domingo, 9 de maio de 2010

VAMOS CASAR NA UMBANDA !?

Sem preocupação de incorrermos em equivocado juízo de valor que possa suscitar discussões dentro de nossa religião, asseveramos que um dos sacramentos (atos religiosos de caráter especial, extraordinário) que quase não é utilizado por médiuns e assistentes nos Templos Umbandistas, é o Casamento.

Antes de tecermos comentários sobre as razões determinantes para que tal ato solene, comum dentro de outras religiões, não esteja efetivamente inserido no rol de ritos religiosos de Umbanda, convém que apresentemos um breve relato histórico sobre o surgimento desta respeitável instituição.
O Casamento, tal qual o conhecemos, tem seu ponto de origem no antigo Império Romano, onde existiam três modalidades de união entre o homem e a mulher.

A primeira forma era a Confarreatio, união da nobreza romana, correspondendo ao matrimônio religioso. A segunda forma era a Coemptio, a união da plebe, do povo, correspondendo ao matrimônio civil. E finalmente a Usus, consistindo tal na aquisição da mulher pela posse, apreensão física.

A igreja cristã romana (católica), querendo expandir seu poder e área de influência, começou a reivindicar seus "direitos" sobre a instituição matrimonial, até então de base não cristã, incorporando tal ato como sacramento evangélico, e regulamentando-o no Concílio de Trento (1545-1563).

Pelo exposto, identificamos a primeira e principal causa, a causa-matriz, para que ainda hoje tal ato sacramental não tenha sido incorporado de maneira plena, implantado de forma integral por nossa religião: a reivindicação de propriedade da instituição casamento pela igreja cristã que, consoante seu poder de persuasão, induziu reis, rainhas, imperadores, governos, e principalmente o povo ignorante, a considerarem tal ato como divino e de exclusividade da mencionada religião.

Com o passar do tempo outras religiões reagiram ao repulsivo monopólio de celebração de casamentos pela citada igreja, que tentava de maneira vil desqualificar tal ato solene em outros segmentos religiosos, com justificativas tais como não ser "homologado por Deus". Felizmente as religiões pré-cristãs continuaram a celebrar as uniões, e as pós-cristãs implantaram a cerimônia em seus rituais.

No tocante ao Brasil, país colonizado por portugueses, povo essencialmente católico, a igreja passou a ter grande influência sobre a administração da nova colônia, impondo aos nativos e posteriormente aos escravos oriundos da África sua doutrina religiosa. Saliente-se que até o início do século XIX o catolicismo era considerada como a religião oficial do Brasil.
E é neste contexto que é formada a sociedade brasileira, onde seus féis professavam tal religião por devoção, tradição, ou imposição. Sob esta esfera de atuação da igreja papal, a sociedade brasileira foi compelida a ter como legítimo perante Deus e a sociedade os casamentos somente realizados pela igreja de Roma. Ao par disto, muitas pessoas não cristãs ou cristãs não católicas eram subjugadas pela tradição ou pressão social a se valerem dos préstimos dos sacerdotes católicos para concretizarem o matrimônio.

Os fiéis umbandistas também sofreram com o cenário descrito. Sendo em sua grande maioria ex-católicos (no início do século XX), louvavam a Espiritualidade de Umbanda; porém, na ocasião de convolarem núpcias recorriam ao expediente católico.

Aqui encontramos mais duas causas para a não utilização do casamento na Umbanda: *A ausência de conhecimentos doutrinários umbandistas e de ordenamentos ritualísticos que propiciassem aos presidentes e/ou diretores mediúnicos de culto transmitir a médiuns e assistentes os sacramentos a sua disposição, dentre os quais o matrimônio, fatos justificados pela recém chegada de nossa religião.
* A falta de consciência e convicção religiosa por parte dos fiéis umbandistas (médiuns e assistentes), em razão do desconhecimento das bases e diretrizes da Umbanda (ainda hoje muitos a consideram seita).
Por derradeiro e não esgotando o número de causas existentes, pontuamos como sendo mais um fator relevante para a não celebração de casamentos da Umbanda o despreparo intelectual, cultural e de oratória de muitos dirigentes, sem a devida capacidade para presidirem solenidade de grande significado, como o é o Casamento.

Passemos a direcionar nossas atenções para a importância que o casamento realizado nos Templos Umbandistas tem. E o faremos abordando os aspectos subjetivo, objetivo e de imagem. No que concerne a subjetividade e objetividade do ato solene, o foco será direcionado a médiuns e assistentes.
Subjetivamente falando, nada mais salutar, digno de orgulho e emocionante do que a possibilidade dos fiéis de nossa religião concretizarem o desejo de se unirem a outra pessoa, a fim de constituírem família, terem filhos, serem companheiros de jornada encarnatória e externarem o amor que no relacionamento existe, tendo como cenário o templo da religião que abraçaram com fé, respeito e dedicação, lugar em que recebem o consolo, a palavra amiga, o incentivo, o respeito como cidadãos, e o auxílio fraternal da Corrente Astral de Umbanda. Só quem já esteve presente em algum matrimônio realizado em um terreiro (são raros) pode atestar a alegria, a felicidade e a harmonia dos nubentes. 
Não há quem não se contagie com a cerimônia, onde os noivos, corpo de médiuns e convidados são envolvidos por poderosas ondas vibratórias de paz, amor e vitalidade emanadas pela Espiritualidade.

A nível objetivo, é a oportunidade, é a ocasião dos noivos expressarem seu respeito, seu crédito e seu sentimento em relação à Umbanda. É uma mensagem de confiança para com nossa religião, que poderíamos traduzir em palavras, da seguinte forma: "estamos realizando nosso casamento na Umbanda para externarmos nossa convicção e consciência religiosa, nossa gratidão, nossa confiança nos Caboclos (as), Pretos (as) - Velhos (as), nos Ibejis (crianças), e nos Guardiões (Exus e Bombogiras). Não temos vergonha de sermos Umbandistas ! Aqui louvamos a Deus (Zambi, Tupã, Olorum), louvamos os espíritos de elevadíssima grandeza (Orixás). É aqui que procuramos resgatar nossas faltas, evoluirmos espiritualmente. Neste lugar encontramos um campo fértil em fraternidade, humildade, simplicidade e verdade !". É isto que verdadeiros e dedicados filhos de Umbanda transmitiriam aos presentes à solenidade.

No quesito Imagem, é a Umbanda-religião que será a principal "personagem" do ato matrimonial. Sim, companheiros!, o casamento é um ato de repercussão social que possibilita a nossa religião se revelar a terceiros não umbandistas como segmento religioso de bases e diretrizes bem definidas, de identidade própria, de respeito, de seriedade, e de imaculada atividade mediúnico-espiritual. É a ocasião propícia para aqueles que têm uma visão distorcida de nosso Porto de Fé ficarem desapontados, surpresos e encantados. Desapontados, por não visualizarem naquele espaço religioso algo que justifique seu preconceito e discriminação; surpresos, na medida em que jamais imaginariam ver uma solenidade organizada, bonita, bem conduzida; encantados, por se sentirem energizados, vibrados, eletrizados pela atmosfera mágico-espiritual do Templo Umbandista.

Partindo para um outro ponto, pertinente também ao sacramento em pauta, asseveramos, assentados no bom senso e na lógica, que a cerimônia nupcial deve ser dirigida pelo presidente ou diretor de culto da Casa, vale dizer, por um encarnado. Talvez nossa posição, que reputamos firme e coerente, possa fazer surgir contrariedades em algumas mentes obtusas. Entretanto, não nos importa tais modos de pensar, e sim a preservação da imagem da Espiritualidade e da Umbanda, que são sagradas, não podendo de maneira alguma serem maculadas por ações humanas.

Seria um farto material de propaganda negativa do mundo espiritual e de nossa religião, e os adversários esperam sorrateiramente tal situação aflorar, se os espíritos mentores dos Templos Umbandistas oficiassem tal solenidade e, mais tarde, por fatos circunstanciais ou kármicos o casamento se desfizesse. 

Com absoluta certeza muitos inimigos da Umbanda, ou mesmo parentes e amigos do ex-casal, iriam vincular a dissolução do matrimônio ao evento realizado por uma entidade espiritual, responsabilizando-a pelo fracasso do casamento. Alguns indivíduos maliciosos e/ou ignorantes diriam: "Também, casamento realizado por `encosto` só podia dar em tragédia, ruína". Outros diriam: "Onde está a força das entidades espirituais que deixaram isto acontecer!". Pronto!!, a mesa está posta. Em cima dela a Espiritualidade e a Umbanda se encontram como banquetes, a esperar os inimigos para "devora-las", através do escárnio, da depreciação, das ofensas, da publicidade difamatória. É isto que os verdadeiros umbandistas desejam para a Corrente Astral de 
Umbanda e para a Umbanda-Religião? É claro que não!

Deixemos de lado a excessiva dependência para com os espíritos. Assumamos a responsabilidade por ações que nos cabem realizar. 
Eliminemos de nosso meio religioso colocações como: "Foi meu guia que realizou a cerimônia!; meu guia é muito bom!, sabe fazer um casamento!; meu mentor sabe das coisas!, só ele mesmo para efetivar uma linda cerimônia!". Tais afirmações só servem para atestarmos a vaidade de alguns e a ausência de preocupação com a Espiritualidade e a Umbanda.

Para robustecermos nossa opinião, convém esclarecermos que o casamento e ato de criação humana, uma formalidade legal (de Lei), se formando a partir de hábitos e convenções humanas, com direitos e deveres para os cônjuges, sendo coerente que tal ato solene seja presidido por um encarnado e não por um espírito. 

Ademais, não devemos confundir união espiritual entre encarnados com casamento entre encarnados.
O fato é que, mesmo a solenidade sendo presidida pelo dirigente físico da Casa, portanto sem incorporação (acoplamento), os espíritos integrantes da corrente do Terreiro estarão alí, felizes e zelando pela normalidade e harmonia do ritual. Não devemos olvidar dos padrinhos. Semelhante ao acima mencionado, somos favoráveis a que sejam constituídos por pessoas, o que não impede que haja padrinhos espirituais, que por certo estarão presentes à solenidade, porém não incorporados em seus médiuns.

Avancemos um pouco mais no tema e falemos sobre o ato solene em si e todas as peculiaridades que o envolvem.

O matrimônio é um evento marcante na vida das pessoas. É o momento que reflete e concretiza o desejo de duas pessoas em viverem juntas sob o mesmo teto, compartilharem momentos de alegria e felicidade, de estarem unidas em prol de um projeto de vida, de apoiarem-se mutuamente durante eventuais intempéries da vida, com amor, carinho, amizade, respeito e fraternidade. E é justamente por tais motivações que a cerimônia nupcial deverá ser cercada de preparação e cuidados especiais, consoante a justa importância que tem.

Em relação aos nubentes, se forem sacerdotes, deverão realizar alguns rituais preparatórios que não cabe aqui comentarmos. O mesmo para o caso dos noivos serem apenas assistentes, fiéis, somente variando os tipos de preceito. Em tais situações, a orientação e supervisão caberão ao mentor espiritual do Templo, ou ao presidente da Casa.

A vestimenta dos noivos poderá seguir os costumes dos casamentos em geral. Entretanto, somos favoráveis à utilização da cor branca, símbolo cromático da Umbanda. Os padrinhos utilizarão roupas com modelos e cores solicitados pelos futuros cônjuges.
Para o corpo de médiuns o vestuário será o sacerdotal.
No que diz respeito à decoração do salão onde se realizará a cerimônia, está será de iniciativa dos interessados, sob a chancela do dirigente do terreiro.

Um outro detalhe que merece atenção especial das Instituições umbandistas que realizarem casamentos, fator que revelará a organização, a respeitabilidade e a seriedade do Templo, é a existência de um livro especial, o Livro de Casamentos, onde deverão ser registradas todas as informações pertinentes ao ato matrimonial, além das assinaturas do celebrante, dos noivos e dos padrinhos. Além disto, após o casamento, a competente certidão do ato realizado deverá ser expedida e entregue aos noivos, fazendo o documento prova do matrimônio religioso.

A legislação em vigor prevê três tipos ou modalidades de casamento: o Religioso, o Civil, e o Religioso com Efeitos Civis, cabendo aos noivos que desejarem se casar na Umbanda optar pela primeira ou terceira modalidades, conforme as circunstâncias.
Esperamos ter contribuído para estimularmos os irmãos de fé a realizar seu casamento dentro de nossa amada Religião.

E aí umbandistas, vamos casar na Umbanda !?
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Juiz e promotora se casam na umbanda

Depois de se conhecerem há pouco mais de três meses, o juiz Andrey Máximo Formiga e a promotora de Justiça Fabiana Cândido casaram-se no último dia 18, em cerimônia religiosa não muito comum.
O evento aconteceu na chácara Recanto do Dragão, nas proximidades do município de Caldazinha-GO. A união foi celebrada por Luiz Fernando de Sales, diretor do Conselho Deliberativo da Federação de Umbanda e Candomblé do Estado de Goiás.  A benção foi dada pelos guias espirituais Dragão das Águas e Pai Joaquim de Arruda (padrinhos), que incorporaram no início do enlace para abençoá-los.
O ritual, segundo reportagem publicada no jornal Diário da Manhã, edição desta quinta-feira, encantou os convidados.

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Ao contrário do que muitos pensam – talvez influenciados pelo senso comum, que atribui somente a religiões ditas cristãs, em especial o Catolicismo, um caráter oficial – na Umbanda também existem sacramentos, tais como o batismo e o casamento. No entanto, a realidade é que poucos daqueles que se dizem umbandistas sabem disso ou, se sabem, não atentam para a importância de seguir os sacramentos dentro da religião que escolheu e que os acolheu.
Seria isso um desprezo pela própria religião? Ou uma forma de minimizar a importância daquilo que escolheu para si e que deveria nortear sua vida?
Talvez nem uma coisa nem outra. O fato é que, por diversos motivos, muitos deles históricos e outros tantos sociais, o próprio umbandista busca em outras religiões, como já foi dito, especialmente no Catolicismo, a oficialização de momentos importantes de suas vidas. É como se algumas situações exigissem o crivo católico, tradicional e bem quisto, para legitimar-se. É como se a Umbanda, apesar de toda a sua história de luta e resistência, não bastasse para sacramentar os momentos decisivos da vida de seus filhos. É como se o próprio umbandista não reconhecesse na Umbanda a sua autoridade espiritual.
A realidade é que muitos segmentos da sociedade ainda enxergam a Umbanda como um religião de pobres e desprovidos de cultura – note o ranço de preconceito – e, assim, ainda buscam em instituições que julgam oficiais, os sacramentos que facilmente encontrariam dentro da Umbanda.
Por outro lado, não há como atirar pedras naquele que realiza o casamento em outra religião, justamente porque ainda existe esse preconceito em torno das religiões que possuem um de seus pilares na África. Experimente alguém, de família não umbandista, realizar o seu enlace matrimonial dentro de um terreiro.
Quantos convidados comparecerão?
E, daqueles que comparecerem, quantos estarão ali realmente de coração (e mente) aberto ao ritual?
Quantos buscarão os pretextos mais fúteis para não comparecer?
E quais serão os comentários daqueles que comparecerem, após o ritual?
Ao final das contas, perante a sociedade, é como se o casamento não tivesse acontecido, por isso é compreensível que as pessoas, mesmo se dizendo umbandistas, procurem realizar seus casamentos dentro daquelas religiões que arriscamos chamar de mais tradicionais, mas que são, na realidade, mais aceitas pela sociedade. Concluímos assim que esses acontecimentos são mais sociais do que religiosos: trata-se da formalização de um rito de passagem, que assim sendo, necessita daquilo que é cobrado informalmente pela sociedade, e não daquilo que o coração e alma pedem.
Já é passado do momento do umbandista assumir sua religião em toda plenitude que ela pede e merece, fazendo valer os sacramentos, liturgias e tradições que a caracterizam. Embora seja sabido que a sociedade ainda possui fortes raízes no catolicismo (mesmo aqueles que não se declaram católicos), é importante ao umbandista fazer da Umbanda a sua filosofia de vida, sem medo ou vergonha, como forma de chamar para si e para seus irmãos-de-fé o respeito que tanto clamamos por anos e anos.


Douglas Fersan


Um comentário:

  1. adorei,achei a coisa mais linda um dia quando eu casar quero que seja tão lindo quanto esse.

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