terça-feira, 1 de maio de 2012

SABEDORIA E AMBIÇÃO



'A sede de poder e a disputa ensandecida de domínio perante a comunidade umbandista, ainda entontecida pela difusão de fundamentos jogados diuturnamente nas mais diversas formas de mídia que disfarçam no Sagrado a venalidade de certos sacerdotes, impera nessas lideranças que travam verdadeira guerra para impor o seu modelo teológico. 


Assim, persistem numa busca ferrenha de adeptos para ter o rebanho maior, qual pastor que pula o seu cercado para pegar as ovelhas do vizinho.
Não importa se o do lado cobra, raspa, corta e mata. O que vale é aumentar os adeptos, qual "guru" de outrora que impressionava as multidões ao amansar tigres e cobras.


Lembrai-vos de que quanto maior a inteligência e a consciência, maior pode ser a ambição. Aos que muito sabem e ambicionam, muito será cobrado pelos orixás."


Ramatís




O texto acima fala com clareza o que acontece em muitos terreiros de nossa terra. Lideres espirituais que, com sua cabeça de vento, acham que casa cheia significa maior poder frente aos Orixás. Impressionar os médiuns e visitantes com  roupas luxuosas, ferrar quase todos os dias, kilos e kilos de comida arriada, litros e litros de bebidas (a maior parte consumida pela matéria), cenas até muitas vezes hilariantes na frente do público frequentador. Estas atitudes, ao contrario do que pensam, acabam por fazer na verdade exatamente com que os médiuns e os frequentadores fujam destes terreiros. Pense comigo, estou começando a frequentar uma casa, como médium ou não, vejo os gastos feitos pelos que já estão lá, vejo o sangue dos animais sendo derramado por qualquer motivo banal, vejo várias pessoas bebendo muito e fazendo espetáculos teatrais em nome dos Orixás. 




Em uma casa que fui visitar a algum tempo atras era gira de Xango. Uma festa em homenagem ao Orixá da justiça. Terreiro muito bem arrumado, filhos de santo muito bem vestidos, vários Babalorixás convidados, promessa de Ageum grandioso após os festejos. A Ialorixá, chefe do terreiro inicia a sessão (com 1 hora de atraso), defumação, oração, todo procedimento muito correto. Chamada de Xango. Um médium incorpora, salva o terreiro todo e para no meio, abaixa e fica na posição de cachorrinho (com os joelhos e mãos no chão) na frente do altar, outro médium incorpora, faz o mesmo caminho e se ajoelha ao lado do primeiro, a Ialorixá incorpora Xango, salva o terreiro e senta-se em cima do primeiro médium que incorporou e acaricia a cabeça do segundo. Levei algum tempo para compreender aquilo mas logo caiu a ficha. Pasmado percebi que o Xango estava sentado na pedra e acariciando o leão!
Os médiuns, filhos da casa, vão salvar o Orixá e salvam também a pedra e o leão, que respondia com um rosnado a cada filho que o saldava. Pai Magno de Oxossi, que estava a meu lado assistindo, não aguentou e caiu na gargalhada, fomos obrigados a sair  do terreiro. 




Coisas absurdas que fazem simplesmente para aparecer, mostrar para outros Babalorixás e visitantes o conhecimento no Santo. Abram seus olhos chefes de terreiros! Conhecimento no Santo não significa casa cheia ou incorporação teatral. Significa povo de Santo feliz, povo de Santo e frequentadores que encontram o que foram buscar no terreiro. Paz, harmonia, caridade, satisfação de ver seu dever comprido para com os Orixás. Quantos de vocês perguntam a seus filhos como eles estão antes e depois da sessão? Quantos de vocês observam a assistência para ver se estão todos bem? Quem controla o que os médiuns bebem dentro do terreiro? Sua casa é motivo de bons comentários no meio umbandista ou é motivo de chacota? Seu terreiro é uma casa de caridade ou um teatro que só se usa seda, cetim e muito brilho? Hoje mais do que nunca, vejo proliferar estes tipos de terreiros, onde o brilho das estrelas não é do Orixá, mas sim das jóias das Ciganas. A fumaça não é do pito do Preto Velho, mas sim dos charutos dos Exus. Porque o que dá status e dinheiro é trabalhar com Povo de rua. Preto Velho, Caboclo e Crianças não trás gente para a casa.
Pensamento muito errado de quem está nesta religião que prega a caridade e humildade.    

Nilo Coelho

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