A Nação Xambá é uma religião afro-brasileira ativa em Olinda, Pernambuco. Alguns autores como Olga Caciatore (Dicionário de Cultos Afro-Brasileiros. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 3ª Edição, 1988) e Reginaldo Prandi (Candomblés de São Paulo. São Paulo, HUCITEC, 1991) afirmam que culto Xambá no Brasil está praticamente extinto.
Historia
Com o falecimento da grande
Iyalorixá do Xambá, Severina Paraíso da Silva “
Mãe Biu”, como era mais conhecida em
1993, o herdeiro do trono do Xambá é o
Babalorixá Adeildo Paraíso. Conhecido popularmente e pelos que fazem parte daquele terreiro como
Ivo do Xambá, que convocou seus filhos de Santo: Profs. Antonio Albino, Hildo Leal e João Monteiro, para elaborarem um projeto arrojado e inovador, para o
Terreiro Portão do Gelo, que seria o
Memorial do Xambá, onde seriam reunidos e preservados documentos fotográficos e objetos ligados à vida e a atuação da grande líder religiosa, bem como da memória do “Terreiro Santa Bárbara Nação Xambá".
Fugindo de
Maceió, capital do estado de
Alagoas, no início da década de 20 do século XX, o babalorixá
Artur Rosendo Pereira, de acordo com a “Cartilha da Nação Xambá” (Hildo Leal Rosa,
2000), devido à perseguição política às
religiões Afro-brasileiras da época, se estabelece no
Recife, mais exatamente na Rua da Regeneração, no bairro de Água Fria. Antes mesmo de fugir da repressão política e ainda residindo em
Maceió, o
babalorixá Artur Rosendo viaja à Costa da
África onde permanece por quatro anos e com Tio Antonio, que trabalhava no mercado de
Dakar, no
Senegal vendendo panelas, segundo
René Ribeiro. E por volta de
1923, seguindo as tradições da Nação Xambá, e já em
Recife, reinicia suas atividades de zelador de
Orixás.
Uma de suas filhas mais notáveis foi Maria das Dores da Silva “
Maria Oyá” iniciada em
1928. A saída de iyawó de Maria Oyá foi realizada sem toque dos
tambores e cantada em voz baixa por causa da perseguição. Logo após a iniciação de Maria Oyá,
Artur Rosendo volta para
Maceió.
Daí em diante a sucessão de iniciações crescem, o Xambá passa a brilhar ainda mais. Quando em junho de
1935 Maria Oyá inicia nos ritos a sua mais primorosa filha, a que lhe sucederá, Severina Paraíso da Silva, “
Mãe Biu”.
Ilús Abertura Religiosa - Foto: Pejigan Clô D'Ogyian
Com o passar dos anos e com a violência policial do
Estado Novo cada vez mais rígida. Em
1938 Maria Oyá é obrigada a fechar seu
terreiro.
Terreiro esse que não mais abrira suas portas guiado por aquela que pela mãos de
Artur Rosendo Pereira trouxe o Xambá para
Pernambuco. Pois em
1939 Maria Oyá se despede de sua vida terrena, deixando o Xambá órfão. É ainda nesse duro período de perseguições que juntamente com as outras nações de
candomblé cultuadas em
Pernambuco que todos os
terreiros são fechados e seus fieis tolhidos, durante 12 longos anos até
1950, daquilo que lhes é mais precioso, do culto de seus
Orixás,
Inkices e
Voduns.
Porém, como depois de uma guerreira de
Oyá há de vir uma outra guerreira para continuar a luta por seus ideais, pela conservação dos ritos e mitos de uma tradição,
Mãe Biu de
Oyá Megué reabre o
terreiro Xambá em
1950 na Estrada do Cumbe, 1012 no bairro de Santa Clara na cidade do
Recife. Tendo como seu babalorixa o Sr. Manoel Mariano da Silva, como
Iyalorixá D. Eudoxia, como padrinho o Sr. Luiz da Guia e madrinha D. Severina. Tendo permanecido nesse endereço por apenas dez meses, no dia 7 de abril de
1951 o
terreiro se muda para o atual endereço na antiga rua Albino Neves de Andrade, hoje em homenagem a sua grande
Mãe Biu, rua Severina Paraíso da Silva, 65 na localidade do Portão do Gelo, bairro de São Benedito –
Olinda –
Pernambuco.
Com o falecimento de
Mãe Biu, que durante 54 anos dirigiu o
Terreiro Xambá, auxiliada por sua fiel e inseparável irmã e amiga
Mãe Tila que então assume o cargo de
Iyalorixá do Xambá por um período de 10 anos, tendo como babalorixá seu sobrinho carnal Adeildo Paraíso, filho carnal de
Mãe Biu. Hoje em
2004 com o falecimento de
Mãe Tila, assume o
Trono do Xambá a
Iyalorixá Maria de Lourdes da Silva de
Iemanjá, iniciada por
Mãe Biu em 18 de maio de
1958.
A jovem guarda do Xambá de
Pernambuco orgulha-se de seu
terreiro, do seu povo, de sua simplicidade sem invenções modernas, sem sequer mudar uma linha do que lhes deixou seu propulsor e suas grandes e humildes mães de santo. O
terreiro Xambá está lá no no bairro Portão do Gêlo, preservado, conservado e servindo de exemplo para muitos
terreirostradicionais. O
Memorial do Xambá foi criado de acordo com a solicitação de seu
babalorixá aos seus filhos, para contar a historia de um povo aguerrido e ordeiro. O
Grupo Bongar é formado por seis
percussionistas e
cantores da
Nação Xambá, realiza um trabalho de resgate e divulgação da
cultura e
religião Xambá e de sua
dança tradicional o
coco.
[1]
Orixás
Apesar dos
Orixás serem praticamente os mesmos do
Candomblé, existe bastante diferença na forma de culto.
Orixás cultuados na tradição Xambá:
- Exú – Ogum – Odé – Bêji – Nanã – Obaluaiê – Ewá
- Xangô – Oyá – Obá – Afrekete – Oxum – Yemanjá – Orixalá
Ritual
- Calendário de festas:
- Toque de Obaluaiê - 21 de janeiro
- Toque de Oxum - 11 de fevereiro
- Toque de Ogum - 29 de abril
- Toque de Yemanjá - 27 de maio
- Toque de Xangô - 17 de junho
- Coco da Xambá - 29 de junho - Aniversário de Mãe Biu
- Toque de Orixalá - 29 de julho
- Aniversário do Babalorixá da Casa - Ivo do Xambá - 06 de agosto
- Dia do Quilombo Urbano do Portão do Gelo[2] - 24 de setembro
- Toque de Bêji - 30 de setembro
- Toque do Inhame - 28 de outubro
- Dia da Consciência Negra - 20 de novembro
- Louvação de Oyá - 12:00 - 13 de dezembro
- Toque de Oyá - 16 de dezembro
Os
toques sempre são as 16 horas da tarde. Em todos os toques é servido aos filhos de santo da casa e aos convidados um
café com
manguzá, que é tradição da casa.
Aos visitantes:
- Não será permitido uso de roupas pretas
- O homem deve se vestir de calça (nunca bermuda, short ou camiseta regata)
- A mulher deve se vestir de saia ou vestido abaixo do joelho (nunca de calça nem camiseta)
Nação Xambá homenageada
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Descubra um pedaço da África que existe em Olinda
Foto: Reprodução/TV Globo
Uma viagem a um pedacinho da África. Não precisa andar muito: é em Olinda, no bairro de São Benedito. Um lugar onde a Nação Xambá, preserva há 80 anos a cultura e a religião africanas, completados na última terça-feira (8).
“A Nação Xambá é um pedaço da África. Na minha época de criança, a gente vivia como um verdadeiro africano. A gente batia café, pegava lenha na mata, lavava roupa no rio, estendia roupa no quarador”, conta Lula da Xambá.
O Portão do Gelo é o primeiro quilombo urbano do Nordeste - o terceiro urbano do país. “Somos uma comunidade negra, de terreiro. Toda origem da África está aqui dentro da casa de Xambá”, disse Cacau da Xambá.
Uma Nação que eles fazem questão de colocar nos nomes e na dança. “Está no
sangue do meu neto, do meu filho. A gente vive todo dia gingando e se esquivando de todos os males. Capoeira é o dia-dia, é viver”, contou o mestre, músico e capoeirista Pácua.
“Aqui, a gente faz uma religião de matriz africana, e é como se eu estivesse eternizando a Nação Xambá”, disse o babalorixá tio Ivo, que faz parte de uma história que começou em Pernambuco em 1930.
“Em 1930, quando o terreiro é fundado, três famílias principais vão constituir essa comunidade. É a família de mãe Biu, de Maria Oyá e de Tia Laura”, explicou o historiador Ildo Leal Rosa.
Xambá é o nome de um povo africano. A Chambalândia é uma região perto da República dos Camarões e da Nigéria. “Em Pernambuco, foi introduzida pelo babalorixá Artur Rozendo. Ele vem para o Recife no início da década de 20. Abre o seu terreiro e passa a ter vários filhos de santo”, complementou.
“Uma vez que o candomblé, o culto que a gente pratica, foi trazido da África, o que a gente faz aqui é reproduzir o que se faz na África. Tem duas formas de você pertencer às religiões dos orixás. por sangue ou por uma ligação espiritual. No nosso caso, nós temos uma ligação espiritual com o povo Xambá, mas não temos uma comprovação ainda da nossa ligação de sangue”, contou.
”Acredito que nossa importância está no fato de sermos um dos componentes da cultura afro-brasileira, no caso afro-pernambucana, e a importância é que nós mantemos vivo um modo de vida, uma tradição religiosa, um jeito de ser que a gente sabe perfeitamente de onde veio. A nossa casa é um espelho do que a gente encontra na África. Uma comunidade que vive em família e praticando uma religião” falou.
Religião que pode ser praticada com a música, como faz o grupo Bongar. O Bongar é grupo musical dos jovens da nossa comunidade. Bongar significa busca do conhecimento espiritual. Eles já conseguiram isso, mas querem agora que outras pessoas conheçam os valores da Nação Xambá.
“A música que a gente produz é um retrato cotidiano da nossa comunidade que a gente vivencia. Só nos manteremos Nação até o dia que mantermos viva no cotidiano da nossa juventude as práticas e memórias”, falou Guitinho da Xambá.
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