Confesso a vocês que este título - "Pomba GIra" - eu não posso especificar com toda a certeza de onde surgiu. Alguns afirmam ter sido uma corruptela de uma outra corruptela, já que Mpambu Njilla (Mpambu=cruzamento, encruzilhada; e Njilla=rua) seria o nome original que teria dado orígem a Bombogira que por sua vez gerou Pomba Gira (ou Pombo Gira, como chamam alguns outros) por, digamos, "interpretação auditiva", só que, o Mpambu Njilla era (e continua sendo) na realidade um Inkice também MACHO cultuado pelos Bantus (Angola) e Bombogira, segundo o livro "CANDOMBLE - RELIGIÃO DO CORPO E DA ALMA" de Carlos Eugênio Marcondes de Moura, um termo CONGO só que também para Inkice Macho, de forma que prefiro ficar devendo este detalhe do que tentar me infiltrar por caminhos que não conheço e que podem ser "furados".
Consideremos então que, por seja lá qual tenha sido o motivo, os mais antigos resolveram chamar essas entidades que eram tidas como Ekuruns fémeas de Pomba Giras e que você já deva ter entendido o porquê delas terem sido consideradas Exus Fêmeas, bem assim como compreendidas como Mulheres dos Exus. Se ainda não, é só rever algumas das características, tanto do Exu Orixá quanto do Exu Ekurun nas partes anteriores (PARTES I e II deste tema) e entender que, embora fêmeas, tinham comportamento e atitudes semelhantes em vários aspectos, com foco maior no aspecto sensual e sexual, através do quais exibiam toda a liberalidade que nenhuma mulher da alta ou baixa sociedade de então ousaria e pelos quais eram preferencialmente procuradas para trabalhos de envultamento (feitiço) - estas eram as Ekuruns fêmeas, Exus fêmeas e finalmente Pomba Giras.
Enquanto estiveram apenas nas Macumbas, Canjerês primitivos e semelhantes, tanto Exu/Ekurun quanto Pomba Gira/Ekurun, eram procurados para serviços sobre os quais hoje, até os que os procuravam teriam vergonha de falar. Muitos deles, pelo tanto de suas ferocidades, chegavam a trabalhar acorrentados, tal a ira que traziam dentro de si, talvez pelos maus tratos que teriam recebido quando ainda em vida carnal.
Com a criação do NOVO CULTO em 1908 que viria a se chamar primeiramente ALABANDA (1908), depois AUMBANDA (1909) e que acabou sendo conhecido como UMBANDA, nome pelo qual já chegou oficializado em 1939 por ocasião da criação da PRIMEIRA FEDERAÇÃO DE UMBANDA DO BRASIL por Zélio Fernandino de Moraes, esses espíritos/ekuruns/exus, que também passaram a rondar nesta Banda embora não com tanta expressão quanto nos demais cultos (na Umbanda de Origem não existiam Sessões ou Giras específicas para Exus), passaram a ser compreendidos como Espíritos que estariam ou deveriam estar EM EVOLUÇÃO - muito primitivos ainda por seus comportamentos amorais, mas em evolução, e não mais como continuaram sendo compreendidos pelos cultos mais primitivos: "aqueles a quem tudo poderíamos pedir desde que fossem bem pagos".
Sobre isto, aliás, vamos transcrever abaixo, a título de orientação inicial ainda, um depoimento dado pelo senhor Zélio de Moraes sobre o que lhe havia ensinado o Caboclo das Sete Encruzilhadas a respeito dos espíritos/ekuruns/exus.
Preste bastante atenção!!
Pergunta: Sr. Zélio, é sobre o trabalho dos Exús. Existem tendas que dão consultas com Exús em dias especiais além das consultas normais de Pretos Velhos e Caboclos. Como o Sr. vê isso?
Zélio: Eu sei disto, que há muitas tendas que trabalham com Exús, eu não gosto porque é muito fácil se manifestar com Exú, qualquer pessoa médium, um mal médium se manifesta com Exú, basta ter um espírito atrasado; ou também fingindo um espírito, por isso não gosto e fujo disto, na minha tenda não se trabalha com Exú por qualquer motivo.
Comentário: Percebamos, então, que na visão da Umbada Original proposta, já era observada a facilidade de exus se manifestarem ou até mesmo a possibilidade de haver mistificação (o famosos Ekês) nestas "manifestações".
Quando ele diz: "na minha tenda não se trabalha com Exu por qualquer motivo, fica claro que Exu só era chamado em casos especiais e na condição de "soldados da Umbanda", como eram compreendidos, conforme se poderá ver mais abaixo.
Pergunta: Mas o Sr. não considera o Exú um espírito trabalhador como todos os outros?
Zélio: Depois de despertado, porque o Exú é um espírito admitido nas trevas. Depois de despertado, que ele dá um passo no caminho da regeneração, é fácil ele trabalhar em benefício dos outros. Assim eu acredito no trabalho do Exú.
Comentário: Esta, poderíamos dizer, é uma resposta chave para a compreensão do que vem a ser Exu/Ekurun de um modo geral, ou do porquê esses Ekuruns passaram a ser chamados de Exus. Esse "depois de despertados" nos transmite muito bem que, pelos comportamentos e decisões inadequadas ao NOVO CULTO (comportamento este até incentivado nos cultos mais primitivos, tanto pelos seguidores quanto pelos que só os procuravam em busca de vantagens particulares), Exus chegaram a ser entendidos como "Espíritos admitidos das trevas", ou, em outras palavras, trevosos que buscam "caminhar", ainda que a seus modos. Portanto, quando admitidos na Umbanda, antes ainda de se lhes fazerem homenagens dever-se-ia acordá-los para a luz - despertá-los das trevas - o que significaria trabalhar sobre a amoralidade geral desses espíritos, orientando-os por conceitos cristãos (amor, desprendimento, caridade...), pois cristã era a Umbanda anunciada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas.
Pergunta: Não haverá casos em que outros Orixás vibrando em outras linhas não possam resolver de imediato alguns problemas de filhos e, não seria o Exú aí o mais indicado para resolver, por estar mais perto materialmente, por estar mais aceito nos trabalhos materiais?
Zélio: O nosso chefe, "o Caboclo das Sete Encruzilhadas" nos ensinou assim, isto faz 60 anos, que o Exú é um trabalhador. Como na polícia tem soldado, o chefe de polícia não prende, o delegado não prende, quem prende são os soldados, cumprem ordens dos maiorais, então o Exú é um espírito que se encosta na falange, que aproveita para fazer o bem, porque cada passo para o bem que eles fazem vai aumentando a sua luz, de maneira, que é despertado e vai trabalhar, quer dizer, vai pegar, vai seduzir este espírito que está obsedando alguém, então este Exú vai evoluir. É assim que o Caboclo das Sete Encruzilhadas nos ensinava.
Comentário: Repare o posicionamento claro de "soldado da Umbanda" dado nesta explicação de Zélio que, chamando-os de soldados, definia Exu como um trabalhador, um auxiliar que exercia suas funções ordenado ou coordenado por seus superiores, ocasião em que, pelo contato e aprendizagem com estes, começava a fazer a caridade e a se enganjar no NOVO CULTO que já se chamava Umbanda.
A partir do advento Umbanda é que se criaram depois entre os adeptos, as caracterizações de Exus Pagãos (os que não estavam ligados à Umbanda e continuavam tão amorais quanto antes); Exus Batizados (os que já em contato com espíritos mais evoluídos teriam aprendido com eles conceitos mais cristãos e inclusive deixado de trabalhar apenas por barganhas); Exus Coroados (aqueles que já teriam aceito todos os conceitos cristãos adotados pela Umbanda e que, além de não mais se venderem, teriam aprendido também a trabalhar sem os cortes (copagens), tão comuns aos Pagãos e ainda meio que inseridos entre os Batizados "aqui e ali").
Pergunta: De que modo o Exú é um auxiliar e não um empregado do Orixá ou vice-versa?
Zélio: Eu não digo empregado, mas é um espírito que tende a melhorar, então para ele melhorar ele vai fazer a caridade junto com as falanges, correndo em benefício daqueles que estão obsidiados, despertando e ajudando a despertar o espírito para afasta-lo do mal que ele estava fazendo, então ele se torna um auxiliar dos Orixás
Comentário: É importante salientar que a prática da caridade, seja ela como for, tem por objetivo básico e subliminar, fazer com que o ser (encarnado ou não) se desprenda um pouco, pelo menos, de si mesmo e seus problemas e passe a ver todos à sua volta como humanos que nem ele, ao mesmo tempo em que faz ver aos caridosos que eles não são as piores pessoas do mundo - os esquecidos por Deus, em linhas gerais - por piores que se sintam.
Subliminarmente, então, praticar a caridade sem ansiar por retornos significativos de quaisquer espécies (até porque se não for assim não é caridade real, chegando a ser às vezes pura demonstração de "bondade(?)"; em outras palavras VAIDADE) chega a ser um tratamento para aqueles que estão sempre centrados em seus próprios problemas e que por isto mesmo sofrem cada vez mais.
FONTE DAS PERGUNTAS E RESPOTAS: CASA BRANCA DE OXALÁ TEMPLO UMBANDISTA COMENTÁRIOS MEUS.
Nenhum comentário:
Postar um comentário