Hoje eu tive um sonho.
Sonhei com o Caboclo Cobra Coral.
Cobra Coral é o Caboclo que minha mãe trabalha.
Cobra Coral me levou num terreiro.
Um terreiro muito branco e limpo, que tinha um chão de madeira e paredes brancas.
Um terreiro em que os médiuns todos estavam de branco e com guias coloridas na cor de seus Orixás.
Onde todos estavam descalços, não tinha roupas coloridas nem luxuosas, tudo branco e simples. Não existia vaidade. Tinham iniciantes, oburis, yaôs, Babalorixás e Yalorixás, só identificados pelas guias. Tinha Santas Almas atendendo nas segundas, kardecismo nas quartas e sessões de Orixás, Caboclos, Exus e Ibegis nos sábados. Ninguém mandava em ninguém, todos sintonizados num bem maior: ajudar quem precisava: vivos e mortos. Os Exus trabalhavam com roupas brancas, as crianças comiam doces e bebiam guaraná, os Pretinhos com cachimbos, vinho, café, os Caboclos não tinham enormes cocares que se arrastam no chão. Tinham somente seu charuto e seu curiado, descarregavam com muita curimba e passes. Não existia vaidade, só humildade e caridade. Não existia fofoca nem discussões, afinal os médiuns não tinham tempo pra isso, pois quando não estavam atendendo, estavam estudando. Não se importavam em ser melhores que ninguém, só em ser um servo de Oxalá. Tinha camarinha onde tudo era doado a quem necessitava, asilos, creches, orfanatos. Tinha grupos de arrecadação para ajudar as famílias pobres e os que nada têm.
Tinha festas pra todos os Orixás e entidades, para todo o povo que viesse, tinha muito amor ao próximo, não tinha intriga, nem falsidade, nem vaidade. Só era coroado quem estava preparado pelo Santo e pelo estudo. Tinha fundamento respeitado, não tinha nome este ritual.
Eu nunca vi um terreiro em que todos são tratados como iguais, que os iniciantes são colocados em um circulo e os coroados em volta para desenvolverem os novos. Em que as entidades não misturam a vida das pessoas com o atendimento, onde não existe confusão, onde não existe gente querendo ser melhor que seu irmão, onde as pessoas escondem o que sabem com medo de serem passados pra trás, onde o orgulho e a vaidade são mais importantes que o conhecimento, onde as roupas luxuosas e mirabolantes significam mais que a pureza do branco. Onde não existe a segunda intenção, onde a intenção e somente ajudar quem precisa. Um terreiro que mistura a Umbanda, o espiritismo e o catolicismo sem discriminações. Onde as Almas rezam, Exus rezam, Caboclos rezam sem pensar em compensações. Sem querer saber a cor, a raça ou se a pessoa tem bens ou não. Onde as pessoas antes de entrar na corrente são orientadas e cuidadas, indicadas para sua correta função dentro de uma casa de Santo. Onde todos desenvolvem com todos os Santos, com os irmãos da espiritualidade, que trabalha com psicografia, com passes, com pinturas, com aulas de curimba e de cambonagem. Como pode existir um terreiro assim? Que respeita todos os outros rituais, sem criticas, sem sugestões, sem impor nada. Com toda simplicidade e fé. Com aulas de fundamento, de curimba, de comidas, de dança, de tudo que o médium precisa saber.
Perguntei ao Caboclo: _Qual é esse ritual?
Ele me disse: _ É somente um ritual de amor ao próximo e aos Orixás. Qual nome você quer dar a este ritual?
Eu não soube responder.
Eu não conhecia um ritual assim.
Eu nunca vi um terreiro assim.
Eu queria um terreiro assim.
Acho que vou fazer um terreiro assim. Acho que vou criar um ritual novo. Um ritual onde exista fundamento. Um terreiro em que as pessoas gostem de ir pra se descarregar, pra conversar, se curar, se desenvolver e que as pessoas fiquem pra sempre. Que nunca queiram sair ou desistir dos seus Orixás. Um terreiro que todos sejam irmãos. Um terreiro de Amor e Paz.
E vocês? Não querem um terreiro assim?
E vocês? Que nome dariam a este ritual?
Obrigado Caboclo Cobra Coral por abrir meus olhos e me dar a inspiração.
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