domingo, 27 de fevereiro de 2011
EXU NÃO É FOFOQUEIRO !
É comum nos depararmos com a seguinte afirmação de alguns umbandistas:
“Tudo eu sei. Não adianta me trair, falar mentiras, que eu tenho um exú que faz com que a verdade de alguma forma chegue até mim. Cedo ou tarde eu fico sabendo de tudo”.
Geralmente, quando ocorre tal afirmação, a intenção de quem pronuncia este tipo de frase é de intimidar os ouvintes e forçar a fidelidade através do medo. Muitas vezes, já ouvimos isto da boca de dirigentes de terreiros.
O desejo das pessoas que falam este tipo de absurdo é tornar quem escuta, reféns de uma capacidade que elas na verdade não possuem.
Escolhem o Exú como a entidade que realiza este papel por alguns motivos:
1) o peso que a entidade Exú possui na imaginação das pessoas (força cega que faz o bem e o mal, dependendo da ordem que lhe for dada e do pagamento que lhe for ofertado), logo pode vir a ser usado para aplicar punições;
2) por considerarem esta entidade como aquela que trata dos assuntos mais terrenos (demandas, dinheiro, amor, magia etc.), o que referenda a sua capacidade de agir conforme ordenado.
3) Exú também é o mensageiro dos Orixás ou como dizem o escravo, logo servindo também de “menino de recados”.
4) as lendas e tradições que falam da necessidade de se aplacar a ira de Exú, antes de se iniciar qualquer ritual, para que o mesmo não provoque nenhum problema, o que faz de Exú uma entidade chegada a armar um maior barraco, como se diz no popular.
Baseado nestas crenças, Exú serve então, muito bem, para mensageiro e revelador de intrigas, mentiras, traições etc.
Nada mais absurdo e ignorante!
Exú é o executor da justiça kármica!
É uma entidade com hierarquia, direitos de trabalho dentro da Umbanda/Quimbanda bem definidos.
Tem responsabilidades e respondem por seus atos, assim como todos nós.
Exús são espíritos evolutivos e trabalham sim, para combater as demandas, bruxarias, feitiçarias e demais situações, que exijam o seus conhecimentos milenares nestes tipos de causas.
Não são forças cegas, como desejam alguns. São entidades justas, pois executam esta justiça. Cobram aquilo que é necessário cobrar e estão sempre sob a ação da Lei Kármica Divina.
Respondem aos Orixás como executores da Lei e não como seus escravos.
Para Exú não existe o que é certo e errado e sim o que é justo e merecido, seja isto aos olhos de quem recebe bom ou ruim.
Em outras palavras Exú é que faz as coisas acontecerem. Isto apenas para ficar em algumas de suas principais características e funções.
Agora, voltando ao caso acima descrito, realmente a pessoa que pronuncia a frase que iniciamos o texto, tem sim uma capacidade ou um dom…
Esta capacidade ou dom é chamado de FOFOCA. O mensageiro não é um Exú, mas sim uma entidade (ser humano) chamado de FOFOQUEIRO(A).
O que acontece é que as pessoas e locais onde normalmente ocorrem este tipo de situação, vivem e se alimentam constantemente de intrigas, confusões, leva-e-traz, disse-me-disse e toda sorte de artimanhas produzidas pelo mexerico e especulações.
Quando se trata do dirigente a situação se agrava e compromete toda a coletividade.
Ao se sentir traído, ao querer apurar uma história, ao se deparar com a mentira, por que não chamar os envolvidos e manter uma conversa franca, um diálogo aberto, na tentativa de que prevaleça a verdade e se encontre uma solução para o caso?
Não optando por este caminho, válido e saudável para a vida espiritual e material da coletividade, preferindo se informar e formatar o seu juízo de valor pela conversa de outros, o dirigente demonstra incapacidade, fragilidade moral, medo e extrema covardia.
Fatos como este provocam uma rede emaranhada de problemas em um terreiro. Quando se percebe, a desunião e a dispersão dos adeptos já está de tal forma, que não é mais possível fazer a união.
Alerta, irmão umbandistas! Se uma situação como esta existirem em suas casas espirituais, lembrem-se, que o objetivo da Umbanda é um só: a prática do bem, do amor, da caridade, a evolução espiritual dos adeptos e de quem bate a porta.
Exú não tem nada haver com esta rede de intrigas.
Exú não é fofoqueiro!!!
CAIO DE OMULU
PERGUNTAS E RESPOSTAS
AQUI PERGUNTAS ENVIADAS POR EMAIL OU COMENTÁRIOS.
Com quanto Exus eu posso trabalhar? (Verônica)
Para explicar tenho que fazer uma introdução de alguns conceitos.
Vejamos: Você recebe, desde o nascimento a influência maior de uma ou duas Vibrações Originais, ou de Raiz ou de Orixás. Tudo bem até aí? Pois bem. Essas Vibrações Originais que são na verdade as ENERGIAS que mais lhe afetam e estão mais em sintonia com suas glândulas pineal, pituitária e outras, permitem que, através de si, se apresentem diversos tipos de entidades espirituais de diversas classes e padrões evolutivos, desde os mais altos até os mais baixos. Numa determinada faixa vibratória encontramos os nossos amigos EXUS e POMBA GIRAS que também, podem atuar em você através dessas canalizações energéticas.
Pois muito bem. Digamos que você esteja sob influência maior da Vibração Original a qual damos o nome de OGUM que, por conseqüência do que já foi dito, lhe permitiria, por exemplo, a atuação de Tranca Ruas, Rompe Fogo, Pimenta e outros. Nesse caso você poderá, de acordo com a gerência de sua coroa, trabalhar incorporando um deles e ter até outro, da mesma vibração (orixá), como dirigente ou chefe. Como não recebemos apenas a influência de uma Vibração Original, então temos o que chamamos o segundo santo, o terceiro, o quarto ... e cada um deles permite a canalização de outros tipos de Exus, de acordo com seus padrões vibratórios, de forma que, talvez, você venha a trabalhar com um Exu do primeiro santo e mais um do segundo ou terceiro ou até mesmo que venha a trabalhar com um do terceiro e resguardo dos outros. O que vai decidir mesmo é a regência de sua Coroa. De uma forma geral e teoricamente você poderia trabalhar com um Exu ou Pomba Gira de cada Vibração Orixá que lhe atua mais fortemente, até o terceiro santo ou quarto na hierarquia de sua Coroa, no entanto, o que acontece mesmo é que se venha a trabalhar incorporando, um ou dois deles e os outros fiquem como que de guarda, só por fora. Trabalhar (incorporar) com meia dúzia de Exus, não é nada certo!
---------------------------------
Exu é diabo, afinal de contas? (Willian)
Diabo, maninho, é o que temos dentro de cada um de nós quando nos desviamos dos caminhos do bem e partimos para engambelar outros, tirar dinheiro dos pobres, dar golpes nos amigos e nos não tão amigos, etc, etc.
O Diabo é o lado negro de nossas próprias personalidades.
Exu pode sim, ser o diabo, como qualquer um de nós também pode, mas originalmente, para a UMBANDA, os Exus são entidades que, tendo vindo da Quimbanda, ainda não atingiram um grau evolutivo que os envie para Planos Dimensionais Superiores, provavelmente por seus comportamentos nada indicados quando ainda em terra. São irmãos espirituais em evolução como qualquer um de nós e se aceitam os princípios de UMBANDA e passam a trabalhar dentro deles, já é sinal de que evoluíram o suficiente para entenderem que precisam se esforçar para melhorarem seus caminhos. Isso quando se tratam de espíritos. Quando se tratam de Elementais, não deixam de ser entidades em evolução, só que essa evolução ocorre paralelamente à nossa e eles nunca chegarão a encarnar, ou seja, todo o trabalho evolutivo deles é pelo lado de lá mesmo.
-------------------------------------------------
Meu pai de santo diz que meu caboclo tem que bater cabeça pro dele e ele não faz. Aí ele diz que eu sou teimosa. Ele está certo? (Flávia)
Minha cara, essa é uma situação difícil de ser analisada assim, por correspondência. Existe um sem número de fatores que podem levar a essa situação e eu não teria condições de, de longe, analisá-las perfeitamente. Experimente "bater um papo" com seu Pai NO Santo e entender, dele, o porquê de seu Caboclo ter que bater cabeça para o dele, ok?
------------------------------
Quando montei meu grupo pedi a um sacerdote de Almas e Angola pra ir lá e me dar umas orientações. Ele foi e firmou minha tronqueira da forma que disse ser a correta. Estou passando a chefia do Terreiro para um dos médiuns e não sei o que fazer com a tronqueira, já que o sacerdote foi morar longe e eu perdi contato com ele. (Raquel)
Minha amiga. Essa é uma situação básica. Se outro médium vai assumir a direção de seu grupo, naturalmente o(s) Exu(s) dele deverá(ão) estar firmados na tronqueira. Se é assim, converse diretamente com o(s) Exu(s) desse médium e peça a ele(s) e não a qualquer sacerdote de fora, a forma correta dele(s) ser(em) firmado(s) na tronqueira. Se o médium está preparado para assumir tão grande responsabilidade, tem que estar preparado também para dar passagem positiva a seu(s) Exu(s), de forma a que ele(s) possa(m) dizer exatamente o que deve ser feito. Se isso não acontecer é porque o médium não está tão preparado assim.
---------------------------------------
Comecei há pouco num Terreiro e quando sinto o espírito se aproximar acho que fico tenso e não sei se sou eu ou é o espírito que está ali presente. (Roberto)
Essa é a dúvida de todos os que se iniciam no desenvolvimento da mediunidade de incorporação, principalmente se essa mediunidade não é karmica (ou cármica) - quando por isso mesmo, as entidades tendem a vir "abrindo espaço" desde o outro lado, ao mesmo tempo em que a "vida rola", de uma forma que, quando o médium chega a ir a um Terreiro, acaba "recebendo" logo na primeira ida e com toda a força.
Acontece que, em grande parte das vezes e até mesmo por este "temor" que existe naturalmente, os médiuns vão sendo "tomados aos poucos" e de acordo com a perda desse medo e sua entrega psíquica à entidade incorporante. Dessa forma, somente aos poucos e com bom e muito treino, a mente vai se embotando na presença da entidade ao mesmo tempo em que ela vai assumindo mais e mais controle, inclusive sobre o corpo físico.
Quanto de controle a entidade vai precisar ou vai se utilizar é que depende muito de inúmeros fatores, sendo que, até para existir a possibilidade destes maiores ou menores controles, será preciso que o médium tenha tido preparação adequada em seus treinamentos e isso demanda tempo.
---------------------------------------
Nossos guias são sempre mais evoluídos que nós? (Renato)
Se forem GUIAS DE FATO mesmo, são sim. O que vemos muito na atualidade é uma imensa maioria aceitar que porque chega no Terreiro e incorpora então já é GUIA, o que está muito longe da verdade.
Somente podem ser considerados GUIAS DE FATO, espíritos que, além de se preocuparem em fazer caridade para outros, cuidam de seus médiuns, principalmente no que concerne a princípios de crescimento espiritual, comportamental e éticos. Os VERDADEIROS GUIAS são nossos MENTORES ESPIRITUAIS e não todos os que, através de nós, descem à terra para praticarem a caridade e com isso aprontarem a própria evolução - a estes damos a classificação de ESPÍRITOS PROTETORES, quando o são realmente.
O VERDADEIRO GUIA preocupa-se com seu "cavalo", "aparelho", médium e traz ensinamentos, não só sobre a vida carnal, mas também sobre a espiritual, com um detalhe que muitas vezes passa despercebido mas que deveria ser levado em alta consideração: NÃO TENTAM INTERFERIR NO LIVRE ARBÍTRIO. Eles ensinam e esperam a resposta de compreensão de seus "filhos". Se não a vêem, depois de algum tempo nessa tentativa, acabam por "irem ao ló" em busca de quem os compreenda, sendo substituídos até mesmo por outras entidades da mesma falange mas em grau de PROTETOR.
Espíritos protetores têm ações diferentes em relação à mesma situação - incompreensão, "ouvidos de mercador".
Eles costumam avisar, avisar e, depois, se for importante para eles, criam algumas situações, às vezes até "meio doidas", através das quais o médium entenda que está indo contra a correnteza, podendo até, no caso da compreensão de alguns deles, "domarem o cavalinho" com algumas "surras".
E por que essas atitudes tão diferentes de um e de outro? Simples. ESPÍRITOS GUIAS, MENTORES, são mais evoluídos que os médiuns que ELES escolhem para orientar - por isso mesmo podem GUIÁ-LOS pelos caminhos da espiritualidade - e não dependem só deste ou daquele médium. Não está na caridade que possam fazer a todos as suas missões e sim, principalmente, no que podem ensinar a este ou aquele ser vivo, já que suas missões são de ORIENTADORES e não mais de trabalhadores braçais (embora não fujam quando têm que encarar as batalhas), enquanto que os PROTETORES precisam desses médiuns para poderem fazer caridades através deles, razão pela qual, tentam domá-los quando estes não colaboram.
Em síntese: PROTETORES podem ser mais evoluídos ou não que o médium, enquanto que GUIAS, se forem mesmo, SEMPRE SÃO MAIS EVOLUÍDOS que o médium. O problema é saber separar quem é GUIA de quem é PROTETOR.
--------------------------------------------
Meu Exu disse que já podia ter passado para o lado dos Guias mas preferiu continuar o trabalho duro nas trevas porque ali sente que poderá ajudar mais. O que acha disso? (Alessandra)
Partindo do princípio de que ele esteja agindo assim por esta razão mesmo, existem, tanto Exus quanto Oguns e outros, que trabalham ao nível de umas espécies de UMBRAL (uma porteira ou uma porta dimensional, como queiram) que tanto dão passagem para níveis inferiores, quanto inversamente. Nesses portais existem as entidades que trazem outras das trevas e as que as recebem e encaminham. Seu Exu tem todo o direito de trabalhar de qualquer um dos dois lados, por que não?
----------------------------------------
Os orixás batem em seus médiuns? (Laura)
Não existe isso de baterem em médiuns. Entidades que "batem" em médiuns, dependendo da(s) besteira(s) que possa(m) estar fazendo, são entidades espirituais em nível ou grau de obsessores, Protetores e muito raramente Guias.
Agora, se você está se referindo àquelas "sovas" que costumam acontecer quando alguns médiuns em inicio de aprendizagem costumam levar, elas se devem a uma não doutrinação das entidades (não orixás) que tentam incorporar à força e também à falta de sintonia entre elas e o médium que, com medo normalmente, acaba criando barreira psíquica e energética para a entrada das energias que tem que receber antes mesmo do processo de incorporação.
Melhores explicações sobre esse tema no Livro Umbanda Sem Medo
-------------------------------------
Meu Pai de Santo ensinou que devemos segurar os irmãos quando a entidade sobe. Uma pessoa de outra casa disse que não devo segurar o irmão. O que faço? (Luiz)
Médium coroado não se segura!
Só seguramos Abians. Por segurança do próprio médium iniciante que ainda não tem a concentração e é receioso com a entidade. Com o passar do tempo e a firmeza, não será mais necessário. Para ser coroado o médium tem que estar firme para a incorporação e para a desencorporação. Na verdade segurar um médium coroado pode trazer mas males do que bem. Muitas vezes a entidade está deixando algum axé ou fluido energetico que se dissipa com a interferencia de outra pessoa.
Nilo coelho
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
MUITO OBRIGADO!
NOVAMENTE SOMOS LIDERES EM ACESSOS NO BLOGSPOT.
CHEGAMOS A 25.000 VISITAS EM TERRITÓRIO NACIONAL E MAIS DE 15.000 EM AMBITO INTERNACIONAL.
RECEBEMOS 7.000 COMENTÁRIOS
E 2.700 EMAILS.
ISSO MOSTRA NOSSA CAPACIDADE DE LEVAR A BANDEIRA DE OXALÁ AO MUNDO INTEIRO.
É GRATIFICANTE VER QUE MUITA GENTE GOSTA E QUER APRENDER SOBRE NOSSA RELIGIÃO.
OBRIGADO A TODOS QUE AJUDAM NESTA DIVULGAÇÃO.
----------------------------------------------
A PARTIR DE HOJE TEMOS UM NOVO PARCEIRO:
-RÁDIO TOQUES DE ARUANDA-
COM PROGRAMAÇÃO EXCLUSIVA DE RELIGIÕES
AFRO-BRASILEIRAS
-------------------------------------------------------------
EM BREVE ESTAREMOS INAUGURANDO
NOSSA LOJA VIRTUAL.
ROUPAS, PENACHOS, GUIAS, VELAS, CAMISETAS, ADESIVOS E TUDO QUE UM BOM FILHO DE SANTO PRECISA.
AGUARDEM
------------------------------------------------------------
PEDIMOS A GENTILEZA DE QUE AS PESSOAS QUE ENVIAREM COMENTÁRIOS COM DÚVIDAS, PEDIDOS OU ESCLARECIMENTOS PESSOAIS, COLOQUEM SEU EMAIL PARA RESPOSTA.
----------------------------------------------------------
AOS INTERESSADOS EM PUBLICIDADE:
NÃO COBRAMOS ESPAÇO.
-----------------------------------------------------------
QUERO AGRADECER A TODOS QUE COMPARECERAM NO FIM DE SEMANA PASSADO EM NOSSA OBRA.
NOS MOMENTOS DE DIFICULDADES QUE OS BONS AMIGOS SE MOSTRAM.
--------------------------------------------------
NÃO DEIXE DE LER A ENTREVISTA COM
MARLUCI DE OXAGUIÃ
------------------------------------------------
NILO COELHO
-----------------------------------------------------------
QUERO AGRADECER A TODOS QUE COMPARECERAM NO FIM DE SEMANA PASSADO EM NOSSA OBRA.
NOS MOMENTOS DE DIFICULDADES QUE OS BONS AMIGOS SE MOSTRAM.
--------------------------------------------------
NÃO DEIXE DE LER A ENTREVISTA COM
MARLUCI DE OXAGUIÃ
------------------------------------------------
NILO COELHO
MEDIUNIDADES: ESPIRITISMO X UMBANDA - ENTREVISTA YALORIXÁ MARLUCI DE OXAGUIÃ
Yalorixá Marluci de Oxaguiã - CESJ
Filha de Mãe Beth de Oxalá, neta de Ida de Xango criada e coroada em Umbanda e Almas e Angola. Em seu terreiro, Centro Espirita São José, localizado no bairro da Agronômica, em Florianópolis, cultua além dos sagrados orixás de Umbanda nas sextas-feiras, uma sessão espírita mensal (mas conhecidos como Linha Branca ou Kardecismo) e em seu terreiro também faz cirurgias espirituais. Nesta entrevista Marluci nos conta um pouco da experiência vivida por ela no ritual Almas e Angola e nas sessões espiritas, explica como é praticada a Umbanda com caridade e humildade e deixa um recado para os novos médiuns e para os Zeladores e Mentores, ajudando assim, a desmistificar estas duas linhas que parecem tão diferentes, mas na verdade, não são.
Blog: Qual ritual praticado no seu terreiro e quais os dias de sessões, desenvolvimento, etc.?
Marluci: Nossas sessões são nas sextas-feiras com inicio as 20h. nossas reuniões de desenvolvimento e estudos são nos sábados com inicio as 15hs. E as sessões espiritas uma segunda-feira por mês também as 20hs.
Blog: Quais ações sociais são praticadas em seu terreiro?
Marluci: Há algum tempo tinhamos um trabalho de assistência em uma creche com arrecadação de alimentos, brinquedos, etc. e até mesmo tinhamos uma Psicóloga (filha de santo da casa) que dava atendimento gratuito as crianças, mas a burocracia nos impediu e se tornou muito difícil prosseguir com nosso trabalho. Hoje continuamos com as arrecadações, mas, distribuimos aos necessitados, normalmente o pessoal de rua, andarilhos, sem teto, viciados, alcoólatras. E no fim do ano, promovemos a campanha “Natal Feliz”, onde arrecadamos e distribuimos cestas básicas, brinquedos, calçados e roupas.
Blog: Como se deu seu primeiro contato com a Umbanda?
Marluci: Tive uma formação católica muito rigorosa, inclusive fui noviça num convento por dois meses, meus pais na época do nascimento de minha irmã mas velha, eram filhos de santo do falecido Jaqueta, mas nunca trabalharam dentro do terreiro, sempre ficavam na assistência. Mais devido ao trabalho de meu pai, que era policial militar, eles começaram a deixar de frequentar o terreiro, e minha família começou a procurar a Igreja Católica em busca de proteção, inclusive se hoje existe a Capela do Caeira foi graças a meus pais que trabalharam muito na construção. Então todos os treze irmãos tiveram uma formação católica, eramos ratos de Igreja. Um dia fui me confessar, numa quinta-feira santa, e o Padre Pedro Martendal me disse que eu deveria procurar outro culto, porque o catolicismo não era minha religião. Fiquei arrasada, me senti privada do que eu possuía desde que nasci. Fui conhecer a Umbanda quando conheci o Renato (Babalorixá Renato de Oxossi) que era na época ogã desta casa fundado por seu Pai (Pai Atanair), mas morria de medo, porque era extremamente católica. Casamo-nos e depois de algum tempo fiquei muito doente, os médicos não conseguiam dizer o que eu tinha. Um dia o Preto Velho do Renato veio na minha casa, porque no terreiro eu não entrava, e me disse que era espiritual o meu problema. “Achei que era onda, porque afinal de contas, a família dele era toda macumbeira”. Então ele fez um acordo comigo: eu iria ao médico mais uma vez e se não encontrassem nada eu iria ao terreiro. Fui e fiz toda bateria de exames e novamente não encontraram nada. Cumpri minha parte e fui ao terreiro, desesperada de dor, me colocaram no centro do terreiro e no mesmo momento incorporei Seu Sete Estrelas, dia 25 de Janeiro de 1989. Deste dia em diante não sai mas do terreiro.
Blog: No seguimento você se desenvolveu e fez suas coroas dentro do ritual, na época, Umbanda?
Marluci: Fiz Babá, e reforço de sete anos na Umbanda, não tem oborí ou mãe pequena, um dia fui visitar um terreiro de Almas e Angola e bolei no santo.
Blog: Bolou na primeira vez que entrou, esse terreiro era de sua Mãe de Santo?
Marluci: Não, era de Jorginho (Babalorixá Jorginho de Oxossi), o santo chegou deu o ponto em Almas e Angola. Eu não aceitava fazer uma nova coroa num ritual que nem conhecia, mas fui em frente.
Blog: No Espiritismo há um entendimento comum de que todas as pessoas são médiuns em potencial, independente do desenvolvimento desta faculdade. No seu ritual também há este entendimento?
Marluci: Não, em minha opinião o médium é um mediador entre o Orixá e o povo que procura o terreiro em busca de auxilio. Todas as pessoas tem compromisso com a espiritualidade, mas não precisam incorporar para cumprir este compromisso.
Blog: Seria, talvez, para zeladores de pouco conhecimento, uma forma de trazer mais pessoas para a corrente?
Marluci: Não vou generalizar, mas existem muitas casas que usam a religião como meio de vida. Então é interessante para eles terem muitos médiuns na corrente, afinal são muitas mensalidades, muitas pessoas trazendo amigos e “consulentes”. Na verdade, estão destruindo a Umbanda, que precisão sim de médiuns verdadeiros e não de vaidosos que querem aparecer.
Blog: Os guias que se manifestam através do médium umbandista, sempre o acompanharam, desde o seu reencarne?
Marluci: Acho que tudo tem o momento certo. Na hora que o aluno esta pronto o mestre aparece. Você tem um compromisso com sua entidade e esse compromisso é firmado antes de você reencarnar. Então quando seu Caboclo vem é no momento em que você esta pronto para recebê-lo.
Blog: A revelação da consciência mediúnica aproxima o médium da responsabilidade da comunicação, Você entende que trabalhar com médiuns inconscientes é melhor que com conscientes? Qual melhor médium para trabalhar?
Marluci: O melhor médium é o médium concentrado. Quanto à inconsciência, de cem médiuns cinco são inconscientes. Seu Sete Estrelas (Caboclo da Marluci) diz que o médium inconsciente não é confiável, a entidade corta a consciência exatamente por não confiar na reação ou ação que o médium pode ter ao estar incorporado, podendo intervir ou digamos atrapalhar o trabalho da entidade. E o médium que é consciente ele trabalha junto com a entidade, ele aprende, ele permite que a entidade trabalhe e não interfere no trabalho. Mas o médium inconsciente pode aos poucos, por merecimento, ganhar a consciência.
Blog: A mediunidade não desenvolvida, ou seja, reprimida, pode causar mal físico ou psíquico ao médium umbandista?
Marluci: Pode. A mediunidade é um compromisso firmado e a pessoa o trás no seu períspirito. Chega o momento de ela trabalhar e ela não vai usar o seu fluido energético e esse fluido vai sair de qualquer forma podendo afetar o corpo tanto quanto a mente.
Blog: O que fazer para a promoção da desmistificação da Umbanda?
Marluci: Acho que o estudo é a única forma. Ensinar ao médium que não existe mediunidade burra. Não podemos aceitar as respostas prontas, temos que questionar o porquê das coisas. Precisamos mostrar que a Umbanda é amor e caridade. Quando todos aceitarem isso acabará a desmistificação.
Blog: Porque existe mais médiuns brancos do que negros?
Marluci: Na realidade em minha opinião, não existe preconceito de raças. Existem sim, pessoas com oportunidade ou não de frequentar um terreiro como já falei, hoje para frequentar a maioria dos terreiros a pessoa precisa ter dinheiro.
Blog: Você acha que os rituais e histórias das religiões afro-brasileiras deveriam ser aprendidos nas escolas, como a religião católica o é?
Marluci: Ensino religioso não significa que tem que ser um ensino católico. Todas as religiões deveriam ser estudadas nas escolas. Poderia ser uma aula sobre Catolicismo, uma sobre Hinduísmo, Umbanda e por ai vai. O Brasil é um país ecumênico, aceitamos todas as religiões.
Blog: Qual a diferença entre os rituais Almas e Angola e o Candomblé?
Marluci: No candomblé a energia do Orixá é muito mais sutil, por isso vem poucas vezes. No Candomblé é dado muito mais energia ao orixá. Em Almas e Angola o Orixá vem com uma energia mais densa.
Blog: Vc. Trabalha com uma linha de cirurgias espirituais, explique como funciona. É na linha de Umbanda ou Espiritismo?
Marluci: Com Umbanda. Quem faz a cirurgia são as entidades incorporadas, Caboclos, Exus ou Pretos Velhos. Dependendo da doença que a pessoa tem, é evocada a entidade que fará a cirurgia. Pode ser preciso a energia de um Caboclo ou de um Preto Velho. A cirurgia só é feita depois que a pessoa já foi ao médico e geralmente procura o terreiro quando tem medo da cirurgia tradicional ou está desenganada. A cirurgia não é física é puramente espiritual, ou seja, sem a fé não há cura. Já houve aqui, como exemplo, cirurgia em uma pessoa que não podia ter filhos e hoje tem três, eu mesma fui operada de um nódulo no útero e um no seio diagnosticado por minha médica e quando voltei a consulta, apareceu somente uma cicatriz em meu útero, como se tivesse sido cauterizado, a médica não consegue explicar até hoje como eu consegui esta cicatriz. E existem muitas pessoas e até médiuns de nossa casa que fizeram cirurgia e até hoje estão curados.
Blog: Você acha que os ensinamentos de Almas e Angola foram modificados para melhorar o ritual ou somente serve para comodidade dos zeladores?
Marluci: Em alguns casos, para melhorar a vida do pessoal, mas a maior parte é para facilitar o trabalho dos zeladores. Acho que no passado as coisas eram feitas com mais fé. Hoje em dia é feito com muito orgulho e muita vaidade. Sou mais da linha antiga, não aceito que você sirva para o orixá num copo plástico, tem que ser cristal, no mínimo vidro, não pelo brilho, mas pela energia transmissora. Não aceito que diga “Há faz assim que tá tudo bem”. Ou faz o certo ou não faz.
Blog: É correto a cobrança de atendimentos mediúnicos, búzios, cartas, trabalhos, etc.?
Marluci: Em momento algum. Ninguém pode cobrar para rezar pro mesmo Deus. Se quiser ganhar dinheiro arrume um emprego. Com relação às cartas e jogo de Búzios, conta à lenda que é preciso que te paguem pra não perder o axé do jogo, quando não existe incorporação. Então cobra-se uma quantia simbólica, não como em alguns lugares que cobram fortunas por um jogo de búzios ou carta. Isso é exploração. Os Ebós, limpezas, trabalhos na mata ou cachoeiras, batizados nunca podem ser cobrados. A pessoa fornece o material porque não existe Zelador que possa dar tudo, mesmo assim se a pessoa não tiver condições, é feito uma arrecadação entre os médiuns e é feito o trabalho. Caridade não se paga.
Blog: E com relação aos trabalhos ditos “de Amor”, onde alguns Zeladores, incorporados com Pomba Giras ou Exus, garantem que trazem seu amor de volta em pouco tempo por uma quantia?
Marluci: O amor entra na sua vida conforme o merecimento que você tem. A religião não existe para isso. Se você quer arrumar um amor se produza, trabalhe, estude, seja inteligente e conheça pessoas inteligentes, logo você encontrará sua outra metade. Acho que os zeladores tem e devem ter muito mais coisas para se preocuparem do que quem vai dormir do seu lado. Se as pessoas estudassem mais não procurariam tanto os Exus e Pombas Giras pedindo estes tipos de trabalhos.
Blog: Porque se faz tantas coroas para Babá atualmente?
Marluci: Infelizmente por causa do dinheiro. Hoje, uma feitura pode custar de R$ 1.600,00 a R$ 1.900,00 e, em uma semana é um ótimo salario.
Blog: E com relação à hierarquia, em seu terreiro, por exemplo, quem pode usar penacho?
Marluci: Aqui ensinamos igualdade, o Caboclo que trabalha comigo é tão Caboclo quanto ao que trabalha com um Abian de desenvolvimento, a coroa é da pessoa não do Orixá. Se o Caboclo pedir e vermos que realmente o médium está concentrado, que não é vaidade do médium, o Caboclo pode usar seu penacho com qualquer que seja a coroa do médium. Como o Preto Velho vai ter seu chapéu se pedir.
Blog: A umbanda é baseada em caridade e humildade, o que dizer sobre Zeladores que exigem tratamento especial? O Babá tem que ficar na frente, beber somente em copo de vidro, prato de louça, a melhor bebida, comer primeiro que todos, etc.
Marluci: Eu penso que o Zelador que exige isso, acha que a coroa dele é matéria. Ele acha que se não usar um copo de vidro ou ser o primeiro a ser servido vai perder a sua mediunidade. O Babá que pensa desta forma é porque a coroa dele é material não é espiritual. Quando ele perceber que a coroa dele é por merecimento, pelos atos que faz e não pelas coisas que ele usa, ele vai parar de dar importância para isso. O que vai dizer que serei um bom Zelador ou não, é o que estudo, é como me porto, e a maneira como trato as pessoas, e ver que cada pessoa que esta na minha vida me ensina alguma coisa. Não me importo de beber numa cuia de coco ou comer com as mãos. De que adianta ficar se mostrando no terreiro e lá na rua ser encontrado alcoolizados e aprontando. Minha coroa é espiritual.
Blog: Em que grau da hierarquia se pode atender ao público?
Marluci: Vai da dedicação e concentração do médium, não é a coroa dele que vai dizer se ele pode ou não atender, a firmeza dele é que dirá.
Blog: Qual o Orixá mais fácil de incorporar para o médium iniciante?
Marluci: Não existe isso. A concentração e preparação do médium é que são importantes. Se ele veio ao terreiro só pra mostrar a roupa bonita e dizer que estava na corrente, pode acreditar esse vai apanhar.
Blog: Vc. Acha que o atendimento residencial não é aconselhável?
Marluci: Mesmo que ele seja um Babá eu não aconselho que ele atenda em casa. Quer atender? Convide e venha atender dentro do terreiro. Terreiro tem segurança. Você não sabe o que a pessoa está levando com ela para dentro da sua casa. Você não sabe se sua entidade vai ter força suficiente para lidar com aquilo. Quer fazer caridade, ajudar o próximo, tudo bem, mais se proteja. A melhor proteção para o médium é o terreiro.
Blog: É possível Pretos Velhos e Caboclos trabalharem numa sessão espírita, certo? Então Exus e Pomba Giras também podem trabalhar na sessão espirita?
Marluci: Sim, tudo depende da evolução da entidade e não do rótulo dado à entidade. Eu conheço Exú que precisa trabalhar como Exú, porque na verdade ele tem evolução para trabalhar como Preto Velho ou Caboclo. O Exu tem seu trabalho dentro da espiritualidade. Assim existem trabalhos que ninguém quer fazer, mas precisam ser feitos. Como o lixeiro, alguém tem que limpar a sujeira. Se todo mundo quer ser Caboclo ou Preto Velho quem vai limpar a sujeira.
Blog: Então a sua sessão espirita difere das sessões que todos estão acostumados? Têm Pretos Velhos e Exus cantando pontos, salvando o terreiro, com seu fumo e bebidas?
Marluci: Não, eles vêm ali sentados, eles dizem o que tem pra dizer. Ali ele se identifica e deixa sua mensagem se tiver merecimento para isso. Muitas vezes a entidade vem e nós nem imaginamos que era um Preto Velho que esteve ali. Porque eles não falam errado, eles não fumam cachimbo nem charuto, ou seja, é uma energia mais sutil. É totalmente diferente de uma sessão de Umbanda.
Blog: Como você prepara um médium para as sessões espiritas?
Marluci: Estudo, disciplina e concentração.
Blog: Existe alguma relação entre ciência e religião no ponto de vista espirita/umbandista?
Marluci: Não. Eu acredito que a religião explica a ciência.
Blog: As sessões espiritas, como conhecemos, são feitas para que os espíritos venham e tragam mensagens, curas e ensinamento. São pessoas desencarnadas que retornam como espíritos para isso. É possível espíritos de pessoas consideradas “ruins”, tipo pedófilos, assassinos, estupradores incorporarem nestas sessões?
Marluci: Como entidade se ele tiver merecimento para isso, sim. Agora ele pode vir também como um obsessor para obter ajuda.
Blog: E ele vindo como obsessor existe algum risco dele prejudicar o médium ou a s pessoas que estão na sessão?
Marluci: Não, porque se ele vem nesta sessão, quem o traz são outros espíritos, os mentores do trabalho. Ele vem controlado com a energia dos mentores que estão ali amparando o trabalho, então o médium não corre risco algum.
Blog: Existem muitos casos de crimes que são praticados, supostamente, por pessoas incorporadas. Um espirito pode cometer um crime?
Marluci: Não. O médium pode cometer um crime e dizer que foi o espirito. Deus é o único que pode dar a vida ou tira-la, se um espirito puder tirar uma vida eu começaria a não acreditar em Deus.
Blog: Um obsessor ou Egum pode ser afastado eternamente de uma pessoa através do espiritismo ou da Umbanda?
Marluci: Eternamente ele só pode ser afastado através da energia da própria pessoa. O médium pode melhorar a energia da pessoa que está sendo obssediada, naquele momento. Depois que a pessoa sai do terreiro ela deve procurar manter a energia adquirida e sempre reforçar esta energia.
Blog: Qual a postura de vocês com relação ao aborto?
Marluci: A pessoa que pratica um aborto para nós é um assassino.
Blog: E as pessoas que são optantes pelo aborto judicial, por terem sido violentadas?
Marluci: Consideramos da mesma forma. Ela tem o direito de querer ou não criar aquela criança, mas nunca mata-la.
Blog: Vemos tanta maldade e sofrimento pelo mundo, será que a Umbanda e todas as outras religiões podem amenizar isso?
Marluci: Se houver estudo e disciplina entre os médiuns, sim. Porque a Umbanda, espiritismo ou qualquer religião é baseada na fé. Se você tem fé, disciplina e estudo, você será uma pessoa boa.
Blog: Que se pode fazer para atrair as pessoas a frequentar o espiritismo ou a Umbanda?
Marluci: É preciso mais igualdade entre os médiuns. Muitas casas espiritas têm os mentores, os médiuns de passe, etc. Então muitos médiuns acabam se achando desnecessários. O que estes médiuns fazem por fim é se afastarem e procuram uma casa que possam atuar mais e ajudar outras pessoas, procuram um lugar onde a energia delas é necessária e não reprimida. E acabam procurando a Umbanda devido a dinâmica, estão na corrente, participam mais, tem maior contato com os necessitados. Muitos centros espiritas acabam dando maior importância a quem esta na mesa e os outros médiuns tanto faz estarem ali. Se você cochila durante a sessão muitas vezes os mentores nem percebem. Em nosso terreiro isso não acontece porque aqui mostramos igualdade, todos participam e somos todos importantes. Sempre digo a meus filhos: a única diferença entre vocês e eu é que eu comecei a mais tempo, porque espiritualmente somos todos iguais. Pássaros de mesma plumagem sempre voam juntos. Se estamos juntos somos iguais, não posso por defeitos ou qualidades em ninguém porque sou igual, sou do mesmo bando. A mesma coisa acontece nos terreiros. Se você se acha desnecessário, seu zelador dá mais importância a coroados e ricos, você acaba procurando outra casa ou religião.
Blog: Com relação ao uso da Apometria. A maioria dos centros espiritas proíbe o seu uso. Você usa Apometria em suas sessões espiritas?
Marluci: Estamos estudando esse método. Não usamos ainda porque não conhecemos a fundo. No passado era chamado de Desdobramento. A Kamila (Kamila de Iemanjá, filha de santo de Marluci), já teve a experiência de Apometria e sente medo por não estar preparada e eu não posso ajuda-la por também não estar preparada. Falta estudo.
Blog: É possível curar doenças graves como câncer ou AIDS através da Umbanda ou Espiritismo?
Marluci: Eu diria que através da fé. Para Deus nada é impossível. Não há mal que sempre dure ou bem que nunca acabe, se você tem fé o que vai lhe curar não é a religião, é sua fé.
Blog: Qual a mensagem que você deixa para os médiuns que estão começando, despertando para a religião, procurando seu caminho?
Marluci: Três coisas: Disciplina, muito estudo e saber que a Umbanda é caridade, é amor ao próximo. E o próximo não é aquele que esta dentro de casa. O próximo é aquele que bate na sua porta, que você nunca viu, o trate como um irmão, uma pessoa que você ama muito. Peço a todos que vão ter acesso a essa entrevista, que use a Umbanda com o coração, com fé, com amor e tenham a certeza que você será abençoado. A Umbanda só é mal vista porque não levamos adiante nosso estudo, nossa disciplina e nossa moral pura. Só podemos manter a Umbanda levando adiante isso.
Blog: E qual sua mensagem para aos Zeladores e Mentores para melhorar nossa religião.
Marluci: Igualdade e Humildade.
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Lenda Cigana
Uma das lendas ciganas, diz que existia um povo que vivia nas profundezas da terra, com a obrigação de estar na escuridão, sem conhecer a liberdade e a beleza. Um dia alguém resolveu sair e ousou subir às alturas e descobriu o mundo da luz e suas belezas. Feliz, festejou, mas ao mesmo tempo ficou atormentado e preocupado em dar conta de sua lealdade para com seu povo, retornou à escuridão e contou o que aconteceu. Foi então reprovado e orientado que lá era o lugar do seu povo e dele também. Contudo, aquele fato gerou um inconformismo em todos eles e acreditando merecerem a luz e viver bem, foram aos pés de Deus e pediram a subida ao mundo dos livres, da beleza e da natureza. Deus então, preocupado em atende-los, concedeu e concordou com o pedido, determinando então, que poderiam subir à luz e viver com toda liberdade, mas não possuiriam terra e nem poder e em troca concedia-lhes o Dom da adivinhação, para que pudessem ver o futuro das pessoas e aconselha-las para o bem.
EXU É ÚNICO E ESPETACULAR!
O Riso
É muito comum que as imagens de Exu estejam gargalhando. Algumas têm expressões sérias ou que sugerem maldade. Mas a maioria está rindo abertamente. O riso largo e solto, embora não pareça, é algo meio tabu dentro do campo religioso. Se observarmos as imagens dos santos nas igrejas, veremos que nenhum está rindo. A maior parte tem a expressão séria e piedosa e só alguns sorriem, apenas ligeiramente.
Exu, no entanto, gosta de rir. Ouvimos, desde crianças, a expressão: “Muito riso, pouco siso”. Em ocasiões pomposas e solenes, não se deve rir. O riso, todavia, faz parte do ser humano. Ele “desopila o fígado”, ameniza as tensões e provoca bem estar.
Nas incorporações dos guias da esquerda é normal os exus e pomba-giras darem sonoras gargalhadas, enquanto dançam e falam.
Embora a obra de Umberto Eco, “O Nome da Rosa”, seja ficção, ela nos traz importantes aspectos do Catolicismo na Idade Média, dos quais eu gostaria de destacar, aqui, a forma interessante como é tratada, no livro e posteriormente no filme, a questão do riso. Trata-se da relutância do velho frade franciscano em permitir o acesso ao Segundo Livro da Poética, de Aristóteles, sobre a Comédia. O horror dele à Comédia e ao riso é tão grande, que envenena as folhas do livro para que, todo aquele que o folheie, morra em seguida. William de Baskerville, o franciscano convidado a fazer uma investigação sobre as mortes que estão ocorrendo no convento, aos poucos vai percebendo a trama. Ao final do filme ele (William de Baskerville), acaba descobrindo onde se encontra o livro. A conversa que ocorre então entre ele, seu discípulo Adso e o velho frade que ocultara o livro, esclarece um pouco porque o riso e a comédia poderiam ser tão perigosos. Quando Adso pergunta por que esconderiam livros como esse, se havia algo errado, o Mestre lhe responde: “Não, Adso, é porque eles contém uma sabedoria diferente da nossa. E idéias que nos fariam pôr em duvida a infalibilidade da palavra de Deus. E a dúvida, Adso, é inimiga da fé. O riso mata o temor e sem temor não pode haver fé. E, se não se teme o demônio, não há mais necessidade de Deus”.
As imagens das Pomba-Giras estão quase sempre gargalhando e quando exus “incorporam-se” em médiuns masculinos, uma de suas principais características é o riso livre e debochado.
A Sexualidade
Os primeiros viajantes europeus a fazerem incursões pelo continente africano – o que já ocorria antes da descoberta do Brasil – encontraram, em observações feitas a templos religiosos, várias imagens diferentes de Exu. Como ele foi sempre considerado o guardião do limiar, era comum encontrar imagens suas às entradas dos templos, cidades, casas ou palácios. Com muita frequência a divindade Exu era representada com um falo mais comprido que o normal e em estado de ereção, por ser o senhor do movimento, aquele que tudo transforma e individualiza, associado portanto ao ato de procriação. Esta qualidade fálica de Exu aparece principalmente entre os daomeanos (Rodrigues, 1988). Em quase toda a África, é muito importante que os indivíduos tenham filhos. Nada de pior pode acontecer a um homem do que tornar-se impotente e à mulher, nada pior do que ser estéril, porque serão os filhos que cultuarão os pais como seus ancestrais. Se alguém não tiver a bênção de ter filhos, quem os cultuará depois de morto? Ninguém. Um individuo com o pênis ereto, pronto a fecundar uma mulher e dar origem a outro ser, é algo muito positivo. Exu, sendo o deus da procriação, um deus fálico, era assim representado, iconograficamente.
Creio não ser difícil imaginar o impacto causado nos viajantes europeus, brancos e cristãos, ao se depararem com essas imagens de Exus fálicos. No cristianismo, bem como em outras religiões, é dada uma ênfase muito grande à castidade (tanto masculina quanto feminina). É fácil supor o choque causado pelas imagens representando a divindade com o falo ereto. Era algo frontalmente diverso dos valores tradicionais cristãos. Desconhecendo completamente a cosmovisão africana e tendo como única medida apenas os seus próprios valores, Exu foi facilmente identificado como algo diabólico. Só o demônio poderia estar ali, com aquele comprido falo ereto, coisa tão terrível para o referencial cristão, que guarda ciosamente sua sexualidade e toda a decorrente exuberância advinda dela.
A ligação com demônio, portanto, já existia desde essa época. A tese de que a África era uma terra da maldição, perdição e perversidade já era defendida por muitos teólogos da Igreja Católica, entre os quais o Padre Antonio Vieira.
Quando os escravos africanos chegaram ao Brasil, tão desvinculados de seu universo cultural, em terras tão estranhas e em condições tão difíceis, apegaram-se profundamente, como “nicho de resistências”, no dizer de Trindade (1985), ao seu orixá mais importante, Exu.
Os senhores brancos certamente perceberam isto. Começou então um processo gradativo que objetivava a total degradação de Exu. Era preciso compará-lo frequentemente ao diabo, o inimigo número um de Deus, na cultura ocidental. Não é tão difícil lançar uma idéia. Por mais absurda que seja, se ela encontra terreno fértil, espalha-se como as ervas daninhas.
Era preciso fazer com que os escravos fossem, aos poucos, acreditando que a única coisa boa que ainda tinham, na verdade era uma coisa má, diabólica e maldita.
A sexualidade, no sapiens, transcende em muito a dos outros animais. Assume um caráter excepcional, para o sapiens, muitíssimo mais complexo do que o é para qualquer outro ser da escala animal.
Não se restringe a cópulas periódicas e à perpetuação da espécie, ao contrário, ela ultrapassa em muito esses limites. Permeia toda a vida dos homens e das mulheres, transcende nos gestos e nas palavras que pronunciam, nos seus atos mais cheios de ternura mas também nos mais vis. Envereda por caminhos estranhos e perversos e por desvios histéricos e fanáticos. A sexualidade pode tornar-se perigosa na mente de um psicopata, assim como pode parecer inocente numa poesia pueril.
Lembrando Morin, a própria institucionalização da família e a consequente regulamentação da sexualidade gerarão uma série de problemas internos, geralmente esquecidos pela Antropologia, mas muito bem desvendados pela Psicanálise, que tornarão a vida afetiva dos indivíduos e suas relações interpessoais extraordinariamente complexas.
Para ele: Vidas vão ser fulminadas, martirizadas, transfiguradas por desejos insensatos, amores dementes, encontros furtivos e, a partir de então, cada vida será dupla, com sua parte imersa, cada sociedade viverá sua vida dupla, sua vida oficial e sua vida crônica.(Morin, 1975)
Desnecessário seria dizer, mas Exu, segundo sua mitologia, com toda a certeza, apropriar-se-á (ou farão com ele se aproprie?) dessa parte imersa do indivíduo, dessa sua sexualidade subterrânea, que Morin descreve tão bem.
Exu, em muitas de suas formas, avatares, nomes, roupas, expressões faciais, representa claramente essa sexualidade tão desvairada. E o chamado “exu feminino”, a Pomba-Gira (uma corruptela da palavra Bombojiro, que é como os Bantu chamam Exu), é a própria expressão da mulher encarnando um tipo de sexualidade pervertida.
Como a sexualidade feminina foi sempre muito reprimida no Ocidente, a Pomba-Gira representa justamente essa “sombra” da mulher. Esse lado ciosamente escondido. O lado exuberante, sensual, debochado, não é bem visto numa mulher. A Pomba-Gira assimila-o e o expõe sem receios.
A consciência da morte é, para o homem, o mais cruel e terrível de todos os enigmas. O ser e não-ser, ao mesmo tempo, é algo inimaginável. Os ritos funerários, o cerimonial feito pelos parentes da pessoa morta, sempre foram e são até hoje, objeto de estudo de antropólogos, sociólogos e psicólogos. É, certamente, o objeto maior da atenção de religiões e religiosos de todas as culturas. O homem não aceita a morte como fato consumado. Já alguns primatas, como o chimpanzé por exemplo, parecem não aceitá-la da mesma forma que os outros animais.
Essa questão do “reconhecimento” da morte como algo inevitável e irreparável, que acontecerá fatalmente a todos e a não aceitação dessa mesma morte, é tratada na obra de Edgar Morin. Ele observa que os mais antigos túmulos conhecidos são do homem de Neandertal, que já era sapiens. Algumas destas sepulturas apresentam vestígios de pólen sobre o cadáver, o que sugere que o morto teria sido colocado sobre uma “cama” de flores. Outras mostram que ao lado dos despojos eram colocados utensílios domésticos, armas e comida. Ora, tudo isso nos mostra claramente que já havia aí, não indícios de espiritualidade, mas uma não aceitação da morte como fato consumado e crenças numa transmortalidade, seja na forma de sobrevivência da alma ou de reencarnação. (Morin, 1975:101,102,103)
Existem muitos nomes e significações ligados a Exu e a Pombo-Gira, mas a maior parte desses nomes está, sem dúvida, associada à morte. Alguns autores citam Omolu (ou Obaluaiê), juntamente com Exu, como os senhores da Morte e do Mal. Temos então: Exu Caveira, Exu Tata Caveira, Exu Omolu, Exu do Cemitério, Exu Calunga, (calunga pequena – cemitério, calunga grande – o mar), Exu Sete Cruzes, Exu Sete Covas, Exu Catacumba, Exu Sete Sombras, Exu Seu João Caveira, Exu Calunguinha do Mar. Pomba-Gira das Almas, Pomba-Gira da Calunga, Pomba-Gira do Cruzeiro. Todos estes nomes e muitos outros, referem-se sempre a cemitérios, morte, túmulos e covas.
Sendo a morte sempre algo em que não se gosta de pensar, dói demais, nada melhor do que ter alguém para carregá-la e talvez conseguir até afastá-la o mais possível, pois Exu tem também poder sobre ela. Assim como ele é o Grande Senhor da Vida e do Movimento ele também é o da Morte (Ikù), que é a cessação de todo o movimento. Como guardião dos limiares, ele é também o “dono” do portão do cemitério.
Como vimos o grande e angustiante conflito existencial do ser humano, que é a morte, encontra em Exu um fantástico representante.
Acredito que, com este estudo sobre as várias representações de Exu, não fica difícil perceber que ele, na verdade, assimilou e catalisa, hoje, alguns dos mais importantes aspectos dos lados sombrios, apavorantes e inaceitáveis da criatura humana.
O Espaço
Seus nomes comumente afirmam que ele é o “controlador dos destinos”, o “senhor dos caminhos” e, por conseguinte, é o dono da encruzilhada e o dono do limiar. Estes títulos – ou atribuições – apesar de terem suas origens nos tempos míticos da velha África, são atributos que ele mantém até hoje na Umbanda e mesmo na imaginação popular. Monique Augras (1985), refere-se com pormenores acerca da periculosidade do conflito existencial que é o espaço, para os seres humanos. Aliás, não só para estes, como também para a grande maioria das outras espécies animais. O espaço transcende os limites impostos pela nossa própria pele. Nosso espaço não é só aquele ocupado pelo nosso próprio corpo. Ele vai muito além. Ele é também nossa casa, particularmente nosso quarto, nosso escritório ou consultório, nosso carro, nossa rua, nosso bairro, nossa cidade. É em virtude de questões vinculadas à posse de espaços territoriais que são travadas a maior parte das batalhas e guerras nas quais se envolvem países, nações e agrupamentos humanos.
Exu rege os caminhos e os espaços. Como vimos, através das citações de Monique Augras, não é difícil constatar a importância da questão do espaço. Assim, não será também estranho que, dentro da filosofia do Candomblé, somente um orixá tão importante quanto Exu fosse capaz de reger algo tão complexo quanto o espaço. A encruzilhada é dele, pois é o lugar onde dois espaços se cruzam. Ela não precisa, apesar do nome, ser necessariamente em forma de cruz, ou seja, abrindo a possibilidade de quatro escolhas. Pode ser em forma de ‘T’ ou, como nas antigas cidades gregas, de ‘Y’. Aí, as opções ou escolhas podem ser em número de três. Ou pode ser uma “encruzilhada” que permita uma, entre duas possibilidades.
(…) e lembramos a associação que se faz de Esù e as encruzilhadas, representação por excelência da multiplicidade de caminhos e da geração e da imposição de alternativas e possibilidades. Destino e encruzilhadas estão, sem dúvida, intimamente ligados. Como Inspetor Geral de Olodunmare, ao mesmo tempo em que está em todos os lugares e em todas as formas criadas, Esù está simbolicamente representado na encruzilhada, onde assiste e acompanha todas as escolhas feitas pelos homens na sua caminhada pela vida. (Ribas, 1997)
A soleira da porta é guardada por ele também, pois o portão ou porta de uma casa é justamente o lugar onde termina um espaço coletivo – o “espaço da rua” – e começa um espaço pessoal. Ou vice-versa. O espaço da rua é um espaço de todos, teoricamente um lugar mais perigoso. O espaço pessoal é menos perigoso, fecha-se a porta e se estará ao abrigo de ladrões e pessoas perversas. Ao abrigo das intempéries e dos olhares alheios. O limiar guarda simbolismos existenciais profundos e complexos.
Nada mais justo que uma divindade importante como Exu, tome conta dele. Tanto em várias lendas e mitos quanto em contos de fadas encontramos momentos em que os guardiões dos limiares são criaturas perigosas e ferozes.
Mircea Eliade (1992) fala-nos acerca dos achilpa, uma tribo Arunta (Austrália). Segundo suas tradições um ser divino, Numbakula, nos tempos míticos havia sacralizado o tronco de uma árvore da goma (kauwa-auwa). Este tronco tornou-se um poste sagrado e os achilpa levavam-no sempre consigo, pois escolhiam a direção que deviam seguir dependendo da inclinação do poste. Tendo este uma vez se quebrado, toda a tribo foi tomada de grande angústia; vaguearam durante algum tempo e finalmente sentaram-se no chão e deixaram-se morrer.
Creio que este exemplo é extremamente notável para demonstrar a importância, para o ser humano, em demarcar o seu espaço. Hoje, em nossa cultura, “marcamos” nossos espaços, através de escrituras de compra e venda, por exemplo. Assim, esta casa é minha, pois eu a comprei. Eu tenho a escritura que comprova que ela é minha. Todavia, em outras culturas, não é assim tão simples a legitimação do espaço. Como vimos, para os achilpa, é um poste sagrado que, dependendo do lado para onde ele se inclina ou pertence estático, torna aquele determinado local como sendo legitimamente habitável para eles e seus rebanhos.
Para os povos indígenas das Américas, sempre pareceu muito estranho que os europeus quisessem provar-lhes através de um simples papel, que aquela terra era deles e não dos índios.
O espaço sagrado é sempre diferenciado do espaço profano.
Assim, os templos e as Igrejas são lugares sagrados. Na Umbanda, o conga é o “eixo cósmico”, pois é ali que, durante as giras, as entidades vão descer e incorporar-se nos médiuns.
Geralmente, há rituais que demarcam as fronteiras entre o espaço sagrado e o profano. Nas Igrejas Católicas, ajoelhamos e fazemos o sinal da cruz, antes de entrar. Nas mesquitas muçulmanas, os homens tiram os sapatos antes de entrar no templo. Nas Tendas Umbandistas, pede-se que os fiéis, antes de tomar passes ou fazer consultas, tirem os sapatos, o relógios, jóias e óculos.
No Candomblé, Exu rege os espaços mas, essa característica, de certa forma passou para a Umbanda de modo muito enfático. Ele rege o limiar, conforme já foi dito antes. Mesmo nos centros umbandistas mais “puxados” para o Kardecismo, no portão de entrada, se não houver uma imagem de Exu, há pelo menos uma oferenda a ele: um copo de aguardente, um charuto aceso e uma vela preta (ou vermelha) acesa.
Ao pensar em todas as batalhas, guerras e conflitos políticos que já abalaram o mundo, vê-se que, quase sempre, eles acontecem em virtude da posse de determinados territórios.
Assim, Exu torna-se, então, Exu Vira Mundo, Exu Tranca Ruas, Exu Sete Encruzas, Exu Sete Porteiras, Pomba-Gira Rainha do Cruzeiro, Pomba-Gira da Praia, Exu da Encruzilhada.
Escrito por Mãe Mônica Caraccio
É muito comum que as imagens de Exu estejam gargalhando. Algumas têm expressões sérias ou que sugerem maldade. Mas a maioria está rindo abertamente. O riso largo e solto, embora não pareça, é algo meio tabu dentro do campo religioso. Se observarmos as imagens dos santos nas igrejas, veremos que nenhum está rindo. A maior parte tem a expressão séria e piedosa e só alguns sorriem, apenas ligeiramente.
Exu, no entanto, gosta de rir. Ouvimos, desde crianças, a expressão: “Muito riso, pouco siso”. Em ocasiões pomposas e solenes, não se deve rir. O riso, todavia, faz parte do ser humano. Ele “desopila o fígado”, ameniza as tensões e provoca bem estar.
Nas incorporações dos guias da esquerda é normal os exus e pomba-giras darem sonoras gargalhadas, enquanto dançam e falam.
Embora a obra de Umberto Eco, “O Nome da Rosa”, seja ficção, ela nos traz importantes aspectos do Catolicismo na Idade Média, dos quais eu gostaria de destacar, aqui, a forma interessante como é tratada, no livro e posteriormente no filme, a questão do riso. Trata-se da relutância do velho frade franciscano em permitir o acesso ao Segundo Livro da Poética, de Aristóteles, sobre a Comédia. O horror dele à Comédia e ao riso é tão grande, que envenena as folhas do livro para que, todo aquele que o folheie, morra em seguida. William de Baskerville, o franciscano convidado a fazer uma investigação sobre as mortes que estão ocorrendo no convento, aos poucos vai percebendo a trama. Ao final do filme ele (William de Baskerville), acaba descobrindo onde se encontra o livro. A conversa que ocorre então entre ele, seu discípulo Adso e o velho frade que ocultara o livro, esclarece um pouco porque o riso e a comédia poderiam ser tão perigosos. Quando Adso pergunta por que esconderiam livros como esse, se havia algo errado, o Mestre lhe responde: “Não, Adso, é porque eles contém uma sabedoria diferente da nossa. E idéias que nos fariam pôr em duvida a infalibilidade da palavra de Deus. E a dúvida, Adso, é inimiga da fé. O riso mata o temor e sem temor não pode haver fé. E, se não se teme o demônio, não há mais necessidade de Deus”.
As imagens das Pomba-Giras estão quase sempre gargalhando e quando exus “incorporam-se” em médiuns masculinos, uma de suas principais características é o riso livre e debochado.
A Sexualidade
Os primeiros viajantes europeus a fazerem incursões pelo continente africano – o que já ocorria antes da descoberta do Brasil – encontraram, em observações feitas a templos religiosos, várias imagens diferentes de Exu. Como ele foi sempre considerado o guardião do limiar, era comum encontrar imagens suas às entradas dos templos, cidades, casas ou palácios. Com muita frequência a divindade Exu era representada com um falo mais comprido que o normal e em estado de ereção, por ser o senhor do movimento, aquele que tudo transforma e individualiza, associado portanto ao ato de procriação. Esta qualidade fálica de Exu aparece principalmente entre os daomeanos (Rodrigues, 1988). Em quase toda a África, é muito importante que os indivíduos tenham filhos. Nada de pior pode acontecer a um homem do que tornar-se impotente e à mulher, nada pior do que ser estéril, porque serão os filhos que cultuarão os pais como seus ancestrais. Se alguém não tiver a bênção de ter filhos, quem os cultuará depois de morto? Ninguém. Um individuo com o pênis ereto, pronto a fecundar uma mulher e dar origem a outro ser, é algo muito positivo. Exu, sendo o deus da procriação, um deus fálico, era assim representado, iconograficamente.
Creio não ser difícil imaginar o impacto causado nos viajantes europeus, brancos e cristãos, ao se depararem com essas imagens de Exus fálicos. No cristianismo, bem como em outras religiões, é dada uma ênfase muito grande à castidade (tanto masculina quanto feminina). É fácil supor o choque causado pelas imagens representando a divindade com o falo ereto. Era algo frontalmente diverso dos valores tradicionais cristãos. Desconhecendo completamente a cosmovisão africana e tendo como única medida apenas os seus próprios valores, Exu foi facilmente identificado como algo diabólico. Só o demônio poderia estar ali, com aquele comprido falo ereto, coisa tão terrível para o referencial cristão, que guarda ciosamente sua sexualidade e toda a decorrente exuberância advinda dela.
A ligação com demônio, portanto, já existia desde essa época. A tese de que a África era uma terra da maldição, perdição e perversidade já era defendida por muitos teólogos da Igreja Católica, entre os quais o Padre Antonio Vieira.
Quando os escravos africanos chegaram ao Brasil, tão desvinculados de seu universo cultural, em terras tão estranhas e em condições tão difíceis, apegaram-se profundamente, como “nicho de resistências”, no dizer de Trindade (1985), ao seu orixá mais importante, Exu.
Os senhores brancos certamente perceberam isto. Começou então um processo gradativo que objetivava a total degradação de Exu. Era preciso compará-lo frequentemente ao diabo, o inimigo número um de Deus, na cultura ocidental. Não é tão difícil lançar uma idéia. Por mais absurda que seja, se ela encontra terreno fértil, espalha-se como as ervas daninhas.
Era preciso fazer com que os escravos fossem, aos poucos, acreditando que a única coisa boa que ainda tinham, na verdade era uma coisa má, diabólica e maldita.
A sexualidade, no sapiens, transcende em muito a dos outros animais. Assume um caráter excepcional, para o sapiens, muitíssimo mais complexo do que o é para qualquer outro ser da escala animal.
Não se restringe a cópulas periódicas e à perpetuação da espécie, ao contrário, ela ultrapassa em muito esses limites. Permeia toda a vida dos homens e das mulheres, transcende nos gestos e nas palavras que pronunciam, nos seus atos mais cheios de ternura mas também nos mais vis. Envereda por caminhos estranhos e perversos e por desvios histéricos e fanáticos. A sexualidade pode tornar-se perigosa na mente de um psicopata, assim como pode parecer inocente numa poesia pueril.
Lembrando Morin, a própria institucionalização da família e a consequente regulamentação da sexualidade gerarão uma série de problemas internos, geralmente esquecidos pela Antropologia, mas muito bem desvendados pela Psicanálise, que tornarão a vida afetiva dos indivíduos e suas relações interpessoais extraordinariamente complexas.
Para ele: Vidas vão ser fulminadas, martirizadas, transfiguradas por desejos insensatos, amores dementes, encontros furtivos e, a partir de então, cada vida será dupla, com sua parte imersa, cada sociedade viverá sua vida dupla, sua vida oficial e sua vida crônica.(Morin, 1975)
Desnecessário seria dizer, mas Exu, segundo sua mitologia, com toda a certeza, apropriar-se-á (ou farão com ele se aproprie?) dessa parte imersa do indivíduo, dessa sua sexualidade subterrânea, que Morin descreve tão bem.
Exu, em muitas de suas formas, avatares, nomes, roupas, expressões faciais, representa claramente essa sexualidade tão desvairada. E o chamado “exu feminino”, a Pomba-Gira (uma corruptela da palavra Bombojiro, que é como os Bantu chamam Exu), é a própria expressão da mulher encarnando um tipo de sexualidade pervertida.
Como a sexualidade feminina foi sempre muito reprimida no Ocidente, a Pomba-Gira representa justamente essa “sombra” da mulher. Esse lado ciosamente escondido. O lado exuberante, sensual, debochado, não é bem visto numa mulher. A Pomba-Gira assimila-o e o expõe sem receios.
A Morte
A consciência da morte é, para o homem, o mais cruel e terrível de todos os enigmas. O ser e não-ser, ao mesmo tempo, é algo inimaginável. Os ritos funerários, o cerimonial feito pelos parentes da pessoa morta, sempre foram e são até hoje, objeto de estudo de antropólogos, sociólogos e psicólogos. É, certamente, o objeto maior da atenção de religiões e religiosos de todas as culturas. O homem não aceita a morte como fato consumado. Já alguns primatas, como o chimpanzé por exemplo, parecem não aceitá-la da mesma forma que os outros animais.
Essa questão do “reconhecimento” da morte como algo inevitável e irreparável, que acontecerá fatalmente a todos e a não aceitação dessa mesma morte, é tratada na obra de Edgar Morin. Ele observa que os mais antigos túmulos conhecidos são do homem de Neandertal, que já era sapiens. Algumas destas sepulturas apresentam vestígios de pólen sobre o cadáver, o que sugere que o morto teria sido colocado sobre uma “cama” de flores. Outras mostram que ao lado dos despojos eram colocados utensílios domésticos, armas e comida. Ora, tudo isso nos mostra claramente que já havia aí, não indícios de espiritualidade, mas uma não aceitação da morte como fato consumado e crenças numa transmortalidade, seja na forma de sobrevivência da alma ou de reencarnação. (Morin, 1975:101,102,103)
Existem muitos nomes e significações ligados a Exu e a Pombo-Gira, mas a maior parte desses nomes está, sem dúvida, associada à morte. Alguns autores citam Omolu (ou Obaluaiê), juntamente com Exu, como os senhores da Morte e do Mal. Temos então: Exu Caveira, Exu Tata Caveira, Exu Omolu, Exu do Cemitério, Exu Calunga, (calunga pequena – cemitério, calunga grande – o mar), Exu Sete Cruzes, Exu Sete Covas, Exu Catacumba, Exu Sete Sombras, Exu Seu João Caveira, Exu Calunguinha do Mar. Pomba-Gira das Almas, Pomba-Gira da Calunga, Pomba-Gira do Cruzeiro. Todos estes nomes e muitos outros, referem-se sempre a cemitérios, morte, túmulos e covas.
Sendo a morte sempre algo em que não se gosta de pensar, dói demais, nada melhor do que ter alguém para carregá-la e talvez conseguir até afastá-la o mais possível, pois Exu tem também poder sobre ela. Assim como ele é o Grande Senhor da Vida e do Movimento ele também é o da Morte (Ikù), que é a cessação de todo o movimento. Como guardião dos limiares, ele é também o “dono” do portão do cemitério.
Como vimos o grande e angustiante conflito existencial do ser humano, que é a morte, encontra em Exu um fantástico representante.
Acredito que, com este estudo sobre as várias representações de Exu, não fica difícil perceber que ele, na verdade, assimilou e catalisa, hoje, alguns dos mais importantes aspectos dos lados sombrios, apavorantes e inaceitáveis da criatura humana.
O Espaço
Seus nomes comumente afirmam que ele é o “controlador dos destinos”, o “senhor dos caminhos” e, por conseguinte, é o dono da encruzilhada e o dono do limiar. Estes títulos – ou atribuições – apesar de terem suas origens nos tempos míticos da velha África, são atributos que ele mantém até hoje na Umbanda e mesmo na imaginação popular. Monique Augras (1985), refere-se com pormenores acerca da periculosidade do conflito existencial que é o espaço, para os seres humanos. Aliás, não só para estes, como também para a grande maioria das outras espécies animais. O espaço transcende os limites impostos pela nossa própria pele. Nosso espaço não é só aquele ocupado pelo nosso próprio corpo. Ele vai muito além. Ele é também nossa casa, particularmente nosso quarto, nosso escritório ou consultório, nosso carro, nossa rua, nosso bairro, nossa cidade. É em virtude de questões vinculadas à posse de espaços territoriais que são travadas a maior parte das batalhas e guerras nas quais se envolvem países, nações e agrupamentos humanos.
Exu rege os caminhos e os espaços. Como vimos, através das citações de Monique Augras, não é difícil constatar a importância da questão do espaço. Assim, não será também estranho que, dentro da filosofia do Candomblé, somente um orixá tão importante quanto Exu fosse capaz de reger algo tão complexo quanto o espaço. A encruzilhada é dele, pois é o lugar onde dois espaços se cruzam. Ela não precisa, apesar do nome, ser necessariamente em forma de cruz, ou seja, abrindo a possibilidade de quatro escolhas. Pode ser em forma de ‘T’ ou, como nas antigas cidades gregas, de ‘Y’. Aí, as opções ou escolhas podem ser em número de três. Ou pode ser uma “encruzilhada” que permita uma, entre duas possibilidades.
(…) e lembramos a associação que se faz de Esù e as encruzilhadas, representação por excelência da multiplicidade de caminhos e da geração e da imposição de alternativas e possibilidades. Destino e encruzilhadas estão, sem dúvida, intimamente ligados. Como Inspetor Geral de Olodunmare, ao mesmo tempo em que está em todos os lugares e em todas as formas criadas, Esù está simbolicamente representado na encruzilhada, onde assiste e acompanha todas as escolhas feitas pelos homens na sua caminhada pela vida. (Ribas, 1997)
A soleira da porta é guardada por ele também, pois o portão ou porta de uma casa é justamente o lugar onde termina um espaço coletivo – o “espaço da rua” – e começa um espaço pessoal. Ou vice-versa. O espaço da rua é um espaço de todos, teoricamente um lugar mais perigoso. O espaço pessoal é menos perigoso, fecha-se a porta e se estará ao abrigo de ladrões e pessoas perversas. Ao abrigo das intempéries e dos olhares alheios. O limiar guarda simbolismos existenciais profundos e complexos.
Nada mais justo que uma divindade importante como Exu, tome conta dele. Tanto em várias lendas e mitos quanto em contos de fadas encontramos momentos em que os guardiões dos limiares são criaturas perigosas e ferozes.
Mircea Eliade (1992) fala-nos acerca dos achilpa, uma tribo Arunta (Austrália). Segundo suas tradições um ser divino, Numbakula, nos tempos míticos havia sacralizado o tronco de uma árvore da goma (kauwa-auwa). Este tronco tornou-se um poste sagrado e os achilpa levavam-no sempre consigo, pois escolhiam a direção que deviam seguir dependendo da inclinação do poste. Tendo este uma vez se quebrado, toda a tribo foi tomada de grande angústia; vaguearam durante algum tempo e finalmente sentaram-se no chão e deixaram-se morrer.
Creio que este exemplo é extremamente notável para demonstrar a importância, para o ser humano, em demarcar o seu espaço. Hoje, em nossa cultura, “marcamos” nossos espaços, através de escrituras de compra e venda, por exemplo. Assim, esta casa é minha, pois eu a comprei. Eu tenho a escritura que comprova que ela é minha. Todavia, em outras culturas, não é assim tão simples a legitimação do espaço. Como vimos, para os achilpa, é um poste sagrado que, dependendo do lado para onde ele se inclina ou pertence estático, torna aquele determinado local como sendo legitimamente habitável para eles e seus rebanhos.
Para os povos indígenas das Américas, sempre pareceu muito estranho que os europeus quisessem provar-lhes através de um simples papel, que aquela terra era deles e não dos índios.
O espaço sagrado é sempre diferenciado do espaço profano.
Assim, os templos e as Igrejas são lugares sagrados. Na Umbanda, o conga é o “eixo cósmico”, pois é ali que, durante as giras, as entidades vão descer e incorporar-se nos médiuns.
Geralmente, há rituais que demarcam as fronteiras entre o espaço sagrado e o profano. Nas Igrejas Católicas, ajoelhamos e fazemos o sinal da cruz, antes de entrar. Nas mesquitas muçulmanas, os homens tiram os sapatos antes de entrar no templo. Nas Tendas Umbandistas, pede-se que os fiéis, antes de tomar passes ou fazer consultas, tirem os sapatos, o relógios, jóias e óculos.
No Candomblé, Exu rege os espaços mas, essa característica, de certa forma passou para a Umbanda de modo muito enfático. Ele rege o limiar, conforme já foi dito antes. Mesmo nos centros umbandistas mais “puxados” para o Kardecismo, no portão de entrada, se não houver uma imagem de Exu, há pelo menos uma oferenda a ele: um copo de aguardente, um charuto aceso e uma vela preta (ou vermelha) acesa.
Ao pensar em todas as batalhas, guerras e conflitos políticos que já abalaram o mundo, vê-se que, quase sempre, eles acontecem em virtude da posse de determinados territórios.
Assim, Exu torna-se, então, Exu Vira Mundo, Exu Tranca Ruas, Exu Sete Encruzas, Exu Sete Porteiras, Pomba-Gira Rainha do Cruzeiro, Pomba-Gira da Praia, Exu da Encruzilhada.
Escrito por Mãe Mônica Caraccio
Isso é o ENCANTO DE UMA GIRA!!!
Axé pessoal! Sexta feira é o dia da semana que muitos Terreiros abrem suas portas e suas giras para atender centenas e mais centenas de pessoas e milhares de espíritos desencarnados.
Como para algumas pessoas esse dia é “somente” um dia de Gira, gostaria de propor um pensar juntos sobre o que representa a “Abertura da Jurema”.
Afirmo e reafirmo que viveríamos muito mais felizes, alegres e plenos se aprendêssemos fazer de cada momento, um Momento Único, e sendo assim, penso que a Umbanda teria um Valor mais real, com seus médiuns muito mais vibrantes e fiéis se conseguíssemos enxergar Além, se conseguíssemos perceber a importância de cada um e de todos nós para essa religião que só consegue realizar e se manifestar através de nós, se conseguíssemos perceber a grandeza de cada rito, de cada ritual, de cada gira e de cada vez em que a “Jurema é aberta”.
Portanto, se pararmos para pensar um pouco no que acontece em um dia de gira perceberemos uma religião única, uma oportunidade única e um dia único, cheio de momentos únicos.
Perceberemos a importância de cada ação, de cada “pequeno” ato, de alguns “detalhes” que, com certeza, influenciam diretamente em nossa vida.
Perceberemos ainda que, infelizmente, muitas vezes nos deixamos influenciar pela inércia, pelo esquecimento e pior, por um cotidiano frio e calculista, perdendo assim todo o Encanto, todo o Valor e todo o Poder Realizador de uma gira, deixando que a ‘Abertura da Jurema’ se reduza em um simples ato de “Esperança de Fé”.
Vejam alguns pequenos “detalhes” de um dia único, de um dia que faz a diferença na vida de muitas pessoas e milhares de espíritos.
Para muitos dos consulentes esse dia é um dia de expectativa, muitos passam o dia olhando para o relógio e preocupados em não faltar ou atrasar. Se programam desde cedo, conversam com os familiares, combinam horários e pontos de encontros. Afinal, é DIA DE GIRA!!!
Muitos passam o dia pensando no que irão falar, pensando no que pedir e no alívio que terão depois dos poucos minutos de prosa.
Alguns ainda passam o dia torcendo e até ‘pedindo’ para falar com determinada Entidade, outros torcerão para que a gira seja com sua Linha preferida, mesmo porque, cada Linha tem uma energia específica, com formas de agir e de nos atingir diferentemente – os Caboclos, por exemplo, agem com uma encantadora racionalidade e sabedoria que nos levam a agir cheios de ‘certezas’ nas Forças Supremas; os Pretos Velhos, mais sensíveis, apaziguadores e tolerantes, quase sempre nos fazem chorar e refletir sobre nós mesmos; já do ‘povo da Bahia’, – que alegria! -, recebemos descontração, magia e gingado para lidar com os percalços da vida diária. Com os Exus então, encontramos, entre tantas coisas, a verdade dura, crua e, muitas vezes, dolorida… Isso é o Encanto de uma Gira!!! Necessidades, merecimentos, realizações, bênçãos, esperança e amor tudo junto, manifestado em um ‘estalar’ de dedos, em um ‘bater cabeça’, em um ‘pensar’ puro e em um ‘sentir’ junto.
Os médiuns então terão um dia mais que especial, cuidarão de suas roupas, guias e objetos de uso em gira. Tudo deverá estar impecável, pois a responsabilidade é grande.
Para muitos, os preparos começarão no dia anterior, com defumação e banho de ervas, farão suas Firmezas pedindo toda proteção para o trabalho do qual irão participar e pedirão ainda, ajuda para que sejam bons instrumentos e manifestadores da Luz Divina.
Também cuidarão do horário com muito mais atenção para não se atrasarem, pois sabem que muitos dependem deles.
Procurarão ter um dia sem stress e sem grandes tumultos, atentos à alimentação e às atitudes de forma muito mais acentuada. Afinal, é DIA DE GIRA!!!
Alguns terão pequenas tonturas durante o dia, outros terão uma sonolência descontrolada, perceberão ‘presenças’ e sentirão vultos, além da aproximação das Entidades. Isso é o Encanto de uma Gira!!! É servir, agir, ser, estar, se preparar, se preocupar, se doar, sair mais feliz do que chegou, mais pleno, mais encantado e já com saudades.
Já a Mãe ou o Pai Espiritual terão um dia que exigirá muita concentração e disciplina. Terão que firmar todo terreiro, assentar e alimentar todas as Forças, olhar, cuidar e sentir todos seus médiuns. Perceber os ataques, a energia da corrente, a presença dos Guias para Trabalho, a influência dos Orixás, a permanência das legiões do Bem, do Mal e dos espíritos enfermos que são naturalmente direcionados para tratamentos durante os trabalhos. Cuidarão do antes, do durante e do depois dos trabalhos religiosos, terão que fazer tudo com muita excelência e competência.
Nesse dia especificamente, serão os primeiros a acordarem e os últimos a dormirem. Afinal, é DIA DE GIRA!!!
Claro que ainda terão que cuidar de suas firmezas pessoais, de sua família, do seu trabalho diário e ainda se preocuparão em arrecadar verbas para continuar mantendo as despesas do Terreiro em ordem. Isso é o Encanto de uma Gira!!! É fazer o bem sem olhar a quem, é saber discernir, é enxergar Além, é fazer a diferença, é fazer diferente, é cumprir a missão, a função e a obrigação agradecendo com o coração, com a mente e com a alma cheia de verdade.
E para o Astral então, o trabalho é muito maior! São falanges e mais falanges de espíritos iluminados que literalmente “vêm” para nos ajudar.
São grupos de espíritos protegendo o Terreiro durante todo o dia e durante toda a noite, auxiliando a gira, fortalecendo a corrente mediúnica, segurando a porteira e sustentando a “Abertura da Jurema”. Outras falanges protegem e acompanham os médiuns da corrente durante todo o dia, pois é fato que nunca estamos sozinhos. Os consulentes também são cuidados, também têm o auxílio de espíritos iluminados, também são guardados, direcionados e livrados dos ataques de espíritos inferiores que muitas vezes não os querem dentro de um Terreiro. Portanto, todos são cuidados, assistidos e abençoados durante todo o dia. Afinal, é DIA DE GIRA!!!
E sabemos que em dia de gira, não entra em nossa gira quem não tem permissão da Lei Divina, ou seja, estar em gira, participar de uma gira, vivenciar uma engira é uma grande benção! Um grande privilégio!
E isso é o Encanto de uma Gira!!! É saber que os Guardiões da Lei Divina são rigorosos, que estão enxergando Além, que estão ouvindo nossos pensamentos muito mais do que nossas palavras, que se assentam em nossos Terreiros como se assentam em torno de Ogum e que manifestam o Poder Divino Realizador não apenas no momento em que o Pai Espiritual clama aos Orixás a permissão para a Abertura da Jurema, mas em todos os momentos que clamamos por Paz, Amor e Compaixão.
Pois bem, são esses “pequenos detalhes” que fazem a Umbanda ser tão encantadora. Encanto esse, que nos faz sorrir, que nos faz querer mais, que nos alimenta e nos faz ressurgir para uma vida de realizações.
E será a percepção desses “Momentos Únicos” que transformarão nossa vida religiosa em uma vida mais feliz e plena.
E serão esses “Momentos Únicos” que nos transformarão em seres humanos melhores e que transformarão a “Esperança de Fé” em CRENÇA REAL.
É!… Enxergar ou vivenciar a Umbanda com todo seu Encanto não é fácil, precisa ter Olhar de Poeta, precisa ter Fé naquilo que está Além de nossos olhos. Precisa confiar, não se preocupar e não se incomodar. Precisa ter leveza, doçura e gentileza. Precisa querer, ser e estar em Paz e Pleno.
Salve Nossa Gira!
Salve Nossa Engira!
Salve a Abertura da Jurema!
Salve Nossa Umbanda!
Salve a Minha Umbanda!
É por Ela que vivo, trabalho e ajo, cada vez mais em Paz, Plena e Encantada.
Feliz sexta feira a todos afinal, É DIA DE GIRA!!!
Como para algumas pessoas esse dia é “somente” um dia de Gira, gostaria de propor um pensar juntos sobre o que representa a “Abertura da Jurema”.
Afirmo e reafirmo que viveríamos muito mais felizes, alegres e plenos se aprendêssemos fazer de cada momento, um Momento Único, e sendo assim, penso que a Umbanda teria um Valor mais real, com seus médiuns muito mais vibrantes e fiéis se conseguíssemos enxergar Além, se conseguíssemos perceber a importância de cada um e de todos nós para essa religião que só consegue realizar e se manifestar através de nós, se conseguíssemos perceber a grandeza de cada rito, de cada ritual, de cada gira e de cada vez em que a “Jurema é aberta”.
Portanto, se pararmos para pensar um pouco no que acontece em um dia de gira perceberemos uma religião única, uma oportunidade única e um dia único, cheio de momentos únicos.
Perceberemos a importância de cada ação, de cada “pequeno” ato, de alguns “detalhes” que, com certeza, influenciam diretamente em nossa vida.
Perceberemos ainda que, infelizmente, muitas vezes nos deixamos influenciar pela inércia, pelo esquecimento e pior, por um cotidiano frio e calculista, perdendo assim todo o Encanto, todo o Valor e todo o Poder Realizador de uma gira, deixando que a ‘Abertura da Jurema’ se reduza em um simples ato de “Esperança de Fé”.
Vejam alguns pequenos “detalhes” de um dia único, de um dia que faz a diferença na vida de muitas pessoas e milhares de espíritos.
Para muitos dos consulentes esse dia é um dia de expectativa, muitos passam o dia olhando para o relógio e preocupados em não faltar ou atrasar. Se programam desde cedo, conversam com os familiares, combinam horários e pontos de encontros. Afinal, é DIA DE GIRA!!!
Muitos passam o dia pensando no que irão falar, pensando no que pedir e no alívio que terão depois dos poucos minutos de prosa.
Alguns ainda passam o dia torcendo e até ‘pedindo’ para falar com determinada Entidade, outros torcerão para que a gira seja com sua Linha preferida, mesmo porque, cada Linha tem uma energia específica, com formas de agir e de nos atingir diferentemente – os Caboclos, por exemplo, agem com uma encantadora racionalidade e sabedoria que nos levam a agir cheios de ‘certezas’ nas Forças Supremas; os Pretos Velhos, mais sensíveis, apaziguadores e tolerantes, quase sempre nos fazem chorar e refletir sobre nós mesmos; já do ‘povo da Bahia’, – que alegria! -, recebemos descontração, magia e gingado para lidar com os percalços da vida diária. Com os Exus então, encontramos, entre tantas coisas, a verdade dura, crua e, muitas vezes, dolorida… Isso é o Encanto de uma Gira!!! Necessidades, merecimentos, realizações, bênçãos, esperança e amor tudo junto, manifestado em um ‘estalar’ de dedos, em um ‘bater cabeça’, em um ‘pensar’ puro e em um ‘sentir’ junto.
Os médiuns então terão um dia mais que especial, cuidarão de suas roupas, guias e objetos de uso em gira. Tudo deverá estar impecável, pois a responsabilidade é grande.
Para muitos, os preparos começarão no dia anterior, com defumação e banho de ervas, farão suas Firmezas pedindo toda proteção para o trabalho do qual irão participar e pedirão ainda, ajuda para que sejam bons instrumentos e manifestadores da Luz Divina.
Também cuidarão do horário com muito mais atenção para não se atrasarem, pois sabem que muitos dependem deles.
Procurarão ter um dia sem stress e sem grandes tumultos, atentos à alimentação e às atitudes de forma muito mais acentuada. Afinal, é DIA DE GIRA!!!
Alguns terão pequenas tonturas durante o dia, outros terão uma sonolência descontrolada, perceberão ‘presenças’ e sentirão vultos, além da aproximação das Entidades. Isso é o Encanto de uma Gira!!! É servir, agir, ser, estar, se preparar, se preocupar, se doar, sair mais feliz do que chegou, mais pleno, mais encantado e já com saudades.
Já a Mãe ou o Pai Espiritual terão um dia que exigirá muita concentração e disciplina. Terão que firmar todo terreiro, assentar e alimentar todas as Forças, olhar, cuidar e sentir todos seus médiuns. Perceber os ataques, a energia da corrente, a presença dos Guias para Trabalho, a influência dos Orixás, a permanência das legiões do Bem, do Mal e dos espíritos enfermos que são naturalmente direcionados para tratamentos durante os trabalhos. Cuidarão do antes, do durante e do depois dos trabalhos religiosos, terão que fazer tudo com muita excelência e competência.
Nesse dia especificamente, serão os primeiros a acordarem e os últimos a dormirem. Afinal, é DIA DE GIRA!!!
Claro que ainda terão que cuidar de suas firmezas pessoais, de sua família, do seu trabalho diário e ainda se preocuparão em arrecadar verbas para continuar mantendo as despesas do Terreiro em ordem. Isso é o Encanto de uma Gira!!! É fazer o bem sem olhar a quem, é saber discernir, é enxergar Além, é fazer a diferença, é fazer diferente, é cumprir a missão, a função e a obrigação agradecendo com o coração, com a mente e com a alma cheia de verdade.
E para o Astral então, o trabalho é muito maior! São falanges e mais falanges de espíritos iluminados que literalmente “vêm” para nos ajudar.
São grupos de espíritos protegendo o Terreiro durante todo o dia e durante toda a noite, auxiliando a gira, fortalecendo a corrente mediúnica, segurando a porteira e sustentando a “Abertura da Jurema”. Outras falanges protegem e acompanham os médiuns da corrente durante todo o dia, pois é fato que nunca estamos sozinhos. Os consulentes também são cuidados, também têm o auxílio de espíritos iluminados, também são guardados, direcionados e livrados dos ataques de espíritos inferiores que muitas vezes não os querem dentro de um Terreiro. Portanto, todos são cuidados, assistidos e abençoados durante todo o dia. Afinal, é DIA DE GIRA!!!
E sabemos que em dia de gira, não entra em nossa gira quem não tem permissão da Lei Divina, ou seja, estar em gira, participar de uma gira, vivenciar uma engira é uma grande benção! Um grande privilégio!
E isso é o Encanto de uma Gira!!! É saber que os Guardiões da Lei Divina são rigorosos, que estão enxergando Além, que estão ouvindo nossos pensamentos muito mais do que nossas palavras, que se assentam em nossos Terreiros como se assentam em torno de Ogum e que manifestam o Poder Divino Realizador não apenas no momento em que o Pai Espiritual clama aos Orixás a permissão para a Abertura da Jurema, mas em todos os momentos que clamamos por Paz, Amor e Compaixão.
Pois bem, são esses “pequenos detalhes” que fazem a Umbanda ser tão encantadora. Encanto esse, que nos faz sorrir, que nos faz querer mais, que nos alimenta e nos faz ressurgir para uma vida de realizações.
E será a percepção desses “Momentos Únicos” que transformarão nossa vida religiosa em uma vida mais feliz e plena.
E serão esses “Momentos Únicos” que nos transformarão em seres humanos melhores e que transformarão a “Esperança de Fé” em CRENÇA REAL.
É!… Enxergar ou vivenciar a Umbanda com todo seu Encanto não é fácil, precisa ter Olhar de Poeta, precisa ter Fé naquilo que está Além de nossos olhos. Precisa confiar, não se preocupar e não se incomodar. Precisa ter leveza, doçura e gentileza. Precisa querer, ser e estar em Paz e Pleno.
Salve Nossa Gira!
Salve Nossa Engira!
Salve a Abertura da Jurema!
Salve Nossa Umbanda!
Salve a Minha Umbanda!
É por Ela que vivo, trabalho e ajo, cada vez mais em Paz, Plena e Encantada.
Feliz sexta feira a todos afinal, É DIA DE GIRA!!!
Assinar:
Postagens (Atom)