Um belo dia numa gira de pretos velhos a preta velha que eu estava cambonando disse pra uma moça da assistência:
"Fia vos mece vai acende essa vela no lado direito do cruzeiro da calunga pequena."
A moça olhou pra preta velha com aquele olhar típico de alguém que não entendeu nada do que foi dito, a preta velha docemente olhou pra mim e disse:
"Fio explica pra ela o que a nega mandou ela fazer."
Eu muito sem graça respondi:
"Vó eu sou novo na religião e não conheço muita coisa, só entendi qué pra ela acender a vela que a senhora está dando em algum lugar."
Ela deu uma risada gostosa, que só os pretos velhos sabem dar e me explicou.
"Fio quando a nega fala Calunga Pequena, essa véia fala do lugar onde oceis guarda os morto, e quanto argum guia te falar de Calunga Grande é o mar."
Eu sabia que se eu ficasse tirando dúvidas iria prolongar o atendimento da moça e era dia de casa muito cheia porém eu não ia aguentar voltar pra casa com aquela dúvida na cabeça e perguntei pra vó porque o mar é chamado de Calunga Grande.
Novamente a vovó deu aquela risada gostosa e disse:
"Fio o mar é chamado de Calunga Grande pois um mundaréu di genti morreu nele, no negrero que essa nega veio morreu muito nego duenti e os feitor jogaru tudo nu mar, e tiveru por mortaia o fundo do mar, fora as guerra e os pirata qui mataru muita genti tomem."
E assim eu compreendi, escrevi no papel o que a moça deveria fazer e entreguei pra moça a vela com as explicações.
Me lembro até hoje das doces palavras de Vovó Maria Conga, de quem guardo doces lembranças.
Adorei as Almas
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