domingo, 3 de julho de 2011

NAÇÃO XAMBÁ

Nação Xambá é uma religião afro-brasileira ativa em OlindaPernambuco. Alguns autores como Olga Caciatore (Dicionário de Cultos Afro-Brasileiros. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 3ª Edição, 1988) e Reginaldo Prandi (Candomblés de São Paulo. São Paulo, HUCITEC, 1991) afirmam que culto Xambá no Brasil está praticamente extinto.

Historia

Com o falecimento da grande Iyalorixá do Xambá, Severina Paraíso da Silva “Mãe Biu”, como era mais conhecida em 1993, o herdeiro do trono do Xambá é o Babalorixá Adeildo Paraíso. Conhecido popularmente e pelos que fazem parte daquele terreiro como Ivo do Xambá, que convocou seus filhos de Santo: Profs. Antonio Albino, Hildo Leal e João Monteiro, para elaborarem um projeto arrojado e inovador, para o Terreiro Portão do Gelo, que seria o Memorial do Xambá, onde seriam reunidos e preservados documentos fotográficos e objetos ligados à vida e a atuação da grande líder religiosa, bem como da memória do “Terreiro Santa Bárbara Nação Xambá".
Fugindo de Maceió, capital do estado de Alagoas, no início da década de 20 do século XX, o babalorixá Artur Rosendo Pereira, de acordo com a “Cartilha da Nação Xambá” (Hildo Leal Rosa,2000), devido à perseguição política às religiões Afro-brasileiras da época, se estabelece no Recife, mais exatamente na Rua da Regeneração, no bairro de Água Fria. Antes mesmo de fugir da repressão política e ainda residindo em Maceió, obabalorixá Artur Rosendo viaja à Costa da África onde permanece por quatro anos e com Tio Antonio, que trabalhava no mercado de Dakar, noSenegal vendendo panelas, segundo René Ribeiro. E por volta de 1923, seguindo as tradições da Nação Xambá, e já em Recife, reinicia suas atividades de zelador de Orixás.
babalorixá Artur Rosendo iniciou muitos filhos de santo, tendo muitos deles aberto terreiro.
Uma de suas filhas mais notáveis foi Maria das Dores da Silva “Maria Oyá” iniciada em 1928. A saída de iyawó de Maria Oyá foi realizada sem toque dos tambores e cantada em voz baixa por causa da perseguição. Logo após a iniciação de Maria Oyá, Artur Rosendo volta para Maceió.
Em 1930Maria Oyá inaugura seu terreiro na rua da Mangueira no bairro de Campo Grande em Recife. Com a conclusão de sua iniciação em 13 de dezembro de 1932, recebe no barracão as folhas, a faca e a espada das mãos de seu babalorixá que realizou ao meio dia o ritual de coroação de Oyá no trono. Cerimônia belíssima que ate hoje é repetida mantendo a tradição Xambá de Pernambuco.
Em 1932 Maria Oyá tira seu primeiro barco de três iyawôs. Ainda em 1932 ela inicia seu segundo barco de iyawôs, este maior e iniciando principalmente Donatila Paraíso do Nascimento que em 1933 assume o cargo de Mãe Pequena do terreiro Santa Bárbara vindo a falecer em 2003 aos 92 anos e passando 60 anos de sua vida no cargo sendo mais conhecida como Mãe Tila, uma outra filha ilustre foi Lídia Alves da Silva (Talabi).
Daí em diante a sucessão de iniciações crescem, o Xambá passa a brilhar ainda mais. Quando em junho de 1935 Maria Oyá inicia nos ritos a sua mais primorosa filha, a que lhe sucederá, Severina Paraíso da Silva, “Mãe Biu”.

Ilús Abertura Religiosa - Foto: Pejigan Clô D'Ogyian
Com o passar dos anos e com a violência policial do Estado Novo cada vez mais rígida. Em 1938 Maria Oyá é obrigada a fechar seu terreiro.Terreiro esse que não mais abrira suas portas guiado por aquela que pela mãos de Artur Rosendo Pereira trouxe o Xambá para Pernambuco. Pois em 1939 Maria Oyá se despede de sua vida terrena, deixando o Xambá órfão. É ainda nesse duro período de perseguições que juntamente com as outras nações de candomblé cultuadas em Pernambuco que todos os terreiros são fechados e seus fieis tolhidos, durante 12 longos anos até 1950, daquilo que lhes é mais precioso, do culto de seus OrixásInkices e Voduns.
Porém, como depois de uma guerreira de Oyá há de vir uma outra guerreira para continuar a luta por seus ideais, pela conservação dos ritos e mitos de uma tradição, Mãe Biu de Oyá Megué reabre o terreiro Xambá em 1950 na Estrada do Cumbe, 1012 no bairro de Santa Clara na cidade do Recife. Tendo como seu babalorixa o Sr. Manoel Mariano da Silva, como Iyalorixá D. Eudoxia, como padrinho o Sr. Luiz da Guia e madrinha D. Severina. Tendo permanecido nesse endereço por apenas dez meses, no dia 7 de abril de 1951 o terreiro se muda para o atual endereço na antiga rua Albino Neves de Andrade, hoje em homenagem a sua grande Mãe Biu, rua Severina Paraíso da Silva, 65 na localidade do Portão do Gelo, bairro de São Benedito – Olinda – Pernambuco.
Com o falecimento de Mãe Biu, que durante 54 anos dirigiu o Terreiro Xambá, auxiliada por sua fiel e inseparável irmã e amiga Mãe Tila que então assume o cargo de Iyalorixá do Xambá por um período de 10 anos, tendo como babalorixá seu sobrinho carnal Adeildo Paraíso, filho carnal de Mãe Biu. Hoje em 2004 com o falecimento de Mãe Tila, assume o Trono do Xambá a Iyalorixá Maria de Lourdes da Silva de Iemanjá, iniciada por Mãe Biu em 18 de maio de 1958.
A jovem guarda do Xambá de Pernambuco orgulha-se de seu terreiro, do seu povo, de sua simplicidade sem invenções modernas, sem sequer mudar uma linha do que lhes deixou seu propulsor e suas grandes e humildes mães de santo. O terreiro Xambá está lá no no bairro Portão do Gêlo, preservado, conservado e servindo de exemplo para muitos terreirostradicionais. O Memorial do Xambá foi criado de acordo com a solicitação de seu babalorixá aos seus filhos, para contar a historia de um povo aguerrido e ordeiro. O Grupo Bongar é formado por seis percussionistas e cantores da Nação Xambá, realiza um trabalho de resgate e divulgação da cultura e religião Xambá e de sua dança tradicional o coco.[1]


Orixás

Apesar dos Orixás serem praticamente os mesmos do Candomblé, existe bastante diferença na forma de culto.
Orixás cultuados na tradição Xambá:
Exú – Ogum – Odé – Bêji – Nanã – Obaluaiê – Ewá
Xangô – Oyá – Obá – Afrekete – Oxum – Yemanjá – Orixalá


Ritual

O ritual é semelhante ao do Candomblé.
Calendário de festas:
Toque de Obaluaiê - 21 de janeiro
Toque de Oxum - 11 de fevereiro
Toque de Ogum - 29 de abril
Toque de Yemanjá - 27 de maio
Toque de Xangô - 17 de junho
Coco da Xambá - 29 de junho - Aniversário de Mãe Biu
Toque de Orixalá - 29 de julho
Aniversário do Babalorixá da Casa - Ivo do Xambá - 06 de agosto
Dia do Quilombo Urbano do Portão do Gelo[2] - 24 de setembro
Toque de Bêji - 30 de setembro
Toque do Inhame - 28 de outubro
Dia da Consciência Negra - 20 de novembro
Louvação de Oyá - 12:00 - 13 de dezembro
Toque de Oyá - 16 de dezembro
Os toques sempre são as 16 horas da tarde. Em todos os toques é servido aos filhos de santo da casa e aos convidados um café com manguzá, que é tradição da casa.
Aos visitantes:
  • Não será permitido uso de roupas pretas
  • O homem deve se vestir de calça (nunca bermuda, short ou camiseta regata)
  • A mulher deve se vestir de saia ou vestido abaixo do joelho (nunca de calça nem camiseta)


Nação Xambá homenageada

O Governo do Estado de Pernambuco e o Grande Recife Consórcio de Transporte adotaram o nome Xambá para o Terminal Integrado de Ônibus que está sendo construído próximo aoTerreiro. O Terminal Integrado de Xambá está para ser entregue e inaugurado em Agosto de 2011.
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Descubra um pedaço da África que existe em Olinda



Reprodução/TV Globo
Foto: Reprodução/TV Globo
Uma viagem a um pedacinho da África. Não precisa andar muito: é em Olinda, no bairro de São Benedito. Um lugar onde a Nação Xambá, preserva há 80 anos a cultura e a religião africanas, completados na última terça-feira (8).


“A Nação Xambá é um pedaço da África. Na minha época de criança, a gente vivia como um verdadeiro africano. A gente batia café, pegava lenha na mata, lavava roupa no rio, estendia roupa no quarador”, conta Lula da Xambá.


O Portão do Gelo é o primeiro quilombo urbano do Nordeste - o terceiro urbano do país. “Somos uma comunidade negra, de terreiro. Toda origem da África está aqui dentro da casa de Xambá”, disse Cacau da Xambá.


Uma Nação que eles fazem questão de colocar nos nomes e na dança. “Está no
sangue do meu neto, do meu filho. A gente vive todo dia gingando e se esquivando de todos os males. Capoeira é o dia-dia, é viver”, contou o mestre, músico e capoeirista Pácua.


“Aqui, a gente faz uma religião de matriz africana, e é como se eu estivesse eternizando a Nação Xambá”, disse o babalorixá tio Ivo, que faz parte de uma história que começou em Pernambuco em 1930.


“Em 1930, quando o terreiro é fundado, três famílias principais vão constituir essa comunidade. É a família de mãe Biu, de Maria Oyá e de Tia Laura”, explicou o historiador Ildo Leal Rosa.


Xambá é o nome de um povo africano. A Chambalândia é uma região perto da República dos Camarões e da Nigéria. “Em Pernambuco, foi introduzida pelo babalorixá Artur Rozendo. Ele vem para o Recife no início da década de 20. Abre o seu terreiro e passa a ter vários filhos de santo”, complementou.


“Uma vez que o candomblé, o culto que a gente pratica, foi trazido da África, o que a gente faz aqui é reproduzir o que se faz na África. Tem duas formas de você pertencer às religiões dos orixás. por sangue ou por uma ligação espiritual. No nosso caso, nós temos uma ligação espiritual com o povo Xambá, mas não temos uma comprovação ainda da nossa ligação de sangue”, contou.


”Acredito que nossa importância está no fato de sermos um dos componentes da cultura afro-brasileira, no caso afro-pernambucana, e a importância é que nós mantemos vivo um modo de vida, uma tradição religiosa, um jeito de ser que a gente sabe perfeitamente de onde veio. A nossa casa é um espelho do que a gente encontra na África. Uma comunidade que vive em família e praticando uma religião” falou.


Religião que pode ser praticada com a música, como faz o grupo Bongar. O Bongar é grupo musical dos jovens da nossa comunidade. Bongar significa busca do conhecimento espiritual. Eles já conseguiram isso, mas querem agora que outras pessoas conheçam os valores da Nação Xambá.


“A música que a gente produz é um retrato cotidiano da nossa comunidade que a gente vivencia. Só nos manteremos Nação até o dia que mantermos viva no cotidiano da nossa juventude as práticas e memórias”, falou Guitinho da Xambá.



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