Chama-se o noivo.
Chama-se a noiva.
Senhor Deus coma tua permissão, de teu filho Jesus, de Maria Santíssima, dos Orixás, do Caboclo Pena Verde da Mata Virgem (guia chefe da casa) e de todos os Guias, Mentores e Protetores desta casa, abrimos a sessão de matrimônio, pedindo que a Tua força e a Tua paz e as forças do universo neste momento se unam a nós.
Estrela Clareia a Terra
Estrela Clareia o Mar
Clareia o Gongá de Pena Verde, clareia
Clareia os filhos do Gongá
Segundo as normas da religião e da nossa casa, e de acordo com as palavras de Xangô, que nos ordena leal obediência às leis e às autoridades constituídas, como suficientes para satisfazer a instituição divina do matrimônio, celebro esta cerimônia segundo os ensinamentos de Oxalá e seus enviados.
Oração de São Francisco
Resume o amor toda a doutrina de Jesus, por ser o sentimento por excelência;
E os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso realizado.
Em sua origem o homem só tem instintos;
Mais adiantado e corrompido, só tem sensações;
Quando, porém, instruído e purificado, tem sentimentos, e o ponto extremo do sentimento é o amor.
Não o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interno, que condensa e reúne em seu foco ardente todas as aspirações e todas as revelações sobre humanas.
A lei do amor substitui a personalidade pela fusão dos seres e aniquila os desvios sociais.
Feliz aquele que, elevando-se acima da humanidade, quer com grande amor a seus irmãos sofredores!
Feliz aquele que ama, porque nem conhece os desvios da alma nem os do corpo.
Seus pés são ligeiros e vive como que transportado para fora de si mesmo.
Quando Jesus pronunciou esta divina palavra – AMOR – fez estremecer os povos e, ébrios de esperança, os mártires desceram ao circo.
Por sua vez o espiritismo vem pronunciar a segunda palavra do alfabeto divino.
Atenção!
Essa palavra levanta a pedra dos sepulcros vazios; e, triunfando sobre a morte, a reencarnação revela ao Homem ofuscado, seu patrimônio intelectual.
E já não conduz aos suplícios, mas à conquista de seu ser, elevado e transfigurado.
O sangue resgatou o espírito e o espírito deve hoje resgatar o Homem da matéria.
Coroa linda é a coroa de Oxalá
Coroa que brilha no alto
Coroa que brilha no mar
Coroa que brilha na terra
É a coroa de Oxalá
Que o vosso amor seja puro como o ouro que estas alianças contém, e intérmino como o círculo que elas representam.
Com este anel, em nome de Zambi, Oxalá e de Ifá, selo minha união contigo, enquanto vida tiver.
Pombinha branca, que Oxalá mandou
Pombinha branca, que Oxalá mandou
Foi no pé da laranjeira, pombinha branca pousou
Foi no pé da laranjeira, pombinha branca pousou
Irmãos, dada a pureza deste ato, convido-os a repetirem comigo:
Visto que (noivo) e (noiva) consentiram ambos no santo matrimônio e os testificaram na presença de Zambi, das entidades e destas testemunhas e, para este fim deram e empenharam a fé e a palavra, um ao outro, pela união das mãos, eu os declaro marido e mulher, casados, em nome de Zambi, Oxalá e Ifá. Assim seja.
A estrela de Oxalá brilhou, brilhou
A estrela de Oxalá nesta casa já entrou
Eterno Zambi, criador e conservador de todo o gênero humano, doador de toda a graça espiritual e autor da vida eterna, derrama a tua benção sobre teus servos, que abençoamos em teu nome, a fim de que possam cumprir fielmente e guardar constantes os votos e promessas que acabam de fazer um ao outro e permanecendo em perfeito amor e paz, vivam sempre segundo os teus santos mandamentos, mediante Oxalá, nosso senhor.
“Pai nosso que estais nos céus, nos mares, nas matas e em todos os mundos habitados;
Santificado seja o teu nome, pelos teus filhos, pela natureza, pelas águas, pela luz e pelo ar que respiramos.
Que o teu reino, reino do bem, do amor e da fraternidade, nos una a todos e a tudo que criaste, em torno da sagrada cruz, aos pés do divino salvador e redentor.
Que a tua vontade nos conduza sempre para o culto do amor e da caridade.
Dá-nos hoje e sempre a vontade firme para sermos virtuosos e úteis aos nossos semelhantes.
Dá-nos hoje o pão do corpo, o fruto das matas e a água das fontes para nosso sustento material e espiritual.
Perdoa, se merecermos, as nossas faltas e dá-nos o sublime sentimento do perdão para os que nos ofendam.
Não nos deixe sucumbir ante a luta, dissabores, ingratidões, tentações dos maus espíritos e ilusões pecaminosas da matéria.
Envia, pai, um raio da tua divina complacência, luz e misericórdia para os teus filhos; pecadores que aqui labutam pelo bem da humanidade” Assim seja.
Zambi, Oxalá e Ifá voa abençoe, conserve e guarde, e o senhor ponha favoravelmente os olhos sobre o vosso lar, estreite os vossos corações e de tal modo vos farte de graças e bênçãos espirituais, que, vivendo unidos no senhor, haja paz no vosso lar, neste mundo e, no outro, possais participar da bem-aventurança eterna em Oxalá, nosso senhor e mestre. Assim seja.
A paz esteja com todos! Assim seja.
Estrela, oh estrelinha
Estrela de Pai Oxalá
Oh ilumina estes filhos
Para que eles possam caminhar
Seria isso um desprezo pela própria religião? Ou uma forma de minimizar a importância daquilo que escolheu para si e que deveria nortear sua vida?
Talvez nem uma coisa nem outra. O fato é que, por diversos motivos, muitos deles históricos e outros tantos sociais, o próprio umbandista busca em outras religiões, como já foi dito, especialmente no Catolicismo, a oficialização de momentos importantes de suas vidas. É como se algumas situações exigissem o crivo católico, tradicional e bem quisto, para legitimar-se. É como se a Umbanda, apesar de toda a sua história de luta e resistência, não bastasse para sacramentar os momentos decisivos da vida de seus filhos. É como se o próprio umbandista não reconhecesse na Umbanda a sua autoridade espiritual.
A realidade é que muitos segmentos da sociedade ainda enxergam a Umbanda como um religião de pobres e desprovidos de cultura – note o ranço de preconceito – e, assim, ainda buscam em instituições que julgam oficiais, os sacramentos que facilmente encontrariam dentro da Umbanda.
Por outro lado, não há como atirar pedras naquele que realiza o casamento em outra religião, justamente porque ainda existe esse preconceito em torno das religiões que possuem um de seus pilares na África. Experimente alguém, de família não umbandista, realizar o seu enlace matrimonial dentro de um terreiro.
Quantos convidados comparecerão?
E, daqueles que comparecerem, quantos estarão ali realmente de coração (e mente) aberto ao ritual?
Quantos buscarão os pretextos mais fúteis para não comparecer?
E quais serão os comentários daqueles que comparecerem, após o ritual?
Ao final das contas, perante a sociedade, é como se o casamento não tivesse acontecido, por isso é compreensível que as pessoas, mesmo se dizendo umbandistas, procurem realizar seus casamentos dentro daquelas religiões que arriscamos chamar de mais tradicionais, mas que são, na realidade, mais aceitas pela sociedade. Concluímos assim que esses acontecimentos são mais sociais do que religiosos: trata-se da formalização de um rito de passagem, que assim sendo, necessita daquilo que é cobrado informalmente pela sociedade, e não daquilo que o coração e alma pedem.
Já é passado do momento do umbandista assumir sua religião em toda plenitude que ela pede e merece, fazendo valer os sacramentos, liturgias e tradições que a caracterizam. Embora seja sabido que a sociedade ainda possui fortes raízes no catolicismo (mesmo aqueles que não se declaram católicos), é importante ao umbandista fazer da Umbanda a sua filosofia de vida, sem medo ou vergonha, como forma de chamar para si e para seus irmãos-de-fé o respeito que tanto clamamos por anos e anos.
Douglas Fersan
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