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quarta-feira, 15 de setembro de 2010
POR QUE A SIMPLICIDADE NÃO SATISFAZ?
Depois de alguns anos militando na umbanda, comecei a desenvolver um senso critico no diz respeito a minha religião.
Passei a observar as mudanças, as evoluções, os retrocessos, o comportamento, enfim tudo que se refere ao dia a dia da Umbanda.
Uma coisa tem me incomodado muito; a falta de simplicidade que tenho observado nos terreiros. Quando iniciei na Umbanda, pés no chão, uma roupa branca, algumas velas brancas no altar e o terreiro estava pronto para funcionar, as entidades sempre presentes, os consulentes atendidos, os médiuns felizes por estarem ali, enfim uma atmosfera propícia para pratica do bem.
Não existiam cursos como, por exemplo, formação de “sacerdotes” em dois anos, nosso aprendizado era dentro do terreiro, ouvindo o dirigente, as entidades, os mais experientes.
Muitos vão dizer que a evolução é importante e faz parte da vida, concordo, mas penso que deva ser uma evolução inteligente, coerente.
Infelizmente tenho visto muitos que inventam rituais, fundamentos praticas, muitas beirando o absurdo, outros vão buscar em outras religiões, praticas que nada tem haver com a Umbanda, em nome de uma pretensa evolução.
Vejo a subserviência, a idolatria à pessoa do “pai de santo” muito grande, vejo que em muitos casos a espiritualidade fica em segundo plano, hoje Orixá virou sobrenome e até propriedade pessoal, terreiros viraram desfile de moda ou concurso de fantasias.
Aprendi que quando se vai a outro terreiro devemos saber entrar e sair, minha Mão de Santo, nos ensinou que quando visitamos outra casa, salvo se somos convidados pelo chefe do terreiro, somos assistência, e nosso lugar é “na fila do passe” como ela dizia. O que ocorre hoje é bem diferente, “pais de santo” que se acham no direito de exigir que se dobrem atabaques para ele, que se prestem reverencias, e muitas vezes ainda saem reparando, criticando ou caçoando do trabalho, e por que tudo isto? Justamente pelo fato de que a espiritualidade para eles é apenas um detalhe.
Não sei onde isto vai acabar, espero que acabe antes que a Umbanda acabe...
Amigos longe de mim querer generalizar ou ser o dono da verdade, como disse no inicio, sou apenas um observador do comportamento umbandista.
Ainda bem que temos terreiros que ainda mantêm a essência da Umbanda, onde a palavra de um Preto Velho ou de um Caboclo é ouvida e seguida. Onde o dirigente senta com seus filhos, ouve, explica, não tem vergonha de dizer “não sei, mas vou tentar aprender”.
Este texto nada mais é que um desabafo de um saudosista, que pisou muito em terreiro de chão batido, que limpou muito cinzeiro, que já caiu varias vezes de “bunda” no chão durante o desenvolvimento, que já levou muito “pito” de entidades, que teimou muitas vezes, mas que aprendeu a amar com todas as forças a Umbanda, e que depois de todo este tempo vivenciando a Umbanda tem uma pergunta aos Umbandistas:
POR QUE A SIMPLICIDADE NÃO SATISFAZ ?
Comentário:
Também aprendi, pratico e tento ensinar, uma Umbanda pé no chão. Uma Umbanda sem "Mistérios" e sem "Grandes Reveladores dos Mistérios". Uma Umbanda guiada pelas palavras dos Preto-velhos, Caboclos, Exus, etc.
Aprendi Umbanda batendo a cabeça no Congá e o joelho no chão do terreiro. Aprendi Umbanda limpando "cuspidô" e desentupindo cachimbo de Preto-Velho. Aprendi Umbanda com meu Pai de Santo e com os erros e acertos meus e dos meus irmãos. E principalmente conversando e observando as Entidades dentro do Terreiro.
Na Umbanda que aprendi, pratico e tento ensinar para meus irmãos, não existem "Mestres". Caboclo é Pai, Cabocla é Mãe. Ogum é Pai. Preta-Velha é Vó. E assim por diante.
O sapato, por melhor que seja, sempre fica do lado de fora da corrente. A roupa não requer luxo, desde que seja branca, esteja limpa e passada, está ótimo. As velas são coloridas porque queremos, mas poderiam ser todas brancas também.
Umbanda, na minha opinião, é linda porque é simples. Um copo d'agua, uma vela branca e pronto. Deus se manifesta, e como se manifesta.
O Terreiro é nossa maior escola. A cada trabalho uma aula. Nunca uma aula é igual a outra. E não se cobra nada pelo ensinamento, apenas humildade, amor, respeito e dedicação.
Nilo Coelho
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