quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

SÃO CIPRIANO

Venerado pela igreja, adorado pelos feiticeiros, respeitado pelos magos…



São Cipriano, bispo de Antioquia, passou para a história co­mo um már­tir e ganhou a fama co­mo o mago mais conhe­cido do mundo.



Nascido no século III d.C., segundo a len­da, ele logo entrou para a irmandade dos magos depois de uma estadia entre os persas.


Na sa­grada terra do culto do fogo, ele aprendeu as ar­tes adivinhatórias e in­vocatórias.


Os ances­trais espíritos e gênios eram conhecidos por Ci­priano, que mantinha con­tato fre­qüente com o Mundo Invisível.


Voltando para sua cidade natal, Ci­priano começou exercer sua ren­tável pro­fissão.


Logo adquiriu fama e era pro­cu­ra­do por nobres, comerciantes e guer­rei­ros.Certo dia um cavalheiro apaixo­nado pe­diu um feitiço amoroso, um “filtrum”, co­mo chamamos em magia natural.


O al­vo era a bela e jovem Justina, nobre vir­­gem cobiçada por muitos ricos senho­res.


Justina havia sido recentemente con­ver­tida a uma nova e estranha religião…


Seus seguidores adoravam um judeu cru­cificado da Palestina que tinha feito muitas curas e profecias.


Aos olhos dos antio­que­nos isso era até engraçado.


Por que adorar um homem, se existiam tantos deu­ses e gênios?


Cipriano preparou um filtrum e nada acon­­teceu.


O cavalheiro apaixonado re­cla­­mou e exigiu o dinheiro de volta.


Nosso mago, muito contrariado e não acostu­ma­­do a falhar, refez a poção e adicionou um conjuro especial.


Nada!


Agora a coisa era para valer!


O Mestre Cipriano convocou o Rei dos Gênios em pes­­soa.


Dentro do círculo mágico ele or­de­­nou e o terrível Jinn se fez presente.


O gênio explicou que Justina era serva de uma entidade de maior magnitude e nada poderia fazer…


Dito e feito.


Movido pela curiosidade Cipriano vai até Justina.


Estabelece uma rica conversa com ela e percebe na garota uma luz espe­cial.


Dias depois, o poderoso Cipriano se con­vertia ao Cristianismo primi­tivo,
que nesta época era uma re­ligião cheia de magia, sa­be­doria e simplicidade.


Afinal, o Cristianismo nas­cente era o her­deiro da religião dos velhos ma­gos da Pérsia.


Não esta­vam os três grandes ma­gos persas diante do me­nino Jesus na noite de Na­tal?


Cipriano e Justina mor­rem juntos durante a perseguição aos cristãos.


Séculos depois, curan­dei­ros e benzedores eu­ro­pe­us vão pedir a Cipria­no, que virou santo, fa­vo­res e saberes.


O culto de São Cipriano chegou ao Brasil com os degredados portugueses perseguidos pela Inquisição.


Na memória eles traziam as fórmulas, orações e magias ciprianas.


Bem mais tarde os primeiros “livros de São Cipriano” chegaram aqui.


Com a chegada dos negros escravos, os Mulojis (xamãs) bantus tomaram conhe­cimento da tradição do mago de Antioquia.


Boa coisa!


Na Kimbanda Cipriano era con­siderado um Makungu (ancestral divi­ni­zado) e digno de culto.


Em Angola os Mu­lojis já cultuavam Santo Antonio, que se encarnou numa profetisa bantu cha­ma­­da Kimpa Vita.


Por isso, dentro do cul­­to de Cipriano os xamãs botaram muitas mirongas e mandingas.


O tempo passou e a Kimbanda virou Quimbanda.


Elementos da feitiçaria ocultis­ta e mesmo da magia negra penetraram nos ensinamentos dos sábios Tios e Tias africanos.


São Cipriano entrou nos mistérios da noite.


O respeito virou medo e assombro.


O santo ganhou Ponto Cantado, Riscado e Dançado.


Pulou do altar para o chão de terra, virou chefe de Linha e Falange, vestiu toga negra e até adquiriu um gato preto!


Na Lua Cheia de agosto ele tem festa à meia-noite, junto com a Comadre Salomé e os Compadres Bode Preto e Ferrabrás.


Até uma Fraternidade Mágica ele ganhou, quando Dom Fausto, um cu­randeiro,


encontrou um frade agonizando perto de um local desértico.


Examinando o doente, ele notou que o religioso fora mordido por uma vene­nosa serpente e estava à beira da morte.


Dom Fausto o carregou até sua casa e o curou com a ajuda de preciosas ervas.


Como agradecimento, o frade presenteou o curandeiro com uma velha cruz de ma­deira.


Noites depois, na pobre casinha de Dom Fausto, ocorreu um fato sobre­na­tural.


Uma estranha e misteriosa luz ema­nou da cruz, preenchendo todo o am­biente.


O curandeiro acordou e viu, ao la­­do da cruz iluminada, a figura de um velhinho barbado com mitra na cabeça.


O personagem que segurava um cajado, sorriu para ele e disse:


-“ Venho até você e peço…


Crie uma fraternidade de bons homens e mulheres, façam a caridade e curem em nome de Deus.”


O curandeiro, admirado, perguntou:


- “Quem é você?”


O espírito respondeu:
- “Sou Cipriano!”


Dias depois, Dom Fausto reuniu seus tios, alguns primos e contou o ocorrido.


Nasceu assim uma Fraternidade de cura sob a proteção de São Cipriano.


Isto acon­teceu no século XVIII, em Dezembro de 1771.


Durante algum tempo o piedoso gru­po só admitiu parentes.


Porém, se­gundo orientações espirituais, foram sendo convidadas pessoas de boa índole de ou­tras famílias e procedências.


Por tradição uma cidade mágica era escolhida para sediar a Fraternidade.


O critério da escolha sempre foi motivado por estranhas leis estudadas na Radiestesia.


Paraty (RJ) foi a cidade escolhida, pois, além das condições telúricas excelentes,


ela é toda construída com sólido simbo­lismo maçônico.


Coincidentemente, a re­gião também tinha forte presença kimban­deira e quimbandeira,


que com o tempo chegou até a receber os místicos cultos da Cabula e da Linha das Almas.


Hoje a cida­de não fica por menos, já que conhecemos algumas irmandades de iniciados caba­listas,


templários e yogues que se estabe­leceram por lá.


Na Quimbanda os espíritos de alguns pretos velhos de origem bantu se filiam na Linha de São Cipriano.


Estas são almas de antigos mandingueiros, feiticeiros (aqui com o sentido de xamã) e kalungueiros.


Todos mestres nas artes da cura e da magia.


Muitos até adotam o nome do Pa­­trono:


Pai Cipriano das Almas, Pai Ci­priano Quimbandeiro, Pai Cipriano de Angola…


Estas entidades recebem ofe­rendas na kalunga pequena, perto do Cruzeiro.


Também são ofertadas nas por­tas das igrejas e capelas.


Oferendas: Velas brancas ou brancas e pretas, marafo, café preto e tabaco.


Uma Linha pouco conhecida, mas também ligada a São Cipriano, se chama Linha dos Protetores.


Neste grupo tra­ba­lham espíritos de velhos magos europeus, ciganos curandeiros e misteriosas entida­des do fundo do mar.

São Cipriano está vivo e é do bem.


As receitas exóticas dos Livros de São Ci­priano


(Capa de Aço, Capa Preta, Capa Vermelha, etc…)


jamais foram praticadas ou escritas por ele.


Elas são uma triste con­­tribuição da magia negra européia.


Os segredos de São Cipriano passa­ram para os Mulojis da Kimbanda e


foram repartidos com alguns adeptos da Quim­banda.


Contudo, ainda existe o mistério.


Quais seriam estes segredos?





Como diz um velho Ponto Cantado de São Cipriano:
“Santo Antonio é mandingueiro,
Santo Onofre é mirongueiro.
Ai, ai, ai, meu São Cipriano…
Negro que sabe fazer bom feitiço,

Faz em silêncio, fala pouco e é quimbandeiro!”


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