos de Xangô.
Garboso, Xangô é conhecido também como o “dono das mulheres”, mas mesmo assim
frequentemente seus filhos do sexo masculino terminam a vida solitários. Um dos mais
populares Orixás do Novo Mundo (não somente no Brasil, mas também nas Antilhas), seu arquétipo pode ser resumido assim: pessoa voluntariosa, altiva, mas que não tolera ser contrariada. Geralmente, imbuída de um profundo sentido de justiça e sinceridade, sendo bem consciente de sua própria dignidade e valor.
CARACTERÍSTICAS
CorMarrom (branco e vermelho)
Fio de ContasMarrom leitosa
ErvasErva de São João, Erva de Santa Maria, Beti Cheiroso, Nega Mina, Elevante, Cordão de Frade, Jarrinha, Erva de Bicho, Erva Tostão, Caruru, Para raio, Umbaúba. (Em algumas casas: Xequelê)
SímboloMachado
Pontos da NaturezaPedreira
FloresCravos Vermelhos e brancos
EssênciasCravo (flor)
PedrasMeteorito, pirita, jaspe.
MetalEstanho
Saúdefígado e vesícula
PlanetaJúpiter
Dia da SemanaQuarta-Feira
ElementoFogo
ChacraCardíaco
SaudaçãoKaô Cabecile (Opanixé ô Kaô)
BebidaCerveja Preta
AnimaisTartaruga, Carneiro
ComidasAgebô, Amalá
Numero12
Data Comemorativa30 de Setembro
Sincretismo:São José, Santo Antônio, São Pedro, Moisés, São João Batista, São Gerônimo.
Incompatibilidades:Caranguejo, Doenças
Qualidades:Dadá, Afonjá, Lubé, Agodô, Koso, Jakuta, Aganju, Baru, Oloroke, Airá Intile, Airá Igbonam, Airá Mofe, Afonjá, Agogo, Alafim
ATRIBUIÇÕES
Xangô é o Orixá da Justiça e seu campo preferencial de atuação é a razão, despertando nos seres o senso de equilíbrio e eqüidade, já que só conscientizando e despertando para os reais valores da vida a evolução se processa num fluir contínuo
AS CARACTERÍSTICAS DOS FILHOS DE XANGÔ
Para a descrição dos arquétipos psicológico e físico das pessoas que correspondem a Xangô, deve-se ter em mente uma palavra básica: Pedra. É da rocha que eles mais se aproximam no mundo natural e todas as suas características são balizadas pela habilidade em verem os dois lados de uma questão, com isenção e firmeza granítica que apresentam em todos os sentidos.
Atribui-se ao tipo Xangô um físico forte, mas com certa quantidade de gordura e uma discreta tendência para a obesidade, que se ode manifestar menos ou mais claramente de acordo com os Ajuntós (segundo e terceiro Orixá de uma pessoa). Por outro lado, essa tendência é acompanhada quase que certamente por uma estrutura óssea bem-desenvolvida e firme como uma rocha.
Tenderá a ser um tipo atarracado, com tronco forte e largo, ombros bem desenvolvidos e claramente marcados em oposição à pequena estatura;
A mulher que é filha de Xangô, pode ter forte tendência à falta de elegância. Não que não saiba reconhecer roupas bonitas – tem, graças à vaidade intrínseca do tipo, especial fascínio por indumentárias requintadas e caras, sabendo muito bem distinguir o que é melhor em cada caso. Mas sua melhor qualidade consiste em saber escolher as roupas numa vitrina e não em usá-las. Não se deve estranhar seu jeito meio masculino de andar e de se portar e tal fato não deve nunca ser entendido como indicador de preferências sexuais, mas, numa filha de Xangô é um processo de comportamento a ser cuidadosamente estabelecido, já que seu corpo pode aproximar-se mais dos arquétipos culturais masculinos do que femininos; ombros largos, ossatura desenvolvida, porte decidido e passos pesados, sempre lembrando sua consistência de pedra.
Em termos sexuais, Xangô é um tipo completamente mulherengo. Seus filhos, portanto, costumam trazer essa marca, sejam homens, sejam mulheres (que estão entre as mais ardentes do mundo). Os filhos de Xangô são tidos como grandes conquistadores, são fortemente atraídos pelo sexo oposto e a conquista sexual assume papel importante em sua vida.
São honestos e sinceros em seus relacionamentos mais duradouros, porque para eles sexo é algo vital, insubstituível, mas o objeto sexual em si não é merecedor de tanta atenção depois de satisfeito desejo.
Psicologicamente, os filhos de Xangô apresentam uma alta dose de energia e uma enorme auto-estima, uma clara consciência de que são importantes, dignos de respeito e atenção, principalmente, que sua opinião será decisiva sobre quase todos os tópicos – consciência essa um pouco egocêntrica e nada relacionada com seu real papel social. Os filhos de Xangô são sempre ouvidos; em certas ocasiões por gente mais importante que eles e até mesmo quando não são considerados especialistas num assunto ou de fato capacitados para emitir opinião.
Porém, o senhor de engenho que habita dentro deles faz com que não aceitem o questionamento de suas atitudes pelos outros, especialmente se já tiverem considerado o assunto em discussão encerrado por uma determinação sua. Gostam portanto, de dar a última palavra em tudo, se bem que saibam ouvir. Quando contrariados porém, se tornam rapidamente violentos e incontroláveis. Nesse momento, resolvem tudo de maneira demolidora e rápida mas, feita a lei, retornam a seu comportamento mais usual.
Em síntese, o arquétipo associado a Xangô está próximo do déspota esclarecido, aquele que tem o poder, exerce-o inflexivelmente, não admite dúvidas em relação a seu direito de detê-lo, mas julga a todos segundo um conceito estrito e sólido de valores claros e pouco discutíveis. É variável no humor, mas incapaz de conscientemente cometer uma injustiça, fazer escolha movido por paixões, interesses ou amizades.
Os filhos de Xangô são extremamente enérgicos, autoritários, gostam de exercer influência nas pessoas e dominar a todos, são líderes por natureza, justos honestos e equilibrados, porém quando contrariados, ficam possuídos de ira violenta e incontrolável.
TENDÊNCIA PROFISSIONAL
Advogados, religiosos, mecânicos, dentistas, cabeleireiros, médicos, enfermeiros
SÃO AS SEGUINTES AS FALANGES DE XANGÔ:
1. Falange de Iansã – chefiada por Santa Bárbara
2. Falange do Caboclo do Sol e da Lua – chefiada pela mesma entidade
3. Falange do Caboclo dos Ventos – chefiada pela mesma entidade
4. Falange do Caboclo das Cachoeiras – chefiada pela mesma entidade
5. Falange do Caboclo Treme-Terra – chefiada pela mesma entidade
6. Falange do Caboclo da Pedra Branca – chefiada pela mesma entidade
7. Falange dos Pretos Velhos – chefiada por Quenguelê.
SÃO AS SEGUINTES AS LEGIÕES DE XANGÔ:
1. Legião do Caboclo Ventania
2. Legião do Caboclo das Cachoeiras
3. Legião do Caboclo 7 Montanhas
4. Legião do Caboclo Pedra Branca
5. Legião do Caboclo Cobra Coral
6. Povo de Quenguelê
COZINHA RITUALÍSTICA
Caruru
Afervente o camarão seco, descasque-o e passe na máquina de moer. Descasque o amendoim torrado, o alho e a cebola e passe também na máquina de moer. Misture todos esses ingredientes moídos e refogue-os no dendê, até que comecem a dourar. Junte os quiabos lavados, secos e cortados em rodelinhas bem finas. Misture com uma colher de pau e junte um pouco de água e de dendê em quantidade bastante para cozinhar o quiabo. Se precisar, ponha mais água e dendê enquanto cozinha. Prove e tempere com sal a gosto. Mexa o caruru com colher de pau durante todo o tempo que cozinha. Quando o quiabo estiver cozido, junte os camarões frescos cozidos e o peixe frito (este em lascas grandes), dê mais uma fervura e sirva, bem quente.
Ajebô
Corte os quiabos em rodelas bem fininhas em uma Gamela, e vá batendo eles como se estivesse ajuntando eles com as mãos, até que crie uma liga bem Homogênea.
Rabada
Cozinhe a rabada com cebola e dendê. Em uma panela separada faça um refogado de cebola dendê, separe 12 quiabos e corte o restante em rodelas bem tirinhas,
junte a rabada cozida. Com o fubá, faça uma polenta e com ela forre uma gamela, coloque o refogado e enfeite com os 12 quiabos enfiando-os no amalá de cabeça para baixo.
LENDAS DE XANGÔ
A Justiça de Xangô
Certa vez, viu-se Xangô acompanhado de seus exércitos frente a frente com um inimigo que tinha ordens de seus superiores de não fazer prisioneiros, as ordens era aniquilar o exército de Xangô, e assim foi feito, aqueles que caiam prisioneiros eram barbaramente aniquilados, destroçados, mutilados e seus pedaços jogados ao pé da montanha onde Xangô estava. Isso provocou a ira de Xangô que num movimento rápido, bate com o seu machado na pedra provocando faíscas que mais pareciam raios. E quanto mais batia mais os raios ganhavam forças e mais inimigos com eles abatia. Tantos foram os raios que todos os inimigos foram vencidos. Pela força do seu machado, mais uma vez Xangô saíra vencedor. Aos prisioneiros, os ministros de Xangô pediam os mesmo tratamento dado aos seus guerreiros, mutilação, atrocidades, destruição total. Com isso não concordou com Xangô.
- Não! O meu ódio não pode ultrapassar os limites da justiça, eram guerreiros cumprindo ordens, seus líderes é quem devem pagar!
E levantando novamente seu machado em direção ao céu, gerou uma série de raios, dirigindo-os todos, contra os líderes, destruindo-os completamente e em seguida libertou a todos os prisioneiros que fascinados pela maneira de agir de Xangô, passaram a segui-lo e fazer parte de seus exércitos.
A Lenda da Riqueza de Obará
Eram dezesseis irmãos, Okaram, Megioko, Etaogunda, Yorossum, Oxé, Odí, Edjioenile, Ossá, Ofum, Owarin, Edjilaxebora, Ogilaban, Iká, Obetagunda, Alafia e Obará. Entre todos Obará era o mais pobre, vivendo em uma casinha de palha no meio da floresta, com sua vida humilde e simples.
Um dia os irmãos foram fazer a visita anual ao babalaô para fazer suas consultas, e prontamente o babalaô perguntou: Onde está o irmão mais pobre? Os outros irmão disseram-lhe que avia se adoentado e não poderia comparecer, mas na verdade eles tinham vergonha do irmão pobre. Como era de costume o babalaô presenteou a cada irmão com uma lembrança, simples, mas de coração e após a consulta foram todos a caminho de casa. Enquanto caminhavam, maldiziam o presente dado pelo babalaô, Morangas? Isso é presente que se dê? Abóboras? .
A noite se aproximava e a casa de Obará estava perto, resolveram então passar a noite lá. Chegando a casa do irmão, todos entraram e foram muito bem recebidos, Obará pediu a esposa que preparasse comida e bebida a todos, e acabaram com tudo o que havia para comer na casa. O dia raiando os irmãos foram embora sem agradecer, mas antes lhe deixaram as abóboras como presente, pois se negavam a come-las.
Na hora do almoço, a esposa de Obará lhe disse que não havia mais nada o que comer, apenas as abóboras que não estavam boas, mas Obará pediu-lhe que as fizesse assim mesmo. Quando abriram as abóboras, dentro delas haviam várias riquezas em ouro e pedras preciosas e Obará prosperou.
Tempos depois, os irmãos de Obará passavam por tempos de miséria, e foram ao Babalaô para tentar resolver a situação, ao chegar lá escutaram a multidão saldando um príncipe em seu cavalo branco e muitos servos em sua comitiva entrando na cidade, quando olharam para o príncipe perceberam que era seu irmão Obará e perguntaram ao Babalaô como poderia ser possível e ele respondeu: Lembram-se das abóboras que vos dei, dentro haviam riquezas em pedras e ouro mas a vaidade e orgulho não vos deixaram ver e hoje quem era o mais pobre tornou-se o mais rico.
Foram então os irmãos ao palácio de Obará para tentar recuperar as abóboras e lá chegando, disseram a Obará que lhes devolvessem as Abóboras e Obará assim o fez, mas antes esvaziou todas e disse: Eis aqui meus irmãos, as abóboras que me deram para comer, agora são vocês que as comerão. E quando o babalaô em visita ao palácio de Obará lhe disse: Enquanto não revelares o que tens, tu sempre terás. E foi assim que se explica o motivo que quem carrega este Odú não pode revelar o que tem pois corre o risco de perder tudo, como os irmãos de Obará.
ORAÇÕES E PRECES
PRECE PARA XANGÔ
Oh! Senhor dos Trovões. Pai da Justiça e da retidão. Orixá que abençoa os injustiçados e castiga os mentirosos e caluniadores. Defenda, meu Senhor, minha casa, minha família dos inimigos ocultos, dos ladrões e dos mentirosos.
Oh! Xangô rogo-te as vibrações de amor e misericórdia, Pai da dinastia humana, livra-me de todo escândalo.
KAÔ CABECILE!
ORAÇÃO PARA XANGÔ
Poderoso Orixá de Umbanda,
Pai, companheiro e guia.
Senhor do equilíbrio e da justiça.
Auxiliar da Lei do Carma,
Só tu, tens o direito de acompanhar pela eternidade,
Todas as causas, todas as defesas, acusações e eleições,
Promanadas das ações desordenadas, ou dos atos impuros e benfazejos que praticamos.
Senhor de todos os maciços e cordilheiras,
Símbolo e sede da tua atuação planetária no físico e astral.
Soberano Senhor do Equilíbrio, da equidade,
Velai pela inteireza do nosso caráter.
Ajude-nos com sua prudência.
Defenda-nos das nossas perversões,
Ingratidões, antipatias, falsidades,
Incontenção da palavra e julgamento indevido dos atos
Dos nossos irmãos em humanidade.
Só Tu és o grande Julgador.
Kaô Cabecilê Xangô.
ORAÇÃO A XANGÔ
Bondoso São Jerônimo, o vosso nome Xangô, nos terreiros de Umbanda, desperta as mais puras vibrações. Protegei-nos, Xangô, contra os fluidos grosseiros dos espíritos malfazejos,
amparai-nos nos momentos de aflição, afastai de nossa pessoa todos os males que forem
provocados pelos trabalhos de magia negra.
Rogamo-vos, também, São Jerônimo, usar de nossa influência caridosa junto às mentes daqueles que por ambição, ignorância ou maldade, praticam o mal contra os seus irmãos empregando as forças elementais e astrais inferiores. Iluminai a mente desses irmãos, Afastando-os do erro e conduzindo-os à prática do bem.
Assim Seja!
Kaô Cabecilê
PRECE A XANGÔ
Senhor de Oyó. Pai justiceiro e dos incautos. Protetor da fé e da harmonia. Kaô Cabecile do Trovão. Kaô Cabecile da Justiça. Kaô Cabecile, meu Pai Xangô. Morador no alto da pedreira. Dono de nossos destinos. Livrai-nos de todos os males. De todos os inimigos visíveis e invisíveis. Hoje e sempre, Kaô meu Pai.
PONTOS CANTADOS PARA OUVIR:
LETRAS DE PONTOS CANTADOS:
É Xangô o rei de lá da pedreira
É Oxum, rainha da cachoeira >
Xangô é rei, Xangô é rei Orixá
Escreve lei pros filhos de Oxalá
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Ele vem de Aruanda
Ele vem trabalhar
Ele vence demanda
Ele é seu Pangará
Kaô, kaô, kaô, kaô
A justiça chegou, Xangô
Ele vem de Aruanda
Ele vem trabalhar
Ele vence demanda
Ele é seu Airá
Kaô, kaô, kaô, kaô
A justiça chegou, Xangô
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Escureceu, a noite chegou >
Firma ponto na pedreira, saravá Xangô >
Saravá Xangô, saravá Xangô
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Lá em cima daquela pedreira
Tem um livro que é de Xangô >
Kaô, kaô
Kaô é kabecile é de Xangô >
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Machadinha de cabo de ouro
De ouro, de ouro
Machadinha de cabo de ouro
É machadinha de Xangô
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Meu pai Xangô
Deixa essa pedreira aí >
A Umbanda está lhe chamando
Deixa essa pedreira aí >
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Na beira do Cariri
Eu vi Xangô sentado
Yemanjá e Oxum
E Santa Bárbara de lado
Na beira do Cariri
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Pedra rolou, Pai Xangô, lá na pedreira
Segura o ponto, meu Pai, na cachoeira
Tenho o meu corpo fechado
Xangô é meu protetor
Firma esse ponto, meu filho
Pai de cabeça chegou
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Quem rola pedra na pedreira é Xangô >
Vivô a coroa de Zambi 2>
Vivô a coroa de Zambi é maio
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Subi na pedreira, subi
Uma pedra rolou no corisco de Xangô
Dizem que Xangô mora na pedreira
Mas não é lá sua morada verdadeira >
Xangô mora na cidade de Luz
Aonde está Maria e o Menino Jesus
Dizem que Xangô mora na pedreira
Mas não é lá sua morada verdadeira >
============================================
Xangô chegou na terra
Xangô girou na Umbanda
Com seu grito de guerra
Xangô venceu demanda
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Xangô é corisco
Nasceu na trovoada >
Trabalha na pedreira
Acorda na madrugada >
Longe, tão longe
Aonde o sol raiou >
Saravá Umbanda
Oi, saravá Xangô >
============================================
Xangô mostrai a força que vós tendes >
Xangô é o rei da justiça
E não engana ninguém
Xangô Kaô, Xangô Agodô 3>
============================================
Xangô, Xangô, meu pai Xangô
Xangô mora na pedreira
Quem mandou relampejar
Kaô kabecile obá, Xangô
Saravá Xangô 3>
============================================
Deixei meu filho em cima da pedreira
E de repente ele escorregou
Me ajoelhei e olhei pra baixo
Estava nos braços de meu pai Xangô
============================================
Xangô, meu pai, atende essa romaria >
Dos filhos que vem de longe
E não podem vir outro dia >
============================================
Estava olhando a pedreira uma pedra rolou >
Com a licença de Zambi vou saravá meu Pai Xangô >
Quem foi que disse que eu não sou filho de Xangô >
Se me atiram uma pedra ele faz dessa pedra uma flor >
São tantas flores de justiça e proteção >
Sou filho de Pai Xangô ninguém me joga no chão >
Oh! Quantas flores já plantei no meu jardim >
Cada pedra atirada era mais uma flor para mim >
Pontos de Subida
Xangô já vai
Já vai pra Aruanda >
A bênção meu pai
Proteção pra nossa banda >
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Já volteei lá na pedreira
E Xangô disse que sim
Quem tem Santo de Caboclo
Tá na hora de subir
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Texto Montado por Alex de Oxóssi

quinta-feira, 14 de junho de 2012

UMBANDISTAS SÉRIOS NÃO PODEM SER CONFUNDIDOS COM CRIMINOSOS.

Delegada Flavia Monteiro e Edmar Santos de Araújo, o Pai Bruno de Pombagira

Um criminoso, que se dizia "pai de santo", foi preso no último dia 12 de junho no Rio de Janeiro. Crime: ao prometer a um cliente trazer a "pessoa amada" em 3 horas (!), ainda a ameaçou de morte, cometendo o crime de extorsão.
Em quase todas as cidades grandes do país, vemos desenhados em viadutos, pontes e muros, pichações que prometem trazer a pessoa amada em poucos dias (ou até horas!).
Esses anúncios não se limitam às pichações em viadutos e muros. Podem ser encontrados nos grandes jornais populares e em programas radiofônicos.
Vamos aos fatos. Ou melhor, às perguntas.
Quando a mídia noticia que um pai de santo foi preso por extorquir um "cliente", ameaçando-o de morte, é verificado se o criminoso é realmente um sacerdote filiado a uma entidade federativa de Umbanda ou de Candomblé?
E se o preso fosse um sujeito que se dizia médico? Não iriam certamente entrar em contato com o Conselho Regional de Medicina para checar a veracidade da informação do criminoso? E diante da constatação da falsidade ideológica, os jornalistas não se refeririam ao criminoso com o cuidado de chamá-lo de "falso médico"?
Mas, no caso do falso pai de santo, afirmaram textualmente: "foi preso em Nilópolis o pai de santo...", apesar da inquestionável prova de que o sujeito preso era uma fraude, sem um templo, sem médiuns, sem coisa alguma.
Um oportunista apenas, mais nada, flagrado cometendo um crime. O noticiário, contudo, generaliza e acaba atingindo a imagem dos verdadeiros diretores de culto, tanto os da Umbanda, quanto os do Candomblé.
Mais uma pergunta: se qualquer um sabe que esse tipo de anúncio é pura vigarice, que jamais seria divulgado por dirigentes sérios, por que os jornais se permitem publicá-los em troca de dinheiro?
Como podem jornais de grande tiragem (e responsabilidade) se permitirem receber dinheiro de anúncios de criminosos que visam extorquir pessoas ingênuas?
Jornais, Rádios e TVs têm o dever de checar minimamente os anúncios que recebem. É inadmissível que publiquem anúncios que veiculem mensagens absurdas, semelhantes às que lemos diariamente nas seções dos classificados.
E são justamente esses mesmos jornais que dão divulgação ao ato criminoso nas suas seções de classificados. Ou alguém acha que os responsáveis pelos jornais acreditam realmente que se possa trazer a pessoa amada através de um "trabalho" espiritual?
Outra coisa: as entidades federativas de Umbanda e Candomblé têm o dever de enviarem urgentemente às redações de jornais, emissoras de rádio e TVs a informação de que o tal criminoso preso não jamais foi pai de santo, nem babalorixá, nem diretor de culto, nada!
E que ele não estava registrado como tal! Com certeza absoluta, se um falso padre fosse preso, a Arquidiocese entraria em contato com a mídia para pedir que só se referissem ao criminoso como falso padre, e não como um padre verdadeiro. Por que não se referem ao criminoso como "falso pai de santo"?
A prisão desse falso dirigente nos leva a refletir sobre os atos criminosos de pessoas inescrupulosas que se intitulam mães e pais de santo, que usam impunemente o nome de pretas e pretos velhos, afiançando que são capazes de trazer a "pessoa amada" em pouco tempo.
Quem leva a sério a nossa religião não pode mais deixar passar em branco as ações desses criminosos que usam o nome da nossa fé para enganar e extorquir pessoas com falsas promessas.
Cabe, pelo menos, uma atitude imediata por parte das entidades federativas: comunicar urgentemente à mídia o esclarecimento de que tais criminosos não estão filiadas e muito menos se enquadram como diretores de culto.
O que não é justo é que coloquem gente séria, correta, que dá sua existência pela ajuda ao próximo, no mesmo balaio dos oportunistas que se aproveitam da boa fé alheia.
Temos o dever de reagir, alertando a mídia de que somos gente séria que pratica uma religião séria. Não podemos silenciar.
Afinal, o silêncio é a porta do consentimento.
Com o abraço do
ÁTILA ALEXANDRE NUNES
Muita paz!
UMBANDA UNIDA, UMBANDA FORTE

O (falso) pai de santo, a mídia e o CONAR

Pai Bruno foi preso por policiais do Leblon

Por: Rosiane Rodrigues - 13/6/2012
A prisão de Edmar Santos de Araújo – o pai Bruno – por extorsão e formação de quadrilha deveria servir para que os sacerdotes de matrizes africanas tomassem uma postura junto aos muitos classificados de jornais que publicam anúncios cada vez mais surpreendentes sobre os ‘trabalhos espirituais’ que fazem e desfazem qualquer coisa.
Edmar (ou pai Bruno de Pombagira) foi preso ao extorquir uma cliente. Ele prometia trazer o amor perdido de volta, em – Pasmem! - cinco horas. E cobrava caro! O fato, veiculado por quase todos os veículos de comunicação do Rio de Janeiro, nesta quarta-feira (13/06), propõe que a mídia e os religiosos repensem sobre as ignorâncias e desconhecimentos que grassam sobre as muitas práticas religiosas de origem africana que permeiam o imaginário da população. Para muitos é apenas menos um marmoteiro em ação.

Para quem não sabe o que significa marmoteiro, eu explico: na linguagem dos adeptos e iniciados dos cultos dos orixás, voduns e inkices (e também dos umbandistas) é aquele que se diz sacerdote, se faz passar por sacerdote, mas não é nem nunca foi um sacerdote.

É um espertalhão, que se aproveita da ignorância da grande maioria das pessoas sobre os princípios que regem a vida dos religiosos de matrizes afro. O objetivo? Cobrar por coisas que nem Deus se prontificaria a fazer. Em resumo, é um estelionatário das práticas ancestrais dos espíritos africanos.

Há muito que os religiosos tradicionais da Umbanda e do Candomblé denunciam esses falsos sacerdotes. Nada incomoda mais uma iyalorisá, um ogan, uma ekedji – ou aqueles que conhecem um pouco mais de perto os ritos e práticas de matrizes africanas – que esses marginais do astral.

E não adianta dizer que estou exagerando: Marginais, sim! Uma corja que não apenas lesa os mais desavisados (em busca da resolução de seus problemas), mas que humilha os afro-religiosos com anúncios ridículos que prometem até teletransportar os amores perdidos. Pensa bem, gente!

Ninguém com o trânsito caótico do Rio de Janeiro ou São Paulo chega a lugar nenhum em cinco horas. Só de helicóptero ou teletransporte (que ainda precisa ser inventado!). Acreditar que uma coisa dessas é possível nem a falta de conhecimento básico sobre os princípios da Física ou do trânsito, explica.

Mas, por que as pessoas acreditam nisso? Será que os sacerdotes da Umbanda e do Candomblé são tão poderosos e macabros que seriam capazes de realizações dessa natureza? Ou seriam eles (os sacerdotes) pessoas dotadas de um conhecimento transcendental tão absurdo que beiraria o cômico? Religião e/ou prática religiosa tem que servir para alguma coisa? Tem que dar resultado? Tem que resolver o problema de uma pessoa que foi desprezada por um amor perdido? Tá certo que o sofrimento deixa muita gente com miopia ou falta de discernimento. E que as práticas rituais das religiões de matrizes africanas são envoltas de 'mistérios' e 'segredos'.

Mas, tem alguma coisa por detrás disso que precisamos refletir.

Não é apenas o desconhecimento da população sobre os princípios religiosos de umbandistas e candomblecistas que faz com que estelionatários abusem de religiões já tão historicamente vilipendiadas. Os veículos de comunicação precisam decidir se propaganda religiosa é igual a publicidade religiosa e/ou venda de serviços.

Propaganda – como o próprio termo explicita – é propagandear ideias ou conceitos sobre determinado assunto ou produto. Ela pode ser feita para construir opiniões sobre partidos políticos, religiões, times de futebol... Publicidade é a venda de uma mercadoria ou serviço. E toda publicidade é passível de regulamentação.

O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR) existe para fiscalizar se um anúncio é idôneo ou não. Se não for, tanto a empresa que anunciou quanto o veículo que publicou são passíveis de pesadas multas. Ora, se um anunciante contrata um espaço de publicidade para vender um serviço religioso ele não está fazendo propaganda (construindo ideias). Ele está anunciando o seu produto para venda. E isso deveria fazer diferença.

Outra coisa que devemos pensar é sobre como controlar esse tipo de anúncio. Se os veículos de comunicação não têm como saber quem é ou não um sacerdote afro-religioso, eles deveriam perguntar a quem de fato deve ter este tipo de conhecimento.

Se não existe uma instituição que represente todos os religiosos de matrizes africanas – como a diocese católica, por exemplo – que os veículos, então, elejam um sacerdote reconhecido pela sociedade para que ele possa atestar que o possível anunciante dos classificados não é apenas mais um estelionatário. Mudança de atitude? Sim. Mas só porque a mídia – e as nossas relações com o que é divulgado nos veículos de comunicação, em tempos globalizantes – mudou.

O que é informado - nos jornais, rádios, TVs e revistas - é entendido como verdade pelos leitores/ouvintes/espectadores. Mesmo que a informação esteja no caderno de classificados. Isso porque quem não é jornalista ou publicitário não tem a obrigação de saber o que é assunto noticioso ou o que é anúncio. Os Informes Publicitários são caríssimos porque fazem publicidade com ares de notícia... Este é um dos nós contemporâneos que os veículos de comunicação respeitáveis deveriam tentar desatar.

Se por um lado, a Umbanda e o Candomblé são expressões religiosas legítimas e autênticas dos brasileiros, por outro, a grande maioria da população desconhece o que efetivamente esses religiosos fazem.

O problema é que desconstruir o senso comum – do estereótipo, do folclore, da discriminação – que rondam essas religiões deveria ser também assunto dos veículos de comunicação que efetivamente se comprometem com a liberdade de expressão - que não é sinônimo de irresponsabilidade com os leitores, suas fontes e anunciantes.