quinta-feira, 24 de março de 2011

Como Surgiu a Liberdade Religiosa no Brasil


Todos sabemos que temos a liberdade de escolher a religião que desejamos seguir, pois no Brasil há liberdade de religião. Mas, poucos sabem a quem devemos o direito de ser espíritas, ou umbandistas, ou protestantes, ou esotéricos. Sim, a emenda da liberdade religiosa custou muito trabalho e muita astúcia ao grande escritor e amante da cultura popular Jorge Amado.
Ele a preparou, porque viu a violência desmedida com que eram atacados os valores culturais provenientes da África. Tentavam de todos os modos exterminar tradições, costumes, deidades, línguas tribais, enfim, crenças do nosso povo. Jorge Amado conviveu com ialorixás, baianas, babalaôs, ekedes, escritores de magia, gente do axé. Os viu espancados e presos.
Em 1946 no Ceará viu protestantes saqueados por fanáticos com uma cruz à frente. Então escreveu a emenda da liberdade religiosa e saiu em busca de quem a assinaria junto com ele. O primeiro foi Gilberto Freire (autor de Casa Grande e Senzala), o sábio das coisas brasileiras, e depois, mais de oitenta parlamentares, de Otávio Mangabeira a Nestor Duarte, a assinaram.
Com a aprovação da emenda, a liberdade religiosa tornou-se lei. Foi na Constituição Democrática de 1946. Acabara-se a perseguição aos protestantes, a violência contra o Candomblé e a Umbanda.
Graças ao nosso maior escritor (permitam chamá-lo assim, pois o amo) Jorge Amado, hoje temos o direito de ter nossas Casas de Santo abertas e aceitas.
Ora, se a emenda favoreceu nossos cultos, fez o mesmo com o Protestantismo, religião fundada por Lutero, nascida de um protesto.
Vejam que hoje há verdadeiras campanhas contra os cultos afros. Por que?
Não foram perseguidos também os protestantes e os espíritas antes de 1946? Jorge Amado pensava por certo nos seus amados Ilês quando redigiu esta emenda da Constituição libertando todos os cultos. Mas, como disse, todos tiveram assim, liberdade.
Jorge Amado conviveu com Artur Ramos, Edison Carneiro (meu querido professor de Faculdade) e Verger, o francês dos axés e viu o sofrimento dos que seguiam os cultos vindos da bela África. E deu ao povo esta contribuição.
Logo, se você é do alá de Oxalá, do caruru de Ibeijis, da roda de santo, se cultua os nossos ancestrais caboclos tupis, tamoios, as nossas Juremas, se bate tambor, se louva Exú e canta para os
ciganos, se vai a outro culto e lê livro sagrado, se é maometano, se é paisano sem Deus, o problema é seu.
Maomé e o Islamismo foram importantes na Bahia e fizeram a primeira tentativa de libertar os negros. No meu livro “Malês, os negros bruxos”, conto estas estórias.
Corri todas as velhas igrejas desde a de Cosme e Damião em Pernambuco e Bahia. Fui a cultos ortodoxos, entrei em Mesquitas no Marrocos, no Egito, comunguei em Jerusalém, rezei no muro das lamentações em Israel, orei com Pentescostais, enfim, vi de tudo onde se fala em Deus.
A liberdade religiosa é um bem. Vamos respeitá-la.
No fundo somos todos iguais e o mais interessante é que a origem da raça humana é a África negra. De lá veio o DNA de todos nós, humanos e filhos de Deus.
Autora: Maria Helena Farelli
Fonte: Centro Espírita Trabalhadores Humildes

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