O apontamento “êxtase” ou “transe” é um dos contextos mais polêmicos dentro da religião chamada Candomblé. Isso porque, as fontes de conhecimento são diversas, dos mais distintos provimentos, desde a oratória do século XVI até o XIX, passando pela literatura do século XX e finalmente, a digitalização da idade atual.
Com essa heterogeneidade no que diz respeito à abundância de fontes de conhecimento, podemos observar uma caracterização contraproducente quando se fala no imaterial e, uma disparidade positiva quando se fala no cultural. Trata-se de um paradoxo.
Não somente esses fatores contribuem para essas informações se tornarem esparzidas. Ao logo do descobrimento do Brasil, centenas de acontecimentos históricos influenciaram o Candomblé.
Unanimemente, quando se fala de Orixá, estamos falando de um assunto secundário, pois, o assunto primário é o Orí. Para compreender o que o Orixá faz em nossas vidas, devemos primeiramente entender qual é o papel do nosso Orí.
O que é o Orí? Qual é o papel de nosso Orí?
Muitos falam que é simplesmente a nossa cabeça. Outros dizem que é a morada de nosso Orixá. Essas duas definições são superficiais e descontextualizadas.
Orí, na grande realidade é nossa energia pessoal, singular e intransferível. É o coletivo de todas as nossas características com alto grau de inalienabilidade . É um universo único, próprio para cada ser.
A cultura Ioruba nos ensina que o deus primordial em todas as hipóteses é o nosso próprio Orí. Quando se fala puramente de Orí, nada se tem haver com outras energias. Até mesmo Orixá. Orí é uma espécie de deus. Nada se iguala. É o deus mais diferente do planeta. Logo, somos nossos próprios deuses.
O nosso Orí é a caixa central de todas as nossas informações. Digamos que é nosso “Central Processing Unit”. Diferentemente de nosso Odú – Random Access Memory; e de nosso Orixá – Disco Rígido.
O nosso Orí é formado conotativamente pelos quatro elementos do mundo da magia Ioruba: Ayè, Isò, Omí e Èmí. Cada um desses elementos possuem seus significados próprios, sendo respectivamente: materialidade, força do movimento, sentimentos e emoções e pensamentos e reflexões Tudo isso em conjunto, somado com nosso Odú e nossa singularidade (atributo concebido diretamente de Olodumare, ou Oluwá Nláòkán) – resulta em nosso Orí.
A forma com que o nosso Orí reage à recepção dessas informações é que nomeamos de Orixá.
Orixá é o nome que se dá à forma que nosso Orí reage ao receber essas energias.
Por isso temos esse nome conotativo: Orixá = Orí + Ixá = Anjo Guardião da Cabeça.
Esse “anjo guardião” é o fator resultante das recepções energéticas. Não é necessariamente um ser invisível, como o Espírito Santo, da Sagrada Trindade Católica, que nos protege de todo mal. Orixá é o nosso perfil psicológico.
Com isso, podemos asseverar com extrema precisão que, o êxtase ou o “transe” de Orixá é algo que vem de dentro. Não é algo que vem de fora... Não é algo que se recebe. Orixá é exalado... Expelido. Quando entramos em êxtase com nosso Orixá, nos tornamos um vulcão e o Orixá – seu magma.
Por isso, eu afirmo sem dúvidas e sem medo, que nós temos apenas um Orixá. Não temos juntó, nem terceiró, nem quateiró, nem quinteiró... Temos apenas um Orixá. Temos apenas um perfil psicológico (a não ser que a pessoa tenha dupla personalidade kk).
Então, iremos chamar o Orixá de DIVINDADE.
Agora... Falando sobre as energias exteriores, inicialmente iremos chamá-las de ENTIDADES.
Vejam que há uma grande, enorme diferença entre DIVINDADE & ENTIDADE. A primeira definição nos remete a compreensão de que – tal energia vem de fora... Uma energia exterior.
A umbanda foi fundada aqui no Estado do Rio de Janeiro, por Zélio Fernandino de Moraes, através do Caboclo Sete Encruzilhadas, com uma única finalidade: cultuar os nossos ancestrais... Cultuar as ENTIDADES.
Essas entidades as quais o caboclo se referiu são DENOTATIVAMENTE os nossos antepassados: Europeus, Ameríndios e Africanos.
As entidades européias ficaram conhecidas como “Padrinhos e madrinhas “ – os vulgos “Exus Catiços e Pombagoras”.
As entidades locais: os ameríndios – ficaram conhecidas como “caboclos e caboclas”.
Os africanos como os “pretos-velhos”.
No culto tradicional referente ao candomblé, não temos somente a devoção pelos Orixás. Temos também a devoção por nossos ancestrais, conhecidos como “Babás Egúngúns”.
Pra quem não sabe, a palavra “Ègún” significa “Osso”. Não necessariamente para representar um cadáver, mas sim, para dizer conotativamente que os ancestrais são a estrutura de nossas vidas, assim como os ossos são as estruturas de nosso corpo.
Então, na minha opinião, sem dúvidas alguma – todos e quaisquer candomblecistas podem sim cultuar os nossos ancestrais.
Só que acontece uma coisa: nenhuma passagem Ioruba, em seus ensinamentos, fala sobre a possessão de energias exteriores para dentro de um Orí. Fala sim sobre o culto, mas não menciona a tal incorporação.
Sim, os ancestrais existem. A incorporação deles não.
Como eu havia dito antes, o nosso Orí é um conjunto de características próprias e inalienáveis. Não acredito em incorporação.
É extremamente formidável que se saiba separar essas energias.
Orixá... DIVINDADE vem de dentro e é apenas um. Para vida toda. Apenas um!
Ancestral, ENTIDADE influencia... Vem de fora... É exterior. É a energia de outra pessoa que morreu na matéria.
por: Brad Pághanni
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